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EDUCAÇÃO » O PAS alcança a maioridade

Há 18 anos, a prova começou a ser aplicada para candidatos a uma vaga na UnB. Segundo avaliação de professores e alunos, o exame tem dado certo e não existe razão para desistir dele

Manoela Alcântara - Correio Braziliense 
Publicação: 16/11/2014 04:00

Hoje médico, Rafael Souza fez o primeiro PAS, entre 1996 e 1998, e foi aprovado em segunda chamada na UnB  (Minervino Junior/CB/D.A Press)
Hoje médico, Rafael Souza fez o primeiro PAS, entre 1996 e 1998, e foi aprovado em segunda chamada na UnB

Gustavo Araújo chegou a fazer direito na UnB e medicina na ESCS (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)
Gustavo Araújo chegou a fazer direito na UnB e medicina na ESCS

A dupla Gabrielle e Bárbara tenta uma vaga na universidade este ano (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)
A dupla Gabrielle e Bárbara tenta uma vaga na universidade este ano


Em dezembro, o Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília completa a maioridade com uma garantia do atual reitor: não será engolido pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Pelo contrário, abre um novo subprograma em 2014 e comemora a parceria com a educação básica. Após 18 anos da aplicação da primeira prova, o programa conseguiu quebrar o muro que verticalizava as relações. Hoje, em vez de as escolas correrem atrás do conteúdo das provas, as decisões sobre o que será abordado em aula e na avaliação são conjuntas. O Correio ouviu três gerações do PAS para saber o que pensam sobre o certame. Embora as visões sejam diferentes, eles relatam que a experiência os ajudou a amadurecer.

Era 1995. O ex-diretor do Cespe, Lauro Morhy, assumia a reitoria.A vontade de instituir uma avaliação seriada, que não testasse o estudante somente em um vestibular, era discutida há 10 anos, e o documento para implantá-la começa a tomar forma. “É uma oportunidade de avaliar melhor o aluno”, defendia Morhy.

No fim daquele mesmo ano, foi publicado o edital para o subprograma 1996-1998, o primeiro da história da seleção. Rafael Souza Maurmo, hoje com 33 anos, concluía a 8ª série do ensino fundamental. Aluno exemplar, as notas na escola sempre eram excepcionais. Mas ele não conhecia o novo modelo de avaliação aplicado a partir de 1996 e não teve um resultado similar. Na última série do ensino médio, a ficha caiu. Estava longe da pontuação que o levaria para medicina. Nessa hora, recebeu um dos conselhos mais valiosos: “Meu avô, engenheiro muito bem-sucedido, olhou para mim e disse: ‘Não adianta fazer muitos exercícios. Você precisa fazer todos os exercícios’”, conta Rafael. Estudou mais. Só que ficou em 16º, quando só havia 15 vagas para medicina. “Fiquei decepcionado”, lembra. Dias depois, a surpresa: passou em segunda chamada. 

“Foi muito bom. O PAS me fez amadurecer mais cedo. Se não fosse pela avaliação seriada, não teria despertado para essa necessidade de me empenhar ainda no ensino médio”, diz. Rafael se formou em 2004, fez dois anos de cirurgia geral e se especializou em urologia. Hoje, é médico-legista da Polícia Civil e atua em dois hospitais como urologista.

Esforço
Dez anos após Rafael Maurmo iniciar os estudos para o PAS, Gustavo Araújo, 24, acabava de concluir a prova do segundo ano do subprograma de 2005-2007. Aluno do Colégio Militar de Brasília, a rotina de estudos era levada a sério e com rigor. “Diferentemente da maioria dos estudantes, comecei a investir no PAS desde o primeiro ano. Acho que esta é uma das maiores vantagens do programa: ele ajuda a melhorar o ensino médio. Assim, não terá uma formação deficiente”, acredita. 

O empenho levou Gustavo Araújo à aprovação no curso de direito, o segundo mais concorrido da época. Criou uma rotina tão rígida de estudos que não se sentiu incomodado em cursar direito na UnB e medicina na Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS) ao mesmo tempo. Formou-se nas duas faculdades, mas decidiu ser médico. Hoje, com duas graduações, faz residência em pediatria no HMIB. 

Os dois fazem parte dos 21.651 alunos que entraram na Universidade de Brasília pelo PAS, de 1999 até hoje. Entre eles, 7.811 concluíram o curso e outros 7.010 estão para se formar. De 2003 a 2013, cerca de 389 mil pessoas se inscreveram para a seleção, segundo dados do Cespe.

Enquanto Rafael e Gustavo viram o PAS se desenvolver, formaram-se e hoje são profissionais conceituados, Gabrielle Christina Alves e Bárbara Costa da Silva, ambas com 17, buscam uma vaga na UnB. Estudantes de escolas públicas, elas tentam a aprovação pelas cotas sociais. “Eu me inspirei na minha tia. Ela já tinha feito e deu várias dicas para que eu levasse a sério desde o começo. Agora, preciso de 13 pontos para entrar no curso de geografia. Espero conseguir”, afirma Bárbara. A instituição das cotas para alunos da rede pública no PAS foi um estímulo. “A gente acaba ficando para trás. Depois das cotas, pensei: existe um lugar para mim na UnB, e comecei a me esforçar. É difícil passar. A concorrência às vezes é maior do que pelo sistema tradicional”, constata Gabrielle.

A base adquirida no ensino médio e o esforço adicional paulatino fazem dos aprovados no PAS um modelo dentro da Universidade de Brasília. “As análises de desenvolvimento ao longo dos anos com base no Índice de Rendimento Acadêmico (IRA) mostram um desempenho melhor entre os que foram aprovados pelo PAS. É um dos motivos para continuar com o programa. Os dados mostram que é bom para a UnB”, ressalta o decano de ensino de graduação, Mauro Rabelo. 

Os alunos do PAS mantêm o menor índice de reprovação em disciplinas ao longo do curso: 10%. O número passa para 13% no sistema universal e 18% entre os cotistas.


"Foi muito bom. O PAS me fez amadurecer mais cedo. Se não fosse pela avaliação seriada, não teria despertado para essa necessidade de me empenhar ainda no ensino médio”

Rafael Souza Maurmo, 
médico, que passou no primeiro PAS


21.651
Quantidade de estudantes que entraram na UnB por meio do PAS


Linha do Tempo 

1986 
Surge a ideia de criar uma avaliação diferente do modelo de vestibular tradicional, instituído em 1911. Ela começa a ser desenvolvida pela antiga Comissão Permanente de Vestibular (Copev) da UnB, presidida pelo professor Lauro Morhy.

1995 
O documento a implantação do Programa de Avaliação Seriada é aprovado, e o primeiro edital é publicado em dezembro.

1996 
É realizada a primeira prova do PAS, na gestão do então reitor Lauro Morhy. As provas tinham 55 questões, distribuídas em seis blocos de disciplinas. No triênio 1996/1997/1998, os testes apresentavam questões do tipo A (certo e errado) e do tipo B (resposta numérica).

1999 
Os primeiros 880 aprovados ingressam na universidade. É criado o Fórum Permanente de Estudantes. Em 2001, o Fórum Permanente de Professores passa a discutir e definir o conteúdo de um subprograma completo.

2003 
Os 996 estudantes aprovados na terceira etapa do PAS (subprograma 2000/2002) sofrem com um erro durante a correção das provas objetivas. Todas as notas precisam ser recontadas. O Cespe admite o erro e não prejudica ninguém. 

2006 
Com a adoção da Matriz dos Objetos de Avaliação, são introduzidas as questões do tipo C, de múltipla escolha, e do tipo D, que podem ser respondidas de forma discursiva.

 (Zuleika de Souza/CB/D.A Press)

2010 
O PAS passa por mudanças. A partir deste ano, a redação é incluída em todas as etapas da avaliação (antes era só na terceira etapa). A UnB passa a aceitar recursos para as notas da redação.

2013 
Realizado o primeiro processo seletivo em que a Lei de Cotas Sociais (alunos da rede pública de ensino) é aplicada. Entre os 1.417 aprovados, 305 vagas (14,5% do total) são destinadas eles.

2014 
Alunos da terceira etapa poderão optar pela cotas para negros pela primeira vez no certame.

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