As visitas guiadas são gratuitas e podem ser feitas
em inglês, francês e espanhol, com acesso à maioria dos pavimentos. O público
também pode se deliciar com os jardins internos de Burle Marx, um dos pontos
altos do passeio
O Correio acompanha a visita guiada oferecida pelo
Palácio Itamaraty, prédio de Oscar Niemeyer que completa 50 anos em 2017. O
passeio encanta não só pela variedade de esculturas, quadros, jardins e
tapeçaria, mas também pela beleza arquitetônica do edifício
*Por Renato Alves,
O Palácio Itamaraty encanta quem passa
pela Esplanada dos Ministérios. Projetado por Oscar Niemeyer e com paisagismo
de Burle Marx, o edifício também impressiona por dentro. O seu interior
conserva centenas de obras de arte e mostra a complexidade e a leveza daquela
que é considerada uma das maiores maravilhas da arquitetura moderna.
O acesso ao rico acervo do Ministério
das Relações Exteriores (MRE) não está restrito aos diplomatas brasileiros e
estrangeiros. No dia seguinte à cerimônia oficial de inauguração do Itamaraty,
em 14 de março de 1967, o prédio foi aberto ao público, tradição que permanece
inalterada nesses 50 anos.
Especializados em história, arte e
arquitetura, servidores bem treinados do MRE comandam visitas todos os dias da
semana. O turista estrangeiro pode agendar uma visita guiada em inglês, francês
e espanhol, muitas vezes, para o mesmo dia. Tudo de graça.
O Correio acompanhou uma visita, em um
sábado, dia de maior público. Em meio a brasileiros das cinco regiões, havia
quatro jovens franceses com máquinas fotográficas penduradas no pescoço.
Demonstraram não entender nada do que o guia dizia em português, mas clicaram
tudo o que era permitido.
Informalidade
A entrada é pela lateral do prédio,
passando pelos jardins entre o Itamaraty e o Ministério da Saúde. Ao entrar no
palácio, funcionários dão as boas-vindas e informam o horário do próximo tour.
O visitante é convidado a assinar um livro de presença e dispensado de qualquer
revista. Apesar da pomposidade do prédio, pode-se entrar de sandálias, saia e
bermuda no fim de semana. Esses itens são vetados durante a semana.
Após a espera em uma das confortáveis
cadeiras com almofadas de couro, desenhadas especialmente para a decoração do
palácio, o guia se apresenta ao grupo. A visita começa no térreo, no maior vão
da América Latina. Com 2,8 mil metros quadrados, além de não ter colunas, a
estrutura só tem paredes nas laterais. Esse também é um dos espaços dedicados
às fotos dos visitantes. Além do vão, só em outra área aberta à visita é
permitido fazer imagens no interior do palácio.
As paredes são cobertas por alguns dos
tantos painéis de Athos Bulcão espalhados pelo edifício. Todo o piso também é
assinado pelo autor dos azulejos que revestem diversos monumentos da capital.
Marca das suas obras, as pedras por onde andam os visitantes têm tamanhos
diferentes e foram instaladas de forma descontinuada.
A frente do vão é cercada pelos vidros
que se vê da rua. Ao fundo, fica um jardim aquático de Burle Marx, com plantas
da Amazônia, que amenizam o calor e a seca. No centro do salão, encontra-se a
famosa escada e obras de diversos artistas. Uma delas, a escultura Ponto de
Encontro, de Mary Vieira, é interativa. Qualquer um pode alterar a posição das
pesadas chapas de ferro da obra.
Mesa dos tratados
Subindo a escada helicoidal sem corrimões,
os visitantes chegam ao segundo piso. Nele, são realizadas entregas de medalhas
e da Condecoração da Ordem do Rio Branco. Após essa explicação, o turista é
convidado a observar a obra Metamorfose, de Franz Weissmann. Formada por placas
de ferro cortadas, a escultura dá a sensação de movimento conforme o espectador
anda pelo local.
Um painel em madeira de Athos Bulcão
divide o espaço com a sala dos tratados. Os detalhes coloridos (preto, vermelho
e amarelo) da Treliça representam os povos que formaram o brasileiro: o negro,
o indígena e o europeu. Atrás dela fica a mesa onde são firmados os acordos e
tratados internacionais. Nela, a Princesa Isabel assinou a abolição da
escravatura no Brasil, em 13 de maio de 1888.
Niemeyer projetou essa sala para ficar
de frente para o Ministério da Justiça (Palácio da Justiça), com vista geral
graças à parede de vidro do Itamaraty. A ideia é que a Justiça brasileira
testemunhe todos os tratados firmados pelo Brasil com outros países. Nesse
andar ficam também o gabinete do ministro e do secretário-geral (inacessíveis
aos visitantes).
Coquetéis e jantares
O tour segue por outra escada. Ela leva
ao terceiro andar, destinado às recepções das comitivas internacionais, que
podem ir de um simples coquetel a um completo jantar. Mas há muito mais do que
mesas e cadeiras. Os salões desse pavimento são tomados por obras de arte
brasileiras e alguns presentes oferecidos por outros países ao Brasil.
No primeiro deles, a Sala Dom Pedro I,
estão expostas uma peça de óleo sobre tela retratando a coroação do monarca,
uma miniatura do Grito do Ipiranga, de Pedro Américo, a Pomba da Paz, de João
Alves Pedrosa, e um dos maiores tapetes persas do mundo (70m²).
Ao lado, fica a Sala Portinari, a maior
de coquetel do Itamaraty, onde duas obras representam o Sul e o Nordeste do
Brasil: Os Gaúchos e Os Jangadeiros. Há, ainda, dois anjos talhados em madeira
do estilo barroco. Feitos em 1737, eles pertenciam à Igreja de São Pedro dos
Clérigos, demolida para a abertura da Avenida Presidente Vargas, no Rio de
Janeiro
A sala seguinte, batizada de Duas
épocas, mescla móveis do século 18, como o jogo de cadeiras da Princesa Isabel
e cômodas do Barão de Rio Branco, com obras de arte contemporâneas, como A
Mulher e sua Sombra, de Maria Martins.
Contemplação
Depois, o visitante tem um momento para
descanso, de contemplação e mais fotos. O guia faz uma parada de até 10 minutos
no terraço, onde ficam diversas esculturas e um jardim suspenso de Burle Marx.
Dali, também se tem uma vista espetacular da Esplanada dos Ministérios.
Em seguida, o grupo é reunido e levado
à Sala Brasília, a maior do pavimento, destinada às recepções mais numerosas.
Ela comporta 234 pessoas sentadas para refeições servidas com uma obra de Burle
Marx em tapeçaria ao fundo e um biombo chinês da Dinastia Ming do século 14
(obra mais antiga do acervo do Palácio).
É o ponto final do tour. Mas o guia
ainda permite mais uma parada para os turistas admirarem de perto o quadro de
Pedro Américo que serviu de estudo para a sua obra-prima, a gigantesca tela
Grito do Ipiranga, exposta no Salão Nobre do Museu Paulista, em São Paulo, e
onipresente nos livros de história do Brasil.
Auditório
A escada também liga o subsolo (outra
área que a visita não permite conhecer), onde fica um auditório com tradução
simultânea, usado em eventos com os representantes de outros países.
Programe-se
As visitas ao Palácio Itamaraty ocorrem
todos os dias e são gratuitas:
Dia e hora
Durante a semana: às 9h, às 10h, às
11h, às 14h, às 15h, às 16h e às 17h.
Nos fins de semana e feriados: às 9h,
às 11h, às 14h, às 15h e às17h
Agendamento
É recomendável agendar a visita, pois
as vagas são limitadas. Para isso, mande um e-mail para visita@itamaraty.gov.br
ou ligue para (61) 2030-8051. Você precisará informar o nome das pessoas que
participarão do tour e um telefone para contato.
(*) Renato Alves – Fotos: Minervino Junior/CB/D.A.Press – Gustavo
Moreno/CB/D.A.Press – Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press – Correio Braziliense