Na segunda etapa da Drácon, policiais civis retiraram escutas ambientais
que gravaram 10 dias de conversas em gabinetes de investigados
Gravações mostram que Celina e assessores investigaram Vigilante, rival
da ex-presidente da Câmara
Denúncia de venda de emenda parlamentar deve entrar em breve na pauta do
Tribunal de Justiça. Desembargadores vão analisar também pedido de afastamento
de cinco distritais do mandato parlamentar
*Por: Helena Mader - Matheus Ferreira,
Uma das operações policiais mais rumorosas da história política de
Brasília, a Drácon completou seis meses. O Conselho Especial do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal deve analisar em breve o recebimento da denúncia do
Ministério Público do DF contra cinco deputados acusados de envolvimento num
suposto esquema de venda de emendas. O prazo para apresentação das defesas já
se esgotou e falta apenas a manifestação da Procuradoria-geral de Justiça do DF
para que o processo seja analisado pelo Judiciário. Mas as apurações sobre o
escândalo estão longe de terminar e muitos desdobramentos do episódio ainda
estão por vir. Entre as dúvidas que pairam sobre a operação, está a
participação de empresários e a suposta destruição de provas antes da
deflagração da Drácon.
As
conversas captadas em escutas ambientais instaladas nos gabinetes de três
deputados distritais, Celina Leão (PPS), Cristiano Araújo (PSD) e Júlio César
(PRB), também vão municiar novas frentes de investigação. Os áudios foram
encaminhados ao Instituto de Criminalística da Polícia Civil do DF, para
degravação dos diálogos, a pedido do desembargador José Divino, relator da
denúncia, e do pedido de afastamento do cinco deputados de seus mandatos. O
argumento do Ministério Público é de que os distritais usam o mandato na Câmara
Legislativa e a CPI da Saúde para criar uma cortina de fumaça contra as
acusações de aprovação de uma emenda parlamentar para pagar dívidas com
empresas na área de UTIs em troca de propina.
Escutas
Na primeira etapa da Drácon, a Polícia Civil do DF instalou escutas nos
gabinetes dos investigados. Ontem, o Correio publicou, com exclusividade, parte
dos áudios captados nos 10 dias seguintes à deflagração da Drácon. Os diálogos
publicados pela reportagem são os de Celina e Cristiano Araújo com
interlocutores, entre aliados políticos e assessores. Nas conversas, os
deputados falam sobre estratégias de defesa, que incluem ataques a adversários.
Eles também analisam com assessores maneiras de reduzir os impactos do
escândalo na opinião pública e formas para barrar uma possível cassação de
mandato.
Nos dias
subsequentes à operação, Celina encontrou-se com pessoas que teriam denúncias
contra o deputado Chico Vigilante (PT) e contra o governador Rodrigo Rollemberg
(PSB). No período em que as escutas gravavam nos gabinetes, Celina recebeu, por
exemplo, Jefferson Rodrigues Filho, que invadiu e clonou o celular de
Rollemberg em 2016 para se passar pelo chefe do Executivo local e conseguir
benefícios. Numa conversa entre assessores da deputada, eles falam até em
conseguir um emprego para Jefferson Filho, caso ele repassasse informações
importantes sobre o socialista. Naquele dia, a equipe de Celina levou horas
montando uma estrutura para gravar o diálogo com o hacker.
Inimizade
A relação de inimizade com Vigilante também fica explicitada nas
conversas. Além de tê-lo chamado de “mentiroso”, ela recebeu a visita de uma
ex-funcionária do parlamentar que teria denúncias contra ele.
Já Cristiano Araújo reclama, diversas vezes, que tem mais gente
envolvida do que ele no esquema. “Não tamo (sic) nem um terço do que nego tá
enrolado”, diz. Em outro trecho, ele diz que será difícil encontrar um inocente
na Câmara Legislativa: “Vamos ser sinceros: ninguém aqui é virgem”.
Os áudios
também mostram as articulações dele para escapar de uma possível cassação e até
da prisão. A um assessor, ele relata um encontro com Leonardo Prudente, pai do
distrital Rafael Prudente (PMDB) que, àquela época, era o corregedor da Casa.
Celina
Leão garante que nunca teve a intenção de fabricar dossiês contra ninguém.
“Nunca fiz dossiê. Quem faz dossiê manda para os veículos da imprensa, coisa
que nunca fiz”, afirma. Ela também diz que nunca procurou ninguém para buscar
provas contra Rollemberg ou Vigilante. “Não fui atrás de nenhum estelionatário.
Ele veio ao meu gabinete. Como deputada, fiscal do povo, tenho a obrigação de
receber a população que me procura. A denúncia foi devidamente registrada e
encaminhada à Polícia Federal e ao Ministério Público”, disse. “Quanto à
assessora de Vigilante, também nunca a procurei. Fiz a gentileza de atendê-la
em meu gabinete. Fiz o registro da presença dela à Polícia Legislativa e
encaminhei cópia ao deputado”, garante.
Criatiano
Araújo disse ao Correio não se lembrar de ter encontrado Leonardo Prudente.
Sobre usar a CPI para atacar o governo, ele explicou que “àquela época, estava
em uma linha de enfrentamento com o governo, pela solicitação de demandas à
população”.
Chico
Vigilante reagiu com indignação às investigações de Celina Leão sobre sua
carreira política e a vida de familiares. “Essas gravações mostram que uma
quadrilha investigada na Operação Drácon se instalou na Câmara e usou a
política do gambá, que é tentar espalhar o fedor”, disse Vigilante.
A operação
foi realizada em 23 de agosto de 2016 e atingiu a cúpula da Câmara Legislativa.
A então presidente da Casa, Celina Leão, e os três secretários da Mesa
Diretora, Bispo Renato (PR), Raimundo Ribeiro (PPS) e Júlio César, foram alvos
de mandados de condução coercitiva e de busca e apreensão. Por determinação
judicial, todos foram afastados dos cargos de direção na Casa. Além deles,
Cristiano Araújo também teve que prestar depoimentos e acabou denunciado em
decorrência do escândalo, assim como o ex-secretário-geral da Câmara Valério
Neves.
“Nunca fiz dossiê. Quem faz dossiê manda para os veículos da imprensa, coisa
que nunca fiz”
Celina Leão, deputada distrital (PPS)
“Uma quadrilha investigada na Operação Drácon se instalou na Câmara e usou a
política do gambá, que é tentar espalhar o fedor”
Chico Vigilante, deputado distrital (PT)
(*) Helena Mader - Matheus Teixeira - Fotos: Andrá
Violatti-Esp-CB/D.A. Press - Correio Braziliense
MP apura acusação contra Faraj
Por Matheus Ferreira,
Ex-servidor apontou desvios de verba indenizatória
A deputada distrital Sandra Faraj (SD) é o novo alvo de investigação do
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). A
vice-procuradora-geral de Justiça do DF, Selma Sauerbronn, pediu à Câmara
Legislativa cópias das informações dadas pelo ex-servidor da Casa Filipe
Coimbra sobre supostas irregularidades realizadas pela distrital com recursos
da verba indenizatória.
Com base
nessas informações e em novas diligências, o Ministério Público deverá decidir
se apresenta ou não denúncia por desvios de recursos contra a deputada.
Coimbra
era lotado no gabinete de Sandra e ganhava R$ 11 mil mensais enquanto a empresa
de sua esposa, Michelly Nogueira, que fez a denúncia, prestava serviço à
parlamentar. Representante da Netpub Agência de Comunicação e Tecnologia,
Michelly afirma que a distrital contratou a empresa, não pagou e, mesmo assim,
apresentou notas fiscais num total de R$ 174 mil pedindo ressarcimento do valor
à Câmara. A denúncia veio à tona em reportagem da TV Globo.
Além de
requerer toda a documentação de Faraj que envolve as verbas indenizatórias, o
MPDFT também pediu esclarecimentos sobre empregados da Casa com vínculo com
empresas contratadas pelos deputados. A vice-procuradora-geral de Justiça quer
saber como funciona a fiscalização da Casa para saber se realmente todos os
serviços declarados nas verbas indenizatórias foram prestados.
No
despacho, Selma Sauerbronn afirma que “as informações serão usadas para
instruir procedimento de investigação criminal destinado a apurar suposta
prática de crime pela deputada e pelo ex-servidor”.
O
contrato entre a deputada e a empresa teria sido celebrado em fevereiro de
2015. A Netpub seria responsável por criar um sistema de informática para o
gabinete e o pagamento seria feito em seis parcelas de R$ 15 mil e outras seis
de R$ 14 mil. Depois de três meses sem receber, porém, a empresa parou de trabalhar
para a distrital. Mesmo assim, a distrital apresentou à Câmara notas fiscais
dos serviços prestados pela Netpub por 12 meses.
Sobre a
denúncia, em nota, a assessoria de comunicação de Sandra Faraj informou que
“causa estranheza e perplexidade o fato de a empresa alegar falta de pagamento
apenas um ano após a rescisão de contrato, sobretudo quando a própria agência
emitiu as notas fiscais e atestou o recebimento, inexistindo qualquer ação
judicial prévia de cobrança ou execução”. A distrital apresentou uma
queixa-crime contra o empresário.
A
Organização Adote um Distrital também quer explicações sobre o episódio. A
entidade que fiscaliza a atuação dos deputados pediu à Câmara uma investigação
sobre os gastos de Sandra Faraj com a verba indenizatória. A depender dos
fatos, a representação pode provocar um pedido de abertura de processo por
quebra de decoro parlamentar contra a distrital.
Rompimento
Na semana passada, Faraj foi criticada pelos deputados que integraram o
grupo que elegeu Joe Valle (PDT) presidente da Câmara, em dezembro. Faraj
rompeu com o grupo e se aliou à bancada aliada ao governador Rodrigo Rollemberg
para a eleição dos membros e presidentes das comissões permanentes.
Esse
movimento causou uma reação entre deputados que passaram a hostilizá-la e a
defender nos bastidores o andamento do pedido de cassação contra a deputada
pelas denúncias de uso irregular da verba indenizatória.
Faraj
alegou que o acordo fechado na eleição da Mesa Diretora valia apenas para
aquela ocasião. Num outro arranjo político, ela optou por seguir com
Rollemberg.
(*) Matheus Ferreira – Foto:Jhonatan Ferreira –Esp-CB/D.A. Press- - Correio
Braziliense