O Brasil orgulha-se de ser a sétima economia do mundo e de ter navegado na turbulência das recentes crises globais financeiras sem danos profundos. É reconhecido por organismos internacionais pelo sucesso das políticas públicas, que resgataram da fome mais de 30 milhões de brasileiros. No cenário nacional, o Distrito Federal praticamente erradicou a miséria e, hoje, é a primeira unidade da Federação a vencer a batalha contra o analfabetismo.
Mas 126 anos após a edição da Lei Áurea, que aboliu a escravatura, o país ainda rasteja frente à ignorância de parcela da sociedade brasileira, que se revela racista e preconceituosa em relação aos negros. Em pleno século 21, temos indivíduos que comparam os afrodescendentes a macacos, em uma exibição pública e constrangedora da representação do atraso.
Parte dessas pessoas não está apenas nos estádios de futebol. Na capital da República, o Núcleo de Enfrentamento à Discriminação do Ministério Público do DF e Territórios formalizou, somente neste ano, 31 ações pelos crimes de racismo e injúria racial. Ou seja, quase o dobro de ocorrências de 2013. No ano passado, a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepir-DF), por meio do Disque Racismo, identificou 153 casos de racismo, um crime inafiançável e punido com privação de liberdade.
Nos primeiros dois meses de 2014, a soma dos boletins de ocorrências totalizou 65 denúncias de racismo e de injúria racial — uma média de 1,3 caso por dia, contra 1,2 em todo o ano passado —, segundo levantamento da Coordenação de Inteligência e Estratégia da Polícia Civil do DF. Os números mostram que a violência étnica, considerando apenas a parcela de negros, não arrefece. Ao contrário, é crescente na capital e, provavelmente, outras grandes cidades do país, levando-se em conta a vitimização dos jogadores negros de futebol. Os ataques aos afrodescendentes não são apenas verbais. Hoje, inúmeros são os registros de violência física contra eles, a exemplo do que ocorre com os homossexuais. A repressão afeta inclusive a religiosidade de matriz africana. Está em curso um processo de desumanização do indivíduo e de rompimento explícito da falsa democracia racial.
Urge, portanto, uma reação da parcela lúcida da sociedade contra o avanço desse processo de apartamento dos grupos sociais, seja por aspectos étnicos, culturais, religiosos, seja por outros motivos que estimulem o acirramento de ânimos que culminam em conflitos mais graves. Para isso, é essencial rever as políticas públicas da educação e eliminar quaisquer brechas que permitam aos agressores se beneficiarem da impunidade.
Visão do Correio Braziliense -11/09/2014
Mas 126 anos após a edição da Lei Áurea, que aboliu a escravatura, o país ainda rasteja frente à ignorância de parcela da sociedade brasileira, que se revela racista e preconceituosa em relação aos negros. Em pleno século 21, temos indivíduos que comparam os afrodescendentes a macacos, em uma exibição pública e constrangedora da representação do atraso.
Parte dessas pessoas não está apenas nos estádios de futebol. Na capital da República, o Núcleo de Enfrentamento à Discriminação do Ministério Público do DF e Territórios formalizou, somente neste ano, 31 ações pelos crimes de racismo e injúria racial. Ou seja, quase o dobro de ocorrências de 2013. No ano passado, a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepir-DF), por meio do Disque Racismo, identificou 153 casos de racismo, um crime inafiançável e punido com privação de liberdade.
Nos primeiros dois meses de 2014, a soma dos boletins de ocorrências totalizou 65 denúncias de racismo e de injúria racial — uma média de 1,3 caso por dia, contra 1,2 em todo o ano passado —, segundo levantamento da Coordenação de Inteligência e Estratégia da Polícia Civil do DF. Os números mostram que a violência étnica, considerando apenas a parcela de negros, não arrefece. Ao contrário, é crescente na capital e, provavelmente, outras grandes cidades do país, levando-se em conta a vitimização dos jogadores negros de futebol. Os ataques aos afrodescendentes não são apenas verbais. Hoje, inúmeros são os registros de violência física contra eles, a exemplo do que ocorre com os homossexuais. A repressão afeta inclusive a religiosidade de matriz africana. Está em curso um processo de desumanização do indivíduo e de rompimento explícito da falsa democracia racial.
Urge, portanto, uma reação da parcela lúcida da sociedade contra o avanço desse processo de apartamento dos grupos sociais, seja por aspectos étnicos, culturais, religiosos, seja por outros motivos que estimulem o acirramento de ânimos que culminam em conflitos mais graves. Para isso, é essencial rever as políticas públicas da educação e eliminar quaisquer brechas que permitam aos agressores se beneficiarem da impunidade.
Visão do Correio Braziliense -11/09/2014