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Eleições-DF: A geração de 380 mil votos

Brasilienses entre 16 e 24 anos são quase 17% da população votante no DF. Especialistas argumentam que partidos com propostas voltadas para a faixa etária levam vantagem e que manifestações do ano passado mostram um maior interesse na política.

"Não adianta criticar os governantes e querer levar vantagem em cima do próximo no cotidiano. Antes de reclamar, o povo tem que olhar para o próprio umbigo" 
Paulo Victor Pereira, estudante, 19 anos.


Eles nasceram na era da democracia e sempre moraram em uma cidade governada por representantes escolhidos pelo povo. Cresceram num mundo globalizado, antenados com a internet e com acesso à informação em uma escala maior que a geração anterior. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os jovens de 16 a 24 anos somam 16,8% do eleitorado total do Distrito Federal (DF) e representam uma parcela considerável da população, que pode fazer a diferença nas urnas em outubro — cerca de 380 mil votantes. Protagonistas do movimento que levou milhares de pessoas às ruas, eles demonstraram, em junho do ano passado, um desejo de mudança. Especialistas garantem que, apesar de não fazerem parte do mesmo estrato social, esses eleitores têm demandas específicas em comum, e os partidos que demonstrarem afinidade com eles podem ser beneficiados com o peso desses votos.

Os jovens mantêm expectativas diferentes para o futuro do país e da cidade. A estudante Loislene de Oliveira tem 17 anos e não é obrigada a participar no pleito deste ano. No fim do ano passado, contudo, decidiu tirar o título de eleitor, pois acredita que o voto é o único meio de mudar a realidade do país. “Só mudando os políticos que estão no poder para vermos uma transformação no Brasil. Vamos alterar o atual cenário elegendo pessoas que realmente pensem na população”, acredita a jovem. Ela ainda não sabe em quem vai depositar a confiança em outubro e afirma que estudará a trajetória do candidato antes de tomar qualquer decisão. “Vou pesquisar bem antes de escolher meus candidatos. Tem que ser honesto e com projetos voltados para a juventude”, avisa.


"Só mudando os políticos que estão no poder para vermos uma transformação no Brasil. Vamos alterar o atual cenário elegendo pessoas que realmente pensem na população" 
Loislene de Oliveira, estudante, 17 anos.


Pais
O estudante Felipe Lima, 19, é outro que vai às urnas pela primeira vez. Ele escuta com atenção a opinião dos pais sobre a eleição, porém não deixa de acompanhar os políticos pelas redes sociais. “Claro que a posição dos meus pais influenciará, mas o voto é meu e não serão eles que vão decidir. Eles dão dicas, mas vou analisar meus preferidos, pois quero alguém que me reprensente”, afirma. Mesmo por dentro das propostas dos candidatos, Felipe está longe de tomar uma decisão definitiva: admite que só deverá escolher o voto mais perto do pleito. 

A indecisão é uma das principais características dos mais jovens, segundo o cientista político da Universidade de Brasília João Paulo Peixoto. “A participação deles é muito importante pela força que têm na sociedade, mas não é possível garantir qual número digitarão na urna”, ressalta. Peixoto esclarece ainda que, apesar da incerteza no direcionamento dos votos, o eleitorado de pouca idade tem uma marca forte. “Eles conversam muito entre si pelas redes sociais. Informam-se bastante. E querem mudanças, querem o novo. Os jovens têm uma rebeldia natural e votam contra o conservadorismo”, garante. 


"Claro que a posição dos meus pais influenciará, mas o voto é meu e não serão eles que vão decidir. Eles dão dicas, mas vou analisar meus preferidos" 
Felipe Lima, estudante, 19 anos.


Os dados divulgados pelo TSE na última terça-feira mostraram uma mudança no perfil do eleitorado brasiliense (leia Para saber mais). Segundo o cientista político Emerson Masullo, ter participado, desde o nascimento, do processo democrático ajuda na formação diferenciada do eleitor. Tal fato, conjugado a uma rede ampliada de serviços — educação, internet, trabalho —, a um comportamento mais ativo, inclusive, em mobilizações populares, denotam ao próximo processo eleitoral uma característica diferente dos anteriores: o protagonismo dos adolescentes e jovens do DF, de forma mais esclarecida. “Os escândalos políticos geram um interesse menor na política, mas os movimentos de rua deram uma tônica que jamais se viu. Desde então, o indício de que jovem não se interessa pode estar mudando. Isso pode, sim, gerar um diferencial neste período eleitoral”, explica o especialista. Ele afirma, ainda, que a quantidade de eleitores jovens pode levar a decisão para o segundo turno.

Cidadania
O estudante Paulo Victor Pereira, 19, se simpatizou com o movimento de julho do ano passado, mas acredita que o problema do Brasil é muito maior. Segundo ele, o Brasil vive uma crise de cidadania que somente a população em geral pode superar. “Não adianta criticar os governantes e querer levar vantagem em cima do próximo no cotidiano. Antes de reclamar, o povo tem que olhar para o próprio umbigo”, acredita. 

Diante de perfis de eleitores tão diferentes, com demandas variadas, o candidato precisa se adequar a cada um deles na hora do discurso. O diálogo com os jovens também deve ser assim. Para o cientista político Everaldo Moraes, o jovem, como qualquer outro eleitor, possui demandas específicas, e os partidos com mais afinidade com esse público têm mais chance de conquistar esse eleitorado. “Dependendo de onde moram, os jovens estão em condições de vida diferentes. Uns pedem mais cultura, outros mais segurança. No entanto, é difícil trabalhar a política olhando apenas para uma questão. Existem partidos que já possuem frentes e políticas para a juventude, o que deixa a orientação por essas demandas mais simples”, finaliza.


Depoimento

“Por uma política decente”

“Eu não seria obrigado a votar na eleição de outubro próximo, mas fiz questão de tirar meu título de eleitor. Além da influência dos meus pais, que insistiram para eu fazer esse documento, eu também participei das manifestações do ano passado. Acredito que as mudanças que o Brasil precisa virão, necessariamente, pelo voto. Mas, para que isso aconteça, a população tem que pensar melhor antes de depositar a confiança em alguém. Eu, por exemplo, já comecei a pesquisar os candidatos para ver qual tem os melhores projetos e é honesto de fato, pois minha única certeza é que não votarei em um ficha suja. Em relação às propostas, simpatizo com aqueles que dão prioridade à saúde e ao transporte público. Eu moro em Ceilândia e pego ônibus todos os dias para ir ao colégio. É um absurdo a população aceitar calada a situação dos nosso coletivos. Antes de qualquer coisa, precisamos nos unir para buscar uma política mais decente, em que nossos representantes realmente trabalhem para nos proporcionar uma vida melhor.” 

Gabriel Nascimento, estudante, 17 anos


Para saber mais. Dados mais precisos

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Distrito Federal tem, hoje, 1.897.677 eleitores. Desses, 459.237 possuem nível superior. Este ano, houve uma atualização mais precisa dos dados porque 99,8% dos cidadãos aptos a votar fizeram o recadastramento biométrico. No mesmo período, a parcela da cidade com escolaridade mais baixa caiu. Há quatro anos, 65,5% dos brasilienses tinham, no máximo, nível médio incompleto e 34,5% concluíram o ensino médio ou tinham ensino superior incompleto ou completo. O percentual praticamente se inverteu. Em 2014, 36,5% declararam à Justiça Eleitoral ter escolaridade inferior ao nível médio e 63,5% ultrapassaram esse patamar educacional.



Por: Matheus Teixeira - Camila costa - Kelly Almeida - 31/07/2014

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