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Tranquilidade passa a vez para a insegurança no Cruzeiro


O assassinato de dois irmãos no Cruzeiro Velho, na última quinta-feira, levantou a discussão sobre a segurança da região, tradicionalmente conhecida por sua tranquilidade. Para alguns pioneiros, a cidade não é a mais mesma de alguns anos atrás. A administração da região administrativa, em contrapartida, ressalta que o assassinato é um caso isolado e enaltece a harmonia da área.

Dados da Secretaria de Segurança Pública  (SSPDF) revelam que até novembro de 2013 foram registradas 184 ocorrências de furtos em residência, veículos e comércios. Já em relação aos homicídios, a cidade, que não registrou   ocorrências em 2013, já começou o ano com um duplo assassinato.

Na noite de quinta, dois irmãos foram mortos dentro da própria residência, na Quadra 4. Outro irmão das vítimas, de 23 anos, também foi baleado no rosto e no peito. Ele foi levado para o hospital,   submetido a uma cirurgia e passa bem.

Segundo testemunhas, os suspeitos estavam dentro de um Vectra preto, que  foi estacionado  em um beco próximo à casa. Os criminosos teriam andado até a residência e atiraram nas vítimas  – duas estavam sentadas no sofá e outra estava no chão da sala. O caso está sendo investigado pela 3ª DP (Cruzeiro Velho), que  optou por não dar mais detalhes do caso. 

Medo
A população se assustou com o crime. Residente na cidade há 20 anos, o aposentado Liszt Lemos, 60 anos, avalia que a cidade mudou para a pior. “Minha casa já foi furtada. Depois disso, investi na segurança. Além do dano material, há a sensação de invasão”, afirma.
Lemos lamenta a perda da naturalidade nas ações do dia a dia. “Eu não conheço os meus vizinhos. Entro em casa e não vejo o que acontece mais lá fora. É como se, para sobreviver, fosse obrigado a viver em uma prisão”, disse.

O aposentado, pai de dois adultos, salienta que a rotina dos netos é muito diferente do cotidiano de seus filhos na infância. “Meu neto tem 13 anos, mora muito perto da minha casa, mas nós não o deixamos vir de bicicleta, por exemplo”, pontua. “Jogar bola na rua, então, nem pensar”, diz.
Segundo ele, o aumento da sensação de insegurança está atrelado ao crescimento da cidade. “Eu não tenho preconceito com pessoas de outra cidade, mas a gente vê que alguns criminosos  vêm praticar crimes aqui”, pontua.

Sensação de insegurança vem do todo
A opinião do aposentado Liszt Lemos,de que a cidade não é mais a mesma, não é totalmente compartilhada pelo professor Ricardo Nogueira, 47 anos. “Moro aqui há 37 anos e vejo que não mudou tanto. Os moradores adquirem o medo da criminalidade em função da situação do DF como um todo”, relata. Contudo, o professor relata que um dos principais problemas do Cruzeiro é o tráfico de drogas. “Quando acontece algum crime é em decorrência da briga de gangues. Mas, sem dúvida, nessas situações os moradores ficam com medo”, diz.

Para Ricardo, um dos fatores que contribuem para que a criminalidade não se alastre no Cruzeiro é a sua limitação física. “Não temos mais para onde crescer. Logo, não há possibilidade de uma grande mudança no perfil dos moradores”, afirma.

Para o professor, no entanto, o baixo quantitativo de crimes não é garantia de segurança total. “Nunca dá para saber, né? Sempre oriento minhas filhas a tomar cuidado. Antes de chegar em casa, por exemplo, olhar se tem alguém estranho na rua”, declara Ricardo Nogueira.
Ações
“Temos ações permanentes para melhorar a segurança. Revitalizamos mais de 80% das praças nos últimos dois anos. Elas estão iluminadas e mais seguras”, ressalta o administrador da cidade, Antônio Sabino. Ele destaca que os últimos assassinatos não representam o cenário real do Cruzeiro. “Foram situações isoladas, com certeza. “Na nossa cidade não existe violência. Os números comprovam isso”, declara. 

Fuga após o crime
O local do duplo assassinato e da tentativa de homicídio foi periciado pela Polícia Civil. A Polícia Militar foi acionada por populares logo após o crime, mas quando a equipe chegou ao local, os bandidos já tinham fugido. Vizinhos relataram que as vítimas eram pessoas tranquilas. Os corpos dos dois irmãos serão enterrados na cidade de origem deles,  Formosa (GO), na Região Metropolitana do DF.
Problemas com drogas
Segundo a cabeleireira Marta Alves, 43 anos, os casos de furto na cidade são rotineiros. “Outra dia o carro da minha amiga quase foi roubado. Os bandidos só não levaram porque ela reagiu”, conta. 

“Além desse episódio, sempre fico sabendo de pessoas vítimas de violência”, disse.
Moradora do Cruzeiro há mais de 30 anos, ela diz que a vida hoje é muito diferente. “Antes eu ficava na rua, conversava com meus vizinhos, deixava a porta aberta. Hoje, não deixo meu filho sequer sair de casa”, afirma Marta, mãe de um adolescente de 13 anos.

Para ela, a alternativa para melhorar o quadro atual é a presença efetiva de policiais. “À noite não tem um policial na rua. Se um criminoso te abordar, certamente não vai aparecer um policial para te socorrer”, completa.
Tráfico
No comércio, a situação é parecida. Segundo a comerciante Fátima Freitas, 36 anos, o tráfico e uso de drogas ocorrem à luz do dia. “Todo dia, no mesmo horário, a cena se repete. Na maioria das vezes, são pessoas com alto poder aquisitivo que vêm comercializar drogas”, salienta.
Em função dos riscos, a comerciante conta que resolveu trabalhar atrás das grades. “É a solução. Drogas acabam levando para outros crimes. Estamos muito vulneráveis”, pontua Fátima. “Só fui conhecer a criminalidade do Cruzeiro quando comecei a trabalhar com comércio”, conclui.
O relato da comerciante encontra eco nos números oficiais da Secretaria de Segurança Pública do DF: até novembro de 2013 foram registradas 15 ocorrências de tráfico de drogas. Contudo, a pasta frisa que o índice é positivo, tendo em vista que se trata de produção policial.
Problema nacional
O administrador da cidade ressalta que a presença das drogas é um problema amplo e, portanto, não pode ser tratado como exclusividade da cidade. “A droga é uma chaga e só pode ser controlada com políticas públicas”, reitera Antônio.
Ponto de Vista
Para o especialista em segurança pública Nelson Gonçalves, o que a população diz e pensa não é exatamente o que acontece na prática. “Existem dois fenômenos que afetam a vida das pessoas: medo do crime e sensação de insegurança”, diz. “Por ouvir dizer, escutar, ler os jornais e por ter contatos com pessoas de outras regiões, elas têm medo disso refletir na vida delas e receio de que isso possa acontecer consigo”, complementa. De acordo com o especialista, apesar dos baixos índices, não é possível ter certeza de que os crimes não ocorrerão. “Não dá para ter essa garantia. Aliás, essas situações eventuais precisam ser investigadas do ponto de vista científico”, conclui.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília - Patrícia Fernandes


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