Apesar da obrigatoriedade, muitos órgãos públicos, empresas e centros comerciais de Brasília ainda não instalaram pontos para o estacionamento de bicicletas. Quem adotou o equipamento, no entanto, comemora bons resultados entre os funcionários.
Thaisa Magalhães (E), Dafne Soares, Diogo Brito, Isabela Andrade e Vitor Galante usam o bicicletário da CNI: incentivo para deixar o carro em casa.
Foco da ação de ativistas da bicicleta, a mobilidade urbana é lei no Distrito Federal desde 2012. No entanto, passados dois anos desde a publicação da norma que obriga órgãos públicos e locais de grande circulação a instalarem bicicletários (leia O que diz a lei), poucos estabelecimentos se adequaram à exigência. Nem mesmo a Câmara Legislativa, responsável pela aprovação do texto, está preparada para receber funcionários ou visitantes que andam sobre duas rodas. Ainda assim, alguns centros comerciais, empresas e entidades representativas reservam um lugar para o meio de transporte. A experiência ajudou no entrosamento dos empregados.
Especialistas atestam para os benefícios da iniciativa. O doutor em trânsito e em mobilidade pela Universidade de Brasília (UnB) Artur Morais destaca, no entanto, que não basta disponibilizar o bicicletário. É preciso uma estrutura para que os ciclistas possam trocar de roupa, guardar os pertences e tomar banho. “Com a quantidade de ciclovias em Brasília, as pessoas precisam ter onde deixar a bicicleta. Cada um que deixa o carro em casa é uma melhora considerável na mobilidade da cidade. Vai melhorar o trânsito e o humor das pessoas. Meia hora de pedal para casa ou à escola equivale a três horas de academia por semana”, afirma.
Pontos de bikes na estação do metrô do Guará: lei prevê a instalação em locais de grande circulação
O uso da bicicleta para ir ao trabalho uniu os amigos Diogo Brito, 31 anos, Vitor Galante, 46, Thaisa Magalhães, 31, Dafne Soares, 28, e Isabela Andrade, 29. A disponibilidade da estrutura na Confederação Nacional da Indústria (CNI) estimulou cada um deles a deixar o carro em casa. O primeiro a usar a bike foi Diogo. “São duas vezes por semana. Desde 2012, venho regularmente. Agora, tenho mais companheiros, converso com mais pessoas. Às vezes, combinamos de vir com um colega ou com outro. Com os vestiários e os armários, eu deixo a roupa aqui um dia antes. Facilita bastante a logística”, conta.
Diogo convidou Vitor a andar sobre duas rodas na cidade. Ele, por sua vez, chamou Thaisa, e ela estimulou as colegas Isabela e Dafne. “Ter uma infraestrutura faz toda a diferença. É um grande estímulo e deixa mais seguro”, avalia Vitor. “Eu já tentei vir de bicicleta quando era apenas estagiária, mas não tinha estrutura. Ao pedalar, você sai do trânsito e enxerga a cidade de outra forma. É a solução para o tráfego de veículos, e eu sempre tento convencer outras pessoas”, avisa Thaisa. Moradora do Sudoeste, Dafne usa o sistema de bicicletas públicas compartilhadas. Ela caminha até o Memorial JK, onde há um ponto de aluguel e, depois, pedala até o Setor Bancário Norte.
O gerente de Saúde Ocupacional e Qualidade de Vida da CNI, Amilton Cabral, diz que, por enquanto, poucas pessoas usam o bicicletário do órgão, mas a meta é expandir o programa Vem de bike para estimular mais funcionários. “Colocamos um armário com 12 portas e temos um vestiário, e a maioria vem de três a quatro vezes por semana de bicicleta. Substituímos duas vagas de moto, e mais pessoas puderam vir com um transporte muito mais limpo e saudável. Você dá alternativa para o empregado realizar atividade física e tem muito mais integração”, garante.
Mas nem todos os locais de trabalho oferecem esses pontos. O analista de sistemas da Procuradoria-Geral do DF Felipe Teixeira Ribeiro, 34 anos, deixa a bicicleta na garagem do órgão, encostada, pois não tem onde prendê-la. “Eu passei a vir (de bike) porque achei que o trânsito tinha chegado ao limite para mim. Corri atrás de benfeitorias para guardar as minhas coisas e consegui um armário, mas não temos paraciclo ou bicicletário. Pedi na ouvidoria do órgão, pois o DF obriga órgãos públicos a terem essas estruturas, o que não acontece em 90% dos casos.” A Procuradoria-Geral do DF informou, por meio da assessoria de Comunicação, que estuda a instalação de um bicicletário nas imediações do prédio. A nova sede, que será inaugurada no próximo ano ao lado do prédio atual, disponibilizará vestiários.
Acesso facilitado
As empresas privadas e os centros comerciais se mostram mais interessados em instalar a infraestrutura para receber os ciclistas. Quem afirma é o presidente da organização não governamental (ONG) Rodas da Paz, Jonas Bertucci. Segundo ele, a entidade disponibiliza guias para os interessados. “São materiais que mostram um bicicletário com mais qualidade, com armário e com orientações aos seguranças para que ciclistas entrem de bermuda em locais formais para trocarem de roupa. Em alguns ministérios, funcionários ciclistas já foram impedidos de entrar”, denuncia.
O Conjunto Nacional instalou um paraciclo gratuito na garagem, próximo à guarita dos vigilantes e disponível para empregados e clientes. “Temos funcionários de lojas que utilizam o nosso bicicletário. O serviço é gratuito e existe há seis anos”, relata a gerente de Marketing, Cláudia Durães. O Laboratório Sabin também se prepara para instalar paraciclos em 10 unidades até o fim do ano. “Acionamos a ONG (Rodas da Paz) para que pudéssemos, em conjunto, implementar o projeto”, explica o gerente executivo do Instituto Sabin, Fábio Beboni.
Terminais automáticos
A iniciativa é uma opção de transporte sustentável na capital. Para usar essas bicicletas, o ciclista deve fazer o cadastro em www.mobilicidade.com.br/bikebrasilia e baixar um aplicativo no celular para que os terminais automáticos liberem o veículo de duas rodas. O serviço custa R$ 10 ao ano. O DF conta com 20 estações, em locais como Memorial JK, Centro de Convenções, Rodoviária do Plano Piloto, Torre de Tevê e Setor Comercial Norte. A meta é que, até o fim do ano, o Plano Piloto tenha 40 desses locais, com 400 bikes no total.
Diferenças
Paraciclo é o local preparado para o ciclista prender a bicicleta. Em forma de “U”, o equipamento possibilita que o veículo seja amarrado por corrente em dois pontos diferentes e não apenas na roda. Já o bicicletário é uma estrutura muito maior, que conta com local para a bike, armários para guardar os pertences e um local para trocar de roupa e tomar banho, caso necessário.
O que diz a lei
A Lei nº 4.800, de 29 de março de 2012, determina a construção de bicicletários no Distrito Federal. Segundo a norma, a estrutura é obrigatória em agências bancárias, estações do metrô, estabelecimentos de ensino públicos e privados, clínicas, hospitais, centros de saúde e Unidades de Pronto Atendimento, edifícios que abrigam órgãos públicos, supermercados, shopping centers e qualquer outro estabelecimento que atraia grande quantidade de pessoas. A legislação também determina que, ao serem criados estacionamentos ou recuperados os antigos, é obrigatória a inclusão dessas estruturas no local. O texto da lei deu um prazo de dois anos para que os locais se adaptassem. O prazo venceu em março deste ano.
Por: Luiz Calcagno - Correio Brazilinse - 31/07/2014
Thaisa Magalhães (E), Dafne Soares, Diogo Brito, Isabela Andrade e Vitor Galante usam o bicicletário da CNI: incentivo para deixar o carro em casa.
Foco da ação de ativistas da bicicleta, a mobilidade urbana é lei no Distrito Federal desde 2012. No entanto, passados dois anos desde a publicação da norma que obriga órgãos públicos e locais de grande circulação a instalarem bicicletários (leia O que diz a lei), poucos estabelecimentos se adequaram à exigência. Nem mesmo a Câmara Legislativa, responsável pela aprovação do texto, está preparada para receber funcionários ou visitantes que andam sobre duas rodas. Ainda assim, alguns centros comerciais, empresas e entidades representativas reservam um lugar para o meio de transporte. A experiência ajudou no entrosamento dos empregados.
Especialistas atestam para os benefícios da iniciativa. O doutor em trânsito e em mobilidade pela Universidade de Brasília (UnB) Artur Morais destaca, no entanto, que não basta disponibilizar o bicicletário. É preciso uma estrutura para que os ciclistas possam trocar de roupa, guardar os pertences e tomar banho. “Com a quantidade de ciclovias em Brasília, as pessoas precisam ter onde deixar a bicicleta. Cada um que deixa o carro em casa é uma melhora considerável na mobilidade da cidade. Vai melhorar o trânsito e o humor das pessoas. Meia hora de pedal para casa ou à escola equivale a três horas de academia por semana”, afirma.
Pontos de bikes na estação do metrô do Guará: lei prevê a instalação em locais de grande circulação
O uso da bicicleta para ir ao trabalho uniu os amigos Diogo Brito, 31 anos, Vitor Galante, 46, Thaisa Magalhães, 31, Dafne Soares, 28, e Isabela Andrade, 29. A disponibilidade da estrutura na Confederação Nacional da Indústria (CNI) estimulou cada um deles a deixar o carro em casa. O primeiro a usar a bike foi Diogo. “São duas vezes por semana. Desde 2012, venho regularmente. Agora, tenho mais companheiros, converso com mais pessoas. Às vezes, combinamos de vir com um colega ou com outro. Com os vestiários e os armários, eu deixo a roupa aqui um dia antes. Facilita bastante a logística”, conta.
Diogo convidou Vitor a andar sobre duas rodas na cidade. Ele, por sua vez, chamou Thaisa, e ela estimulou as colegas Isabela e Dafne. “Ter uma infraestrutura faz toda a diferença. É um grande estímulo e deixa mais seguro”, avalia Vitor. “Eu já tentei vir de bicicleta quando era apenas estagiária, mas não tinha estrutura. Ao pedalar, você sai do trânsito e enxerga a cidade de outra forma. É a solução para o tráfego de veículos, e eu sempre tento convencer outras pessoas”, avisa Thaisa. Moradora do Sudoeste, Dafne usa o sistema de bicicletas públicas compartilhadas. Ela caminha até o Memorial JK, onde há um ponto de aluguel e, depois, pedala até o Setor Bancário Norte.
O gerente de Saúde Ocupacional e Qualidade de Vida da CNI, Amilton Cabral, diz que, por enquanto, poucas pessoas usam o bicicletário do órgão, mas a meta é expandir o programa Vem de bike para estimular mais funcionários. “Colocamos um armário com 12 portas e temos um vestiário, e a maioria vem de três a quatro vezes por semana de bicicleta. Substituímos duas vagas de moto, e mais pessoas puderam vir com um transporte muito mais limpo e saudável. Você dá alternativa para o empregado realizar atividade física e tem muito mais integração”, garante.
Mas nem todos os locais de trabalho oferecem esses pontos. O analista de sistemas da Procuradoria-Geral do DF Felipe Teixeira Ribeiro, 34 anos, deixa a bicicleta na garagem do órgão, encostada, pois não tem onde prendê-la. “Eu passei a vir (de bike) porque achei que o trânsito tinha chegado ao limite para mim. Corri atrás de benfeitorias para guardar as minhas coisas e consegui um armário, mas não temos paraciclo ou bicicletário. Pedi na ouvidoria do órgão, pois o DF obriga órgãos públicos a terem essas estruturas, o que não acontece em 90% dos casos.” A Procuradoria-Geral do DF informou, por meio da assessoria de Comunicação, que estuda a instalação de um bicicletário nas imediações do prédio. A nova sede, que será inaugurada no próximo ano ao lado do prédio atual, disponibilizará vestiários.
Acesso facilitado
As empresas privadas e os centros comerciais se mostram mais interessados em instalar a infraestrutura para receber os ciclistas. Quem afirma é o presidente da organização não governamental (ONG) Rodas da Paz, Jonas Bertucci. Segundo ele, a entidade disponibiliza guias para os interessados. “São materiais que mostram um bicicletário com mais qualidade, com armário e com orientações aos seguranças para que ciclistas entrem de bermuda em locais formais para trocarem de roupa. Em alguns ministérios, funcionários ciclistas já foram impedidos de entrar”, denuncia.
O Conjunto Nacional instalou um paraciclo gratuito na garagem, próximo à guarita dos vigilantes e disponível para empregados e clientes. “Temos funcionários de lojas que utilizam o nosso bicicletário. O serviço é gratuito e existe há seis anos”, relata a gerente de Marketing, Cláudia Durães. O Laboratório Sabin também se prepara para instalar paraciclos em 10 unidades até o fim do ano. “Acionamos a ONG (Rodas da Paz) para que pudéssemos, em conjunto, implementar o projeto”, explica o gerente executivo do Instituto Sabin, Fábio Beboni.
Terminais automáticos
A iniciativa é uma opção de transporte sustentável na capital. Para usar essas bicicletas, o ciclista deve fazer o cadastro em www.mobilicidade.com.br/bikebrasilia e baixar um aplicativo no celular para que os terminais automáticos liberem o veículo de duas rodas. O serviço custa R$ 10 ao ano. O DF conta com 20 estações, em locais como Memorial JK, Centro de Convenções, Rodoviária do Plano Piloto, Torre de Tevê e Setor Comercial Norte. A meta é que, até o fim do ano, o Plano Piloto tenha 40 desses locais, com 400 bikes no total.
Diferenças
Paraciclo é o local preparado para o ciclista prender a bicicleta. Em forma de “U”, o equipamento possibilita que o veículo seja amarrado por corrente em dois pontos diferentes e não apenas na roda. Já o bicicletário é uma estrutura muito maior, que conta com local para a bike, armários para guardar os pertences e um local para trocar de roupa e tomar banho, caso necessário.
O que diz a lei
A Lei nº 4.800, de 29 de março de 2012, determina a construção de bicicletários no Distrito Federal. Segundo a norma, a estrutura é obrigatória em agências bancárias, estações do metrô, estabelecimentos de ensino públicos e privados, clínicas, hospitais, centros de saúde e Unidades de Pronto Atendimento, edifícios que abrigam órgãos públicos, supermercados, shopping centers e qualquer outro estabelecimento que atraia grande quantidade de pessoas. A legislação também determina que, ao serem criados estacionamentos ou recuperados os antigos, é obrigatória a inclusão dessas estruturas no local. O texto da lei deu um prazo de dois anos para que os locais se adaptassem. O prazo venceu em março deste ano.
Por: Luiz Calcagno - Correio Brazilinse - 31/07/2014


