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Lei Seca: flagrantes aumentam 454% no DF

Fiscalização ? que aumentou ? e punição não inibem infratores. Conduta favorece acidentes fatais
Em um único fim de semana, o último, foram noticiados quatro casos de motoristas alcoolizados que se envolveram em acidentes, um deles fatal. A quantidade de colisões chama atenção, mas os números contabilizados pelo governo são ainda maiores. Apenas em agosto, somado o balanço de   todos os órgãos de fiscalização, 600 condutores foram flagrados dirigindo após beber – média de quase 20 por dia. O aumento é de 454% em relação ao mesmo período do ano passado, com 132 casos.   

Nos dois últimos meses, apenas o Batalhão Rodoviário da Polícia Militar (BPRv) registrou   aumento de cerca de 350% nos flagrantes. A unidade patrulha as rodovias, entre elas o Eixão.
O número de autuações também cresceu 3,8% na média mensal, segundo dados do Departamento de Trânsito (Detran). Para os órgãos de fiscalização, o índice é justificado pelo aumento do número de fiscalizações, que teria triplicado.

Entre sexta e domingo passado, Douglas Oliveira da Silva, de oito anos, morreu e  outras oito pessoas ficaram feridas em acidentes envolvendo motoristas alcoolizados. 

O acidente que matou Douglas ocorreu na Ponte Alta Norte, no Gama, no domingo. Pelo resultado do teste do bafômetro, o condutor teria ingerido 0,58 miligramas de álcool por litro de ar expelido dos pulmões. Valores acima de 0,3 já são considerados crime pela Lei Seca. 

CONSCIENTIZAÇÃO 

“Percebemos uma pequena parte de pessoas que se preocupam em encontrar outras formas de voltar para casa após beber. Infelizmente os números não são satisfatórios, principalmente em relação aos mais jovens”, revela Glauber Peixoto, chefe da Unidade de Planejamento de Operações do Detran. 

A avaliação vai ao encontro do relato de Elisabete Ribeiro, 35,   gerente de um estabelecimento   na Asa Sul, que fica próximo a  bares. Ela conta que é comum se deparar com jovens que assumem o volante após beber.  “Eles chegam   se gabando, fazendo festa. Acham que não serão pegos ou não se envolverão em acidentes. Isso quando não são aqueles que sequer têm habilitação”, diz. 

O cozinheiro Efraim Câncio, 30, confessa já ter se envolvido em acidentes em virtude da bebida.  “Bati o carro em um ônibus que estava parado. Se não tivesse bebido, teria dado tempo de evitar, mas os reflexos ficam alterados”, lembra. Em outra ocasião, caiu com a moto que pilotava. “Não sou nenhum criminoso, mas assumo o risco”, completa. 

Se a distância for curta...

Para o funcionário público Thadeu Bayma, de 59 anos, o ato de beber e dirigir é  rotineiro, contanto que o destino seja próximo: “Sempre bebo e dirijo, mas porque costumo ir a locais próximos de casa. Quando é mais distante, minha mulher me policia e não assumo o volante”. Clara, 60, não dirige e confirma o controle com o marido. “Com a distância curta, fico mais segura, mas para longe não admito. A gente elege o motorista da vez”.

Mesmo com a rotina, o casal afirma nunca ter sofrido acidentes ou autuações.  “Não sinto dificuldades na direção e respeito as leis de trânsito. Sei que minha justificativa não é certa, mas persisto no erro. Faço porque moro perto”,  diz Thadeu.

O casal considera que muita coisa mudou após os seis anos de  Lei Seca. “Eu tenho mais medo hoje que há dez anos. A lei é importante, até porque antes a gente andava despreocupado e hoje existem vários fatores para inibir”, exemplifica o servidor. 

Para ele, as multas são o principal diferencial: “O que mais mudou foi no bolso”. Mas, para Clara, esse é o menor dor problemas. “Os acidentes são horríveis e quem bebe não admite que não está em condições de assumir a direção. Mas não vejo na sociedade uma preocupação com o ser humano, o rombo na carteira gera mais medo”, ponderou.
Neste ano, 820 CNHs retidas
 
As penalidades para condutores sob efeito do álcool estão previstas no Código de Trânsito Brasileiro. A infração é considerada gravíssima e a multa é de R$ 1.915,54, além da suspensão do direito de dirigir por um ano. O Detran já contabiliza 820 condutores que tiveram a carteira retida neste ano, o que   representa quase 24% dos números de 2013.

No entanto, isso pode não representar a realidade de autuações diárias. A pasta explica: “A suspensão do direito de dirigir ocorre apenas após o fim do processo administrativo. Assim, não existe relação de infrações registradas e o quantitativo de CNHs suspensas num mesmo ano”. O processo pode ser finalizado no ano seguinte à infração.
 
Não é difícil encontrar nas ruas alguém que, pelo menos uma vez, assumiu o volante após ingerir bebidas alcoólicas e assumiu o risco de se envolver em acidentes.  O instrutor de treinamento Paulo Araújo,   27 anos, já foi flagrado  dirigindo embriagado duas vezes. Na última, há três meses, teve o documento retido e agora espera a decisão judicial. “Eu sei que estava errado”, assume. 
 
Também não é raro se deparar com alguém que mudou a rotina em virtude de blitze, autuações e apreensões. Após uma festa, Márcia Ferreira,   33 anos, e Lorena Dias,   31, estavam de carona com um amigo que havia bebido quando o veículo foi parado no Parque da Cidade. Ele foi autuado e teve que pagar multa e responder a processo. 

“Hoje nós evitamos. Quando dá para usar o transporte público, é o que fazemos. Mas isso é por causa daquela blitz  e do aperto que passamos”, admite Lorena. 
 
Dados só crescem
 
De janeiro a junho deste ano,  4.257 pessoas foram autuadas por alcoolemia ao volante pelos órgãos de fiscalização do DF, mais que a metade de todo o registro do ano anterior, que teve 8.199 autuações. Comparando a  média mensal, o número sofreu um aumento de 3,8%.
 
Controle maior justifica
 
O aumento de 273% de pessoas flagradas  nos últimos três meses  dirigindo depois de ingerir bebida alcoólica tem como justificativa a Copa do Mundo e o aumento da fiscalização que, segundo Glauber Peixoto, do Detran, triplicou no último ano. 
“Tínhamos um efetivo de 120 agentes e passou para cerca de 360 neste ano. Isso fez com que aumentássemos muito o numero de fiscalizações, inclusive  no período noturno. Eram de seis a oito equipes fazendo operações à noite e agora são 20. Com mais fiscalização, temos mais autuação”, explica. 
 
Dia a dia
 
Comandante do batalhão rodoviário, o tenente-coronel Estefano Lobão explica que “no dia a dia do serviço do policiamento de trânsito rodoviário, colocamos grupos de agentes focados nesse tipo de ação”. De sexta-feira a domingo, há fiscalização em locais com maior incidência de consumo de álcool. Nos outros dias da semana, duas datas são escolhidas para fazer a operação. 
 
No Detran, há ainda o monitoramento dos pontos em que há maior consumo. A Operação Último Gole atua pelo menos duas vezes na semana. “Viaturas descaracterizadas fazem a triagem para que, mais na frente, os agentes identificados atuem”, explica Peixoto. 
 
Mesmo com o rigor há quem defenda uma fiscalização mais intensa. É o caso de Elisabete Ribeiro, gerente de um estabelecimento na Asa Sul. “Os jovens se despreocupam porque não encontram blitze e, quando encontram e são pegos, pagam uma multa e pronto. Não deve ser assim”, ressaltou.
 
Ponto de vista
 
Apesar de a Lei Seca ter surtido efeito como instrumento para  reduzir e educar o motorista sobre os riscos da combinação entre direção e álcool, o aparato público e as campanhas educativas não têm sido efetivos. Isso é o que entende Luís Miúra, especialista em trânsito. “O aumento da autuação não significa que o número de motoristas que bebem esteja crescendo. Seguramente, o que os órgãos dizem sobre o aumento de fiscalização tem credibilidade”, pondera. 

De acordo com o especialista, com o aumento da fiscalização,  há o consequente crescimento de autuações. Por outro lado, Miúra destaca que considera preocupante que, mesmo com todos os esforços, o a quantidade de motoristas infratores continue elevada. “Embora exista uma lei aparentemente muito rigorosa, o efeito desse rigor não está se refletindo na prática. De qualquer forma, toda mudança de comportamento leva tempo”, analisa.
 
Saiba mais
 
Mesmo com índices altos de acidentes e mortes, 2014 é o ano com maior redução desde o início da Lei Seca. Foram 361 acidentes fatais de junho de 2013 a junho de 2014, e 396 mortes no trânsito. São 101 acidentes a menos, representando uma redução de 21,9%. 
 
Em apenas uma madrugada no mês passado, 60 pessoas foram autuadas por embriaguez ao volante em uma operação no Pistão Sul, em Taguatinga. A foi operação conjunta entre o Batalhão de Policiamento Rodoviário (BPRv) e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER).
 
Segundo o BPRv, 7% dos motoristas flagrados dirigindo após beber em agosto eram mulheres. 
 
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília - Jéssica Antunes - 11/09/2014

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