"O APELO DE JUSCELINO (JK) - O BRASILEIRO VISIONÁRIO"
Em 15 de junho de 1960, (Foto do bilhete) menos de dois meses depois da inauguração, em bilhete enviado a Rodrigo Melo Franco Andrade, chefe do Patrimônio Histórico, JK já pedia o tombamento.
"A única defesa para Brasília está na preservação do seu Plano Piloto. Pensei que o tombamento do mesmo poderia constituir elemento seguro, superior às leis que estão no Congresso e sobre cuja aprovação tenho dúvidas. Peço-lhe a fineza de estudar esta possibilidade, ainda que forçando um pouco a interpretação do patrimônio. Considero indispensável uma barreira às investidas demolidoras que já se anunciam vigorosas. Grato pela atenção."
James Holston, professor de antropologia na Universidade da Califórnia em Berkeley, é enfático quando afirma que “pessoalmente, já era contra uma representação política em nível de Governo Estadual no Distrito Federal, a Constituição de 1988 estabeleceu esse preceito e agora sofremos o que JK quis evitar!”
Dos integrantes da Câmara Legislativa do DF, grande parte desconhece a história da mudança da capital do Brasil para o Planalto Central e as dificuldades encontradas para a sua construção. Além disso, não têm referências sobre a vida dura dos Candangos trabalhadores, ou sequer imaginam as agruras porque passaram os Pioneiros até a sua inauguração.
Sendo um desses Pioneiros, cheguei aqui em 1958, e me preocupo demais com o quadro que hoje se verifica em nossa amada Capital; com essa desvairada e iconoclasta esculhambação, com essas sistemáticas agressões ao tombamento da cidade, geradas pela ganância imobiliária, pela irresponsabilidade, etc.
Vejo que somente a implantação do VOTO DISTRITAL poderia evitar a propagação desses descalabros, viabilizando a proteção desse inestimável patrimônio, que não é só nosso, é de toda a humanidade. Os nossos deputados, distritais e federais, são eleitos em sua maioria por eleitores que, assim como eles, também desconhecem nossa história. São em grande quantidade eleitores com pouco tempo de moradia no Distrito Federal, e o conjunto formado por eles - parte dos eleitores e políticos - é desastroso para a preservação deste patrimônio da humanidade.
Acho muito difícil a aprovação no congresso da tão esperada reforma política, mas quero já deixar minha observação e indignação com o que se vem tentando fazer em relação ao tombamento da cidade.
O Executivo local (GDF) criou, numa tentativa de fiscalizar das ações contra o tombamento, o PPCUB-Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília. "Trata-se de uma lei que deverá orientar a população e o poder público com diretrizes de uso e ocupação e ações para o resguardo dos princípios fundamentais do plano urbanístico de Brasília, cuja poligonal t ombada compreende as regiões administrativas Plano Piloto, Candangolândia, Cruzeiro e Sudoeste/Áreas Octogonais.", devendo ser estudado e repensado por uma Comissão na Câmara Legislativa do Distrito Federal; e depois votado, ainda neste ano de 2013. Pura enganação!
Nesse PPCUB há um interesse forte para que sejam mudados os gabaritos de edificações na quadra 901 Norte, hoje estabelecidos em 3 (três) andares, para mais de 65 metros de altura (espigões); e, nos setores hoteleiros norte e sul, onde há os pequenos hotéis de 3 (três) andares, os gabaritos passariam para 12 (doze) andares. Um absurdo que permitirá aos mais escusos interesses o faturamento de vários milhões de reais ao custo da descaracterização da cidade que tanto amamos.
Com o chamado “Voto Distrital” cada deputado, mormente o distrital, representaria sua respectiva região, onde vive e é domiciliado, sendo conhecedor dos seus problemas. Imagino que os representantes do Plano Piloto se elegeriam em maior quantidade por estarem na zona eleitoral de maior número de votantes, transformando-se inevitavelmente, pelas características do mandato do qual estarão investidos, em defensores do tombamento, que em hipótese alguma devemos permitir que seja vilipendiado.
O IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e Ministério Público fazem o possível na fiscalização, mas sem a força de nós brasilienses e interessados direto na questão, fica difícil mantermos o que é nosso por direito, Brasília com patrimônio histórico da nação.
(Chiquinho Dornas)