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A relevância do Brasil

Causa perplexidade a reação violenta de Israel diante de ato que constitui praxe na diplomacia. O Itamaraty convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv para consultas em razão do “uso desproporcional da força” na ofensiva a Gaza. Na mesma linha, chamou o embaixador israelense em Brasília para discutir a crise. Também votou a favor de resolução contra o Estado judaico no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) — texto aprovado com um único voto contrário, dos EUA, e 17 abstenções, principalmente de países europeus.
O porta-voz da chancelaria de Israel, Yigal Palmor, respondeu ao gesto com palavras pouco diplomáticas. “É uma mostra de por que um gigante econômico continua um anão diplomático” e “parceiro irrelevante que cria problemas em vez de contribuir com soluções”. Não só. Misturando alhos com bugalhos, lembrou a derrota da Seleção brasileira para a alemã na Copa do Mundo. Desproporcional, segundo ele, é perder de 7 a 1.
Luiz Alberto Figueiredo, ministro das Relações Exteriores, rebateu. “Somos um dos 11 países que têm relações diplomáticas com todos os membros da ONU. Se há algum anão diplomático, o Brasil não é um deles. O Brasil entende o direito de Israel de se defender, mas não está contente com a morte de mulheres e crianças”.
O Brasil, vale lembrar, tem tradição diplomática respeitada no mundo inteiro. Embaixadores e corpo técnico do Itamaraty transitam com desenvoltura por conflitos e colhem frutos que satisfazem os envolvidos. No caso, tomou partido da população de Gaza. Mas omitiu o outro lado. Errou feio.
Referiu-se, na nota divulgada pela casa de Rio Branco, à morte de mais de 700 palestinos, a maioria civil (até quinta-feira). Deixou de falar nos mísseis disparados pelo Hamas que roubaram a vida de quase três dezenas de judeus, sobretudo militares, embora tenha condenado o Hamas na primeira nota que emitiu sobre a crise.
Nos últimos anos, em repetidas ocasiões, a diplomacia brasileira foi criticada como titubeante e até omissa por abster-se de tomar posição clara em situações de conflito. Foi, notoriamente, o caso da Síria e da Líbia. Na questão entre Israel e os palestinos, ao contrário, o Planalto e o Itamaraty têm sido assertivos.
Em 2010, na véspera de dar posse a Dilma Rousseff, o presidente Lula reconheceu a Palestina como Estado soberano dentro das fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias (1967). Dois anos depois, Dilma defendeu essa tese na Assembleia Geral da ONU, quando o reconhecimento estatal da Palestina teve aprovação esmagadora.
Ao pronunciar-se de forma inequívoca sobre o tema que encabeça a lista de prioridades da comunidade internacional, o governo brasileiro desempenha papel que se espera de um ator com pretensões globais. Contempla até mesmo a queixa dos que cobravam do país postura clara e firme. Quanto às escolhas feitas, esse é o debate que se espera ver na campanha presidencial que se inicia.
O incidente com Israel deve servir a reflexão que vai além de medidas tomadas nessa ou em outras questões: a de que ficou para trás o tempo em que as posições do Brasil pouco importavam. A relevância do gesto de chamar de volta a Brasília o embaixador em Tel Aviv está caracterizada na reação do porta-voz israelense.

Visão do correio Braziliense - 27/07/2014

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