O jornalista Ari Cunha, decano da imprensa de Brasília, diretor do Correio Braziliense, usou sua pena – era assim que se dizia antigamente – para tripudiar sobre o governador Agnelo Queiroz.
Veja o texto editado no blog Visto, Lido e Ouvido:
Agnelo Queiroz governador do DF e toda a cúpula petista, ainda não se atinaram para o risco que corre a democracia e a própria república dos atos que levaram à prisão os principais dirigentes de seu partido. A omissão é até do próprio partido, porque artigos previstos no Estatuto partidário orientam para a punição pelos crimes praticados.
Pelas regras partidárias o afastamento dos implicados seria imediato até a conclusão do inquérito. A inobservância desse conjunto disciplinador interno, já por si, apontava para o desdém que seus dirigentes devotam à todas as normas e leis que contrariem suas ambições imediatas. É um desrespeito com os filiados que acreditavam em uma mudança radical nesse tipo de atitude. Quem é à favor, é conivente.
Ao fazer uma visita oficial ao presidiário José Dirceu, com todo o staff que o acompanha, em horário de expediente e de modo escamoteado, o governador do DF inseriu o Poder Executivo Local, que ele representa, no mesmo baú de ofensas e desrespeitos com que o PT vem assacando contra o Supremo Tribunal Federal.
A visita que podia muito bem ser feita fora do horário de trabalho, em caro particular e com respeito às normas de visita da Papuda, não despertaria nem o interesse da imprensa, nem a indignação da população. Ao se dirigir até ao presídio, onde ele raríssimas vezes esteve em outras ocasiões, o governador deixou à vista de todos, um rastro de mensagens que não cabe neste espaço.
Primeiramente levou ao criminoso um aval da população que ele representa. Também deixou clara a discordância do Poder Executivo local contra as condenações pelo STF. Deixou também claro seu servilismo aos dirigentes da sigla. Introduziu em seu gabinete os mesmos vícios presentes na cúpula de seu partido de negligência com a verdade. Acentuou as denúncias de proteção e mordomias indevidas aos correligionários presos.
Expôs ao ridículo o GDF, ao privilegiar este e não a todos privados de liberdade. Misturou o ofício do cargo com militância. Deu mau exemplo aos jovens, estendendo o tapete vermelho àqueles que durante o período de cumprimento das penas não merecem. Mas o pior de tudo foi precisar esconder. Amigos de verdade se assumem, custe o que custar.
É preciso respeitar os poderes. Não se valer deles para tirar proveito próprio. Os votos que um político recebe são um crédito para o futuro do país, não para benesses pessoais. O óbvio precisa ser dito. No Supremo Tribunal Federal há os ministros que não abrem mão da responsabilidade que lhes foi confiada. Não dão as costas para o país, para a democracia ou para a segurança jurídica. Basta ler as longas sentenças proferidas pelos ministros do STF. Para entender a situação do país.
O ministro Celso de Mello registra o seguinte: “Ao contrário do que esses embargantes afirmaram, torna-se necessário reconhecer que “a maior farsa da história política brasileira” residiu, isso sim, Senhor Presidente, nos comportamentos moralmente desprezíveis, cinicamente transgressores da ética republicana e juridicamente desrespeitadores das leis criminais de nosso País, perpetrados por delinquentes, agora condenados definitivamente, travestidos da condição de altos dirigentes governamentais, políticos e partidários, cuja atuação dissimulada ludibriou, acintosamente, o corpo eleitoral, fraudou, despudoradamente, os cidadãos dignos de nosso país, fingindo cuidar, ardilosamente, do interesse nacional e dos partidos políticos que integravam, quando, na realidade, buscavam, por meios escusos e ilícitos e mediante condutas criminosamente articuladas,corromper o exercício do poder, ultrajar a dignidade das instituições republicanas, apropriar-se da coisa pública, dominar o Parlamento, controlar, a qualquer custo, o exercício do poder estatal e promover, em proveito próprio ou alheio, a obtenção de vantagens indevidas… “Em suma: não se condenaram atores ou dirigentes políticos e/ou partidários, mas, sim, autores de crimes…”
Resta saber se a volta à sociedade depois da punição terá alguma diferença na consciência dos envolvidos.
Com a palavra, o leitor.
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Fonte: Notibras - Publicado em