Acordo de colaboração judicial rastreou dinheiro enviado pelos operadores do bilionário esquema de lavagem de dinheiro que beneficiava políticos brasileiros
PETROLÃO – O engenheiro Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras: o delator começou a falar (Helia Scheppa/JC Imagem/VEJA)
O procurador-geral da Suíça, Michel Lauber, confirmou nesta segunda-feira, em Genebra, que a Justiça do país europeu continua investigando contas bancárias de pessoas ligadas à Petrobras. "A investigação está em andamento", declarou Lauber, sem informar nomes nem dar detalhes da apuração.
Em maio, a Justiça suíça entregou ao Brasil informações apontando que um colaborador do doleiro Alberto Youssef, pivô da Operação Lava-Jato, mantinha no país uma conta de 5 milhões de dólares – o dinheiro foi bloqueado. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o próximo alvo da Lava-Jato são empreiteiras que detêm contratos com a petroleira.
As investigações rastrearam repasses ao exterior realizados por uma subcontratada das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Outros depósitos partiram de empreiteiras com sede em Salvador (BA). Já foi decretado o embargo de outros 23 milhões de dólares em 12 contas ligadas ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa. A Suíça abriu processo penal contra ele por lavagem de dinheiro.
Em coletiva de imprensa, o presidente da Suíça, Didier Burkhalter, afirmou que as investigações sobre o caso vão continuar, independentemente das considerações políticas e eleitorais no Brasil que o caso possa ter: "Na Suíça há uma lei e se cumpre".
Em coletiva de imprensa, o presidente da Suíça, Didier Burkhalter, afirmou que as investigações sobre o caso vão continuar, independentemente das considerações políticas e eleitorais no Brasil que o caso possa ter: "Na Suíça há uma lei e se cumpre".
"Há uma colaboração judicial que está ocorrendo, e na Suíça existe uma separação de Poderes", disse Burkhalter. "A lei é aplicada sem levar em conta o contexto e não vamos mudar nossa política."
Petrolão – Preso em março pela Polícia Federal, Paulo Roberto Costa aceitou recentemente os termos de um acordo de delação premiada – e começou a falar, conforme revelou a edição desta semana de VEJA. No prédio da PF em Curitiba, ele vem sendo interrogado por delegados e procuradores – os detalhes dos depoimentos podem jogar o governo no centro de um escândalo de corrupção de proporções semelhantes às do mensalão. Os depoimentos são registrados em vídeo — na metade da semana passada, já havia pelo menos 42 horas de gravação. Paulo Roberto acusa uma verdadeira constelação de participar do esquema de corrupção.
Entre eles estão os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), além do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA). Do Senado, Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP, e Romero Jucá (PMDB-RR), o eterno líder de qualquer governo. Já no grupo de deputados figuram o petista Cândido Vaccarezza (SP) e João Pizzolatti (SC), um dos mais ativos integrantes da bancada do PP na casa. O ex-ministro das Cidades e ex-deputado Mario Negromonte, também do PP, é outro citado por Paulo Roberto como destinatário da propina. Da lista de três “governadores” citados pelo ex-diretor, todos os políticos são de estados onde a Petrobras tem grandes projetos em curso: Sérgio Cabral (PMDB), ex-governador do Rio, Roseana Sarney (PMDB), atual governadora do Maranhão, e Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco e ex-candidato à Presidência da República morto no mês passado em um acidente aéreo.
Paulo Roberto também esmiúça a lógica que predominava na assinatura dos contratos bilionários da Petrobras – admitindo, pela primeira vez, que as empreiteiras contratadas pela companhia tinham, obrigatoriamente, que contribuir para um caixa paralelo cujo destino final eram partidos e políticos de diferentes partidos da base aliada do governo.
Sobre o PT, ele afirmou que o operador encarregado de fazer a ponte com o esquema era o tesoureiro nacional do partido, João Vaccari Neto, cujo nome já havia aparecido nas investigações como personagem de negócios suspeitos do doleiro Alberto Youssef.
(Com Estadão Conteúdo)
(Com Estadão Conteúdo)