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URBANISMO » Inaugurada a praça do Parque das Sucupiras

Além da inauguração da praça, os moradores fizeram uma faxina no Parque das Sucupiras

Na manhã de ontem , foi inaugurada a Praça do Parque das Sucupiras. O espaço, próximo ao balão do Sudoeste Econômico e da Catedral Rainha da Paz, é a última reserva de cerrado na área central de Brasília, e a inauguração é uma vitória para quem protege o patrimônio ambiental. Sem regulamentação, o espaço virou disputa imobiliária entre os defensores do cerrado e aqueles que querem a expansão do Sudoeste. “O parque é um projeto assinado, em 2005, pelo então governador, Joaquim Roriz, mas que nunca foi implementado. Só agora, com a ajuda do diretor de Parques e Jardins da Novacap, Rômulo Ervilha, conseguimos consolidar a praça e o parque”, conta o presidente da Associação Parque Ecológico das Sucupiras (Apes), Fernando Lopes.
A luta pela regulamentação do parque é antiga. Em 2003, a Apes começou suas atividades para preservar o local. Três governos depois, ainda não alcançaram o objetivo final. “Queremos ter cercas, placas e trilhas para caminhada. Fizemos um plano de manejo, todo o dever de casa para consolidar o projeto, mas a falta de apoio do Ibram (Instituto Brasília Ambiental) dificulta. Até o padrão das placas depende deles”, conta Madalena Rodrigues, uma das fundadoras da Apes.
Cerrado urbano
A bióloga Bárbara Fonseca, 37 anos, conta que o cerrado é lar de espécies de animais e plantas endêmicas, que são específicas do tipo de vegetação. "Ter esse tesouro próximo do centro é muito valioso. Preservar é muito importante, ainda mais aqui, onde ainda se tem chance", afirma. A bióloga é moradora do Sudoeste e descobriu a Apes há quatro anos, enquanto caminhava pela área, e explica que os eventos anuais da associação são importantes para conscientizar os moradores, que muitas vezes nem sabem da importância do parque.
"Sem urbanismo sustentável, desmatando o cerrado, perdemos várias espécies de pássaros — eles vão para outras áreas muitas vezes sem condições e correm o risco de serem extintos. Costumávamos observar tucanos aqui, e há muitos anos eles desapareceram do parque”, explica o arquiteto e observador de aves Tancredo Maia, 67 anos. Hoje, as gralhas do campo, beija-flores, bem-te-vis, canários-da-terra, tico-ticos e suiriris lutam contra o descaso e permanecem na área.
Além da ameaça constante do desmatamento e dos incêndios típicos da seca candanga — alguns membros da associação ajudam no combate e prevenção do fogo —, o descaso é preocupante. Montes de lixo se acumulam perto das calçadas e moradores de rua aproveitam a mata para fixar residência. “A Administração do Sudoeste dá bastante apoio e, além de estarmos sempre de olho na área, organizamos a limpeza do cerrado pelo menos uma vez por ano. Dependemos do interesse da comunidade”, conta Madalena.
Ontem, o advogado Silas Souza, 51 anos, se juntou à Apes para contribuir com a conservação da mata. “Eu caminho aqui e sempre vejo muito lixo. Conheci a associação passando por aqui e vim ajudar a limpar o cerrado, não me conformo com a sujeira”, explica. Silas conta que encontrou muitas bitucas de cigarro, copos plásticos e até entulho de construção. “As pessoas acham que não é razoável viver com o lixo dentro de casa, mas acham que é normal que toda a população tenha que viver com o lixo nas ruas. É a teoria da janela quebrada, se um local está malcuidado, a tendência é de que as pessoas não se preocupem com ele. É preciso quebrar o ciclo.”
Disputa imobiliária
Em 2009, contrariando o projeto inicial de Brasília, foi projetada a expansão do Sudoeste, com a criação da Quadra 500 — 22 prédios de seis andares que ocupariam a área do Parque das Sucupiras e a antiga área da Marinha. No ano seguinte, o então presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) deu permissão para a construção, mas o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) contestou a decisão.
De lá para cá, o projeto tramita na Justiça. Em 2011, a Justiça Federal manteve a decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e proibiu qualquer construção na área. “Esse espaço vale de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões, é a galinha dos ovos de ouro dos lobistas que estão na luta para construir a expansão. É um milagre que a área ainda esteja protegida, e é
resultado do esforço da comunidade”, conta o professor de arquitetura e urbanismo da UnB Frederico Flósculo. Segundo ele, o projeto de Lucio Costa proibia qualquer construção na área
.


Por: 
Juliana Contaifer - Correio Braziliense - 01/09/2014

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