A retirada de ocupações irregulares do Parque
Ecológico Ezechias Heringer e da Reserva Biológica (Rebio) do Guará tem o
objetivo de proteger a biodiversidade desses locais. Foto: Dênio Simões/Agência
Brasília
Segundo o Ibram, as ocupações irregulares na
unidade de conservação ameaçam espécies endêmicas, como o peixe pirá-brasília e
micro-orquídeas
Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília
A retirada de ocupações irregulares do Parque Ecológico
Ezechias Heringer e da Reserva Biológica (Rebio) do Guará, iniciada pelo governo
de Brasília na segunda-feira (9), tem
o objetivo de proteger a biodiversidade desses locais. Além disso, segundo o Instituto
Brasília Ambiental (Ibram), que orienta a remoção, ambos são fundamentais para
o equilíbrio ecológico do Cerrado.
As invasões ameaçam espécies endêmicas (que só ocorrem naqueles lugares)
da fauna, como o peixe pirá-brasília, e da
flora, como micro-orquídeas. A gerente de Parques do Ibram, Carolina Amário,
destaca que a qualidade ambiental é pré-condição para que elas não sejam
extintas. “O pirá-brasília, por exemplo, só existe onde a qualidade da água é
boa.”
Parte das 75 orquídeas endêmicas catalogadas foi descrita pelo botânico
e naturalista Ezechias Heringer, que pesquisou a região e deu nome ao parque e
a uma delas: a Habenaria heringeri. Descoberta em 1964, próximo à
região do Zoológico de Brasília, essa micro-orquídea é extremamente sensível a
perturbações ambientais e só ocorre em pontos muito preservados da vegetação
local.
Manter a integridade do meio ambiente também visa proteger as espécies
vegetais contra a introdução de exemplares exóticos ao Cerrado, como
eucaliptos. “Alguns não só se proliferam de forma muito rápida como também
impedem a regeneração das nativas”, explica a gerente de Parques do Ibram.
Segundo Carolina, outro efeito das irregularidades na reserva é o
despejo de esgoto e de matéria orgânica no Córrego do Guará, cuja nascente está
na reserva biológica. Essa grande oferta de nutrientes nas águas causa, por exemplo,
a proliferação de algas, como a vista em novembro, e o equilíbrio do riacho e
do Lago Paranoá — para onde ele aflui — ficam prejudicados. O aumento de
material orgânico em contato com as águas do córrego é provocado ainda pela
criação ilegal de porcos e de peixes.
As ameaças também partem de empresas que fixaram sede irregularmente no
local, como as que produzem materiais de construção (gesso e pré-moldados,
entre outros) e marmoraria. Dentro da poligonal da Rebio do Guará se encontram
ainda indústrias de produtos inflamáveis e um posto de gasolina, atividades que
podem contaminar severamente o lençol freático da região. Somados a esses
agentes, lixo e entulho, acumulados por catadores de recicláveis, afetam a
biodiversidade local.
Recuperação das áreas públicas observa condições ambientais
A desobstrução do Ezechias Heringer e da reserva biológica é feita de
forma a evitar a derrubada ou a destruição de árvores. Por isso, a entrada das
máquinas tem sido controlada, e os equipamentos usados, como tratores, são
menores. Além disso, a equipe de fiscalização do Ibram acompanha todas as fases
da retirada das invasões.
Para a remoção dos animais, como porcos, cavalos e cachorros, o governo
mobilizou servidores da Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento
Rural e do Centro de Controle de Zoonoses. A atuação deles foi necessária
porque os invasores tentaram abandonar os animais durante a operação. Assim,
alguns cachorros são encaminhados à Zoonoses, e a pasta da Agricultura indica
locais para abrigar os bichos provisoriamente.
Desde segunda (9), equipes da Agência de
Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) já
retomaram 180 mil metros quadrados de área pública no Parque Ezechias Heringer
e na Reserva Biológica do Guará. Foram retiradas cercas, construções
de madeirite e de alvenaria. A estimativa é que as invasões fixadas em uma área
de 5.473.283 metros quadrados sejam removidas em cerca de um mês.
Com 220 hectares, a Rebio é uma área de proteção integral que abriga a
nascente do Córrego do Guará. Ela foi criada por meio do Decreto nº 11.262, de 16 de setembro
de 1988, que deu origem à Reserva Ecológica do Guará, e do Decreto nº 29.703, de 17 de novembro
de 2008. Esse alterou a categoria de reserva ecológica para
biológica e, com isso, ampliou o perímetro protegido.
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Raquel Flores –
Agência Brasília