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Rombo externo é o maior da história

Saldo negativo nas transações com o exterior alcança US$ 83,6 bilhões nos últimos 12 meses, deixando o Brasil vulnerável a novas ondas de turbulência da economia mundial. Deficit já representa 3,7% de tudo o que é produzido no país.

Por: Deco Bancillon - Correio Braziliense - 25/10/2014

O Brasil está cada vez mais vulnerável a choques externos, o que poderá colocar em xeque a capacidade do país de atrair investimentos e suportar a instabilidade que o mundo enfrentará a partir de 2015, quando os Estados Unidos passarem a subir os juros. Dados do Banco Central (BC) divulgados ontem mostram o tamanho do problema. Em 12 meses até setembro, o deficit nas transações correntes (conta que inclui a balança comercial, os gastos de brasileiros lá fora, as remessas de lucros de multinacionais e as transferências de rendas) chegou a US$ 83,6 bilhões, o pior resultado da história. 

Ainda mais preocupante do que o número em si é a tendência desfavorável. Em setembro, as trocas do país com o resto do mundo ficaram no vermelho em US$ 7,9 bilhões, o patamar mais elevado para o mês desde 1990. Um ano antes, o saldo negativo era de apenas US$ 2,7 bilhões — uma diferença de quase 200%. Os observadores mais pessimistas não previam um rombo tão grande. Na média, os economistas de bancos e corretoras apontavam para perda de US$ 7 bilhões. Já o BC estimava deficit menor, de US$ 6,7 bilhões.

Os resultados reforçam o quadro de fragilidade. Nem mesmo a estagnação da economia, situação que, em tese, levaria uma queda nas importações e a um maior equilíbrio, tem conseguido reduzir o rombo nas contas externas. No fim de setembro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou relatório em que apontou o Brasil como a nação emergente com maior deficit nas transações correntes. 

No início do ano, outro documento, desta vez publicado pelo Federal Reserve, o banco central norte-americano, já chamava a atenção para os problemas de financiamento externo. O Fed classificou o país como a segunda economia mais frágil, atrás apenas da Turquia. Na época, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reagiu com ironia à constatação da autoridade monetária dos EUA. “O estudo do Fed tem falhas básicas”, disse Mantega.

Vaquinha
Caso os brasileiros se cotizassem para cobrir o rombo com o exterior, seriam necessários 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas no país, para zerar o deficit. Para a maioria dos economistas, o percentual já ultrapassou o limite além do qual um país se encontra em situação de risco. 

Até recentemente, os fluxos de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), que correspondem a recursos aplicados no setor produtivo, eram mais do que suficientes para compensar o saldo negativo. Em 2011, a folga foi de 27%. Mas, no governo de Dilma Rousseff, com a economia andando de lado e a inflação persistentemente alta, o quadro mudou radicalmente. Neste ano, até agora, o dinheiro cobriu apenas 79,5% da fatura. Para tapar o resto do buraco, o país tem recorrido a capitais especulativos de curto prazo, que vêm ao país atraídos pelos juros altos ou para especular na bolsa. 

Os economistas da consultoria Rosenberg chamam a atenção para o fato de que, há 10 meses consecutivos, o ingresso de IED, medido em períodos de um ano, não é suficiente para cobrir o deficit em transações correntes, “tendência que deve permanecer”, frisa relatório assinado pela economista-chefe, Thaís Marzola Zara. 

Todo país que enfrenta forte desequilíbrio externo, cedo ou tarde sofre com a desvalorização de sua moeda. Nos quatro anos de governo Dilma Rousseff, a moeda norte-americana ficou, em média, 30% mais cara no confronto com o real. Em tese, essa desvalorização ajudaria a aumentar as exportações — já que os produtos nacionais, quando cotados em dólar, ficam mais baratos — e a reduzir o deficit nas contas com o exterior. Não foi, porém, o que aconteceu. 

“A depreciação da moeda brasileira em nada ajudou a melhorar a competitividade externa do Brasil”, disse o diretor do Grupo de Pesquisas Econômicas para a América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos. Os motivos que levaram a uma piora das contas externas, disse o economista português, são a estagnação do crescimento econômico, as pressões inflacionárias resistentes e uma política fiscal frouxa e pouco transparente, comandada pelo Ministério da Fazenda. “Em vez de um ajuste significativo, temos realmente testemunhado um comércio estável e a deterioração do saldo em conta-corrente nos últimos dois anos”, frisou.
 
Balança
Em setembro, inclusive, o mau resultado da balança comercial foi um dos fatores que contribuiu para o rombo das contas externas. A diferença entre o valor das exportações e das importações resultou num saldo negativo de US$ 940 milhões. Também pesaram as remessas de lucros e dividendos feitas por empresas estrangeiras, que somaram US$ 1,7 bilhão, as despesas de US$ 2,2 bilhões com aluguel de máquinas e equipamentos e os gastos de turistas em outros países (veja texto ao lado).

A projeção do BC é que a balança comercial termine o ano com superavit de US$ 3 bilhões — uma queda de 90% em relação ao resultado de apenas três anos atrás. Mas, até setembro, a conta está negativa em US$ 700 milhões. A estimativa oficial é tão improvável que nem mesmo o chefe do Departamento Econômico da instituição, Tulio Maciel, mostrou confiança no cumprimento da meta. “Nossa estimativa é essa, mas será feita nova avaliação em novembro”, disse.

Maciel avaliou que o saldo comercial encolheu por causa da queda de preços dos produtos exportados, em especial matérias-primas como soja, minério de ferro e outras commodities. “No ano, até setembro, as exportações subiram 1,8% em volume, mas caíram 3,9% em preço”, explicou.

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