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BRASÍLIA-DF: PEDALAR É UM RISCO DE DIA E DE NOITE

Detran mostra que, dos 528 acidentes fatais envolvendo bicicletas, de 2003 a 2013, metade aconteceu entre as 18h e as 5h59. Número de óbitos diminuiu 60,8% no período, mas quem pedala pelas vias do DF reclama da insegurança.
Ciclistas à noite na Esplanada: a queixa maior deles é sobre a falta de sinalização e iluminação das vias.
Pedalar em Ceilândia, Planaltina, Samambaia, Taguatinga e São Sebastião é mais arriscado. Dos 528 acidentes envolvendo bicicletas na última década, 127, ou 24%, ocorreram nessas cinco regiões administrativas. Mas, independentemente do local, o perigo é ainda maior para quem anda de bike à noite e de madrugada. Levantamento do Departamento de Trânsito (Detran) revela que 49% dos óbitos registrados no período analisado foram entre as 18h e as 5h59. Apesar de as tragédias envolvendo ciclistas terem dado um trégua de 2003 até o ano passado, ativistas cobram medidas que promovam mais segurança e incentivem o uso da bicicleta no dia a dia, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

A bandeira do fim do IPI para bikes é levantada por Ronaldo Alves, representante do Instituto Pedala Brasília — Mobilidade Sustentável. Ele acredita que o número de ciclistas na cidade tem aumentado e que o governo deve apoiar o movimento. “É importante que as pessoas não vejam a bicicleta apenas como lazer, mas, sim, como opção viável de transporte, por isso tentamos levar esse projeto para frente”, explica.

As estatísticas das fatalidades envolvendo os ciclistas trazem uma boa notícia. Na última década, houve redução de 60,8% nos acidentes com mortes. No ano passado, 27 perderam a vida enquanto pedalavam e, em 2003, este número ficou em 69 (veja quadro). A redução entre 2013 e 2012 é de 15,6%. Em 10 anos, foram 534 mortos. De acordo com o diretor-geral do Detran, Rômulo Augusto de Castro Felix, a diminuição se deve ao atual mapa cicloviário do DF. “Quando criamos vias específicas para o ciclista, ele vai sair da via de trânsito, não porque está proibido de trafegar ali, mas porque se sente muito mais seguro na ciclovia”, acrescenta.

Já para Ronaldo, a diminuição no número de acidentes é um reflexo de um trabalho que vem sendo realizado por grupos da sociedade civil. “Perdi muitos amigos atropelados, mas estamos vendo alguns resultados de 10 anos para cá”, diz. No Distrito Federal, de acordo com dados da Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central (Codeplan), 227 domicílios têm bicicletas.

O professor Márcio André Carvalho, 39 anos, começou a andar de bicicleta por conta do filho, adepto ao transporte sustentável. Ele acompanha o estudante Márcio André Carvalho Júnior, 15, e os passeios se tornaram também programas de família. “Meu filho tem o hábito. Fiquei apreensivo porque sabemos que pode ser perigoso, então comecei a fazer parte disso com ele. A família toda acompanha nos fins de semana”, conta.
Apesar de preferir andar de bike, o estudante diz que não se sente protegido. “As ciclovias ajudaram, melhoraram, mas ainda falta muita coisa. Não me sinto seguro para andar por todos os lugares, principalmente à noite, porque em muitos pontos não existe iluminação”, assegura. O pai encara a situação e destaca a falta de conscientização tanto de motoristas quanto de ciclistas. “Por isso eu não vejo muita firmeza nesses dados (de redução de mortes)”, completa.
Gabriel foi atropelado ao atravessar a faixa fora da bicicleta.
Conscientização

Conselheiro da ONG Rodas da Paz, Maurício Machado Gonçalves destaca que é importante que o ciclista faça sua parte, principalmente à noite, quando corre mais riscos. É necessário, por exemplo, utilizar os equipamentos de segurança e sinalizar tudo o que for fazer no trânsito, para evitar acidentes (leia quadro). Maurício acredita que a falta de sinalização e de iluminação é o maior problema enfrentado por quem usa a bicicleta como meio de transporte e lazer. “É muito raro encontrar qualquer tipo de sinalização, seja horizontal seja vertical. O motorista não enxerga o ciclista, mesmo quando ele utiliza os sinalizadores na roupa e na bicicleta”, acrescenta o conselheiro da Rodas da Paz. Quanto aos problemas de iluminação e sinalização, o diretor do Detran destaca que estão sendo feitos estudos para apontar a necessidade de intervenções. 
Márcio André Júnior diz que se sente inseguro ao andar de bike.

O fotógrafo Gabriel Azevedo, 32 anos, conta que já foi atropelado à noite. Como determina a lei de trânsito, ele estava de bicicleta, mas desmontou do veículo para atravessar a faixa de pedestres. “O carro passou, atropelou e o motorista não prestou socorro. Não sei se foi porque não me viu ou os condutores não respeitam os ciclistas nas faixas”, ressalta.
Para ele, o maior perigo está na falta de iluminação das vias. Gabriel garante que, além dos equipamentos da bicicleta, usa roupas com sinalização luminosa. “O ideal seria a implantação de uma rede de iluminação mais eficaz”, ressalta. De acordo com dados do GDF, o Distrito Federal terá, até maio, 400km de ciclovias e deve encerrar 2014 com 600km.



POR: AILIM CABRAL » ADRIANA BERNARDES - CORREIO BRAZILIENSE - 19/04

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