Cidadãos que precisam cruzar vias perigosas, como a Epia e a BR-070, reclamam da falta de manutenção e segurança nas estruturas de travessia aérea. Especialistas condenam as principais falhas encontradas nos locais, como iluminação precária e placas soltas.
Sobre a BR-040, a principal reclamação dos usuários da passagem é a falta de iluminação: pedestres são vítimas constantes de assaltos.
Por: Roberta Pinheiro - Correio Braziliense - 05/03
Proporcionar a travessia apropriada e segura ao pedestre é obrigação do Estado prevista no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Mas, no Distrito Federal, essa garantia está esquecida, seja pela falta de passagens, seja pela precariedade das estruturas existentes. Instaladas sobre rodovias movimentadas, boa parte das passarelas aéreas estão em péssimas condições. A ferrugem corrói as partes metálicas. Algumas placas estão soltas. A falta de iluminação aumenta o risco para os usuários e facilita a vida dos assaltantes que rondam quem se atreve a percorrer o trecho. Por outro lado, ainda é grande o número de pedestres que ignoram a passagem e se arriscam entre os carros.
O Correio percorreu passarelas de Candangolândia, Park Way, Valparaíso, Jardim Ingá, Ceilândia e acompanhou de perto as dificuldades enfrentadas pelos usuários. Ouviu reclamações de toda natureza. Na altura da Candangolândia e do Park Way, ao longo da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), a principal queixa da população é a falta de cobertura. “A gente fica muito exposto a tudo o que acontece. Poderia ter pelo menos uma proteção”, relata Alexandra Martins, 31, que há cinco anos trabalha próximo à passarela e todos os dias percorre o mesmo caminho sob sol ou chuva.
De acordo com Dickran Berberian, professor de engenharia da Universidade de Brasília e da Faculdade Iesplan e patologista de edificações, a cobertura é recomendável. “A exposição da estrutura contribui no processo de corosão, que diminui substancialmente a vida útil das passarelas e pode provocar acidentes graves, como soltura de placas”, explica. A colocação de um teto também facilita o uso de equipamento de iluminação e vigilância.
Outra evidência do descaso do poder público com as passarelas pode ser visto na Candangolândia. Lá, a estrutura virou ponto de venda de comida, roupas e sapatos. Uma mulher que vende café, pão de queijo, rosquinhas e salgados levou até uma mesa para o local. “Eu vendia lá embaixo, mas chegou outra pessoa e ocupou o lugar. Resolvi subir porque as pessoas precisam passar por aqui de qualquer jeito. Esse lugar virou o meu ganha-pão”, justifica a comerciante, que não quis se identificar.
Risco
Em Ceilândia, a estrutura é toda de aço. A ferrugem castiga a construção, e o piso representa um risco real para os pedestres. Uma das placas está solta. Quando a pessoa pisa, ela abaixa, deixando o asfalto lá embaixo à vista. À noite ou nas primeiras horas da madrugada, a escuridão toma conta. Os postes que iluminam a rodovia são insuficientes para destacar o caminho de quem não quer se arriscar entre os carros.
Enquanto a reportagem estava no local, Delvair Porfírio Rosa, 41 anos, ignorou a passagem e atravessou a BR-070 correndo até o ponto de ônibus. “Sempre que estou atrasado, faço isso. Quando passo lá em cima, preciso desviar das partes soltas”, relata. A cena é comum e se repete em todos os pontos visitados pelo Correio. Mulheres puxam crianças pelo braço, ciclistas correm e empurram a bicicleta. Os argumentos são sempre os mesmos: a pressa ou o medo de assalto.
Em alguns pontos, o vão entre as barras é grande e representa um risco, especialmente para as crianças. Além do corrimão, o uso das telas de proteção é fundamental. “É necessário cobrir e fechar lateralmente uma passarela com tela para evitar que vândalos e assaltantes atirem objetos na rua. Isso deve ser feito sem interferir a visibilidade para a rua e vice-versa. A má visibilidade aumenta a possibilidade de assalto e desencoraja os pedestres a usarem a passarela”, explica Emilio Façanha Mamede Neto, engenheiro civil, especialista em avaliação e perícia de estruturas e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-DF).
Acesso fácil
Outro alerta dos especialistas é quanto à questão da acessibilidade. É essencial que os projetos atendam as exigências prescritas na Norma ABNT NBR 9050, que fala do acesso de pessoas de deficientes a edificações, espaço mobiliário e equipamentos urbanos.
Sobre a BR-040, a principal reclamação dos usuários da passagem é a falta de iluminação: pedestres são vítimas constantes de assaltos.
Por: Roberta Pinheiro - Correio Braziliense - 05/03
Proporcionar a travessia apropriada e segura ao pedestre é obrigação do Estado prevista no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Mas, no Distrito Federal, essa garantia está esquecida, seja pela falta de passagens, seja pela precariedade das estruturas existentes. Instaladas sobre rodovias movimentadas, boa parte das passarelas aéreas estão em péssimas condições. A ferrugem corrói as partes metálicas. Algumas placas estão soltas. A falta de iluminação aumenta o risco para os usuários e facilita a vida dos assaltantes que rondam quem se atreve a percorrer o trecho. Por outro lado, ainda é grande o número de pedestres que ignoram a passagem e se arriscam entre os carros.
O Correio percorreu passarelas de Candangolândia, Park Way, Valparaíso, Jardim Ingá, Ceilândia e acompanhou de perto as dificuldades enfrentadas pelos usuários. Ouviu reclamações de toda natureza. Na altura da Candangolândia e do Park Way, ao longo da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), a principal queixa da população é a falta de cobertura. “A gente fica muito exposto a tudo o que acontece. Poderia ter pelo menos uma proteção”, relata Alexandra Martins, 31, que há cinco anos trabalha próximo à passarela e todos os dias percorre o mesmo caminho sob sol ou chuva.
De acordo com Dickran Berberian, professor de engenharia da Universidade de Brasília e da Faculdade Iesplan e patologista de edificações, a cobertura é recomendável. “A exposição da estrutura contribui no processo de corosão, que diminui substancialmente a vida útil das passarelas e pode provocar acidentes graves, como soltura de placas”, explica. A colocação de um teto também facilita o uso de equipamento de iluminação e vigilância.
Outra evidência do descaso do poder público com as passarelas pode ser visto na Candangolândia. Lá, a estrutura virou ponto de venda de comida, roupas e sapatos. Uma mulher que vende café, pão de queijo, rosquinhas e salgados levou até uma mesa para o local. “Eu vendia lá embaixo, mas chegou outra pessoa e ocupou o lugar. Resolvi subir porque as pessoas precisam passar por aqui de qualquer jeito. Esse lugar virou o meu ganha-pão”, justifica a comerciante, que não quis se identificar.
Risco
Em Ceilândia, a estrutura é toda de aço. A ferrugem castiga a construção, e o piso representa um risco real para os pedestres. Uma das placas está solta. Quando a pessoa pisa, ela abaixa, deixando o asfalto lá embaixo à vista. À noite ou nas primeiras horas da madrugada, a escuridão toma conta. Os postes que iluminam a rodovia são insuficientes para destacar o caminho de quem não quer se arriscar entre os carros.
Enquanto a reportagem estava no local, Delvair Porfírio Rosa, 41 anos, ignorou a passagem e atravessou a BR-070 correndo até o ponto de ônibus. “Sempre que estou atrasado, faço isso. Quando passo lá em cima, preciso desviar das partes soltas”, relata. A cena é comum e se repete em todos os pontos visitados pelo Correio. Mulheres puxam crianças pelo braço, ciclistas correm e empurram a bicicleta. Os argumentos são sempre os mesmos: a pressa ou o medo de assalto.
Em alguns pontos, o vão entre as barras é grande e representa um risco, especialmente para as crianças. Além do corrimão, o uso das telas de proteção é fundamental. “É necessário cobrir e fechar lateralmente uma passarela com tela para evitar que vândalos e assaltantes atirem objetos na rua. Isso deve ser feito sem interferir a visibilidade para a rua e vice-versa. A má visibilidade aumenta a possibilidade de assalto e desencoraja os pedestres a usarem a passarela”, explica Emilio Façanha Mamede Neto, engenheiro civil, especialista em avaliação e perícia de estruturas e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-DF).
Acesso fácil
Outro alerta dos especialistas é quanto à questão da acessibilidade. É essencial que os projetos atendam as exigências prescritas na Norma ABNT NBR 9050, que fala do acesso de pessoas de deficientes a edificações, espaço mobiliário e equipamentos urbanos.