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SAÚDE » Menos dinheiro para hospitais

Levantamento feito com base no acompanhamento orçamentário do próprio GDF mostra que transferência de verba para unidades diminuiu nos últimos dois anos. Juntas, Taguatinga, Ceilândia e Base, por exemplo, perderam R$ 4 milhões

Por : Camila Costa Correio Braziliense 
Publicação: 28/11/2014 

Elizângela, com o raio-x do filho, reclama do atendimento:
Elizângela, com o raio-x do filho, reclama do atendimento: "Parece que estamos pedindo um favor"


As intermináveis filas por um atendimento, a espera excessiva por uma consulta e a falta de remédios e de equipamentos na rede pública de saúde do Distrito Federal têm explicação. Os últimos dois anos de governo foram os mais econômicos em repasse de recursos para manutenção e funcionamento de algumas das principais unidades hospitares do DF. Juntos, os hospitais regionais de Taguatinga, Ceilândia e Base deixaram de receber, entre 2012 e 2014, mais de R$ 4 milhões, dinheiro suficiente para resolver parte dos problemas enfrentados pelos médicos e pela população. Verba, por exemplo, capaz de atender a dona de casa Euziana Rodrigues dos Santos, 44 anos, que procurou hospital em Goiânia para tratar de nódulos no seio e na garganta.

A crise no DF é generalizada. Como a coluna Eixo Capital mostrou na edição de quarta-feira, os montantes transferidos do início do mandato de Agnelo Queiroz (PT) até agora minguaram. Reduziram mais que a metade. Em consulta ao sistema de acompanhamento orçamentário do governo, os dados mostram que o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) vive um dos casos mais dramáticos. O repasse deste ano, no valor de R$ 435 mil, representa um terço do destinado em 2013. E apenas 25% do montante transferido para a unidade em 2012.

Sem base

Unidade referência em saúde da capital federal, o Hospital de Base do DF perdeu, nos últimos dois anos, mais de R$ 1,75 milhão. Dinheiro que o governo deixou de repassar para a unidade, com a finalidade de garantir o funcionamento do hospital e o atendimento à população. Em 2012, o GDF transferiu R$ 2,9 milhões. Este ano, R$ 1,2 milhão. Cansada de esperar um exame na unidade, Euziana foi atrás de atendimento em Goiânia. Com dois nódulos no seio e um maligno na garganta, a dona de casa conta apenas com a sorte. “Já perdi a voz duas vezes”, conta, enquanto segura nas mãos o atestado de óbito da sobrinha de 2 anos, que morreu na madrugada da última quarta-feira, durante um procedimento cirúrgico no intestino, no Hospital de Base.

Em Taguatinga e Ceilândia — a última com a maior população do DF —, a situação não é menos grave. A primeira região recebeu R$ 1,015 milhão a menos, enquanto a segunda perdeu R$ 1,3 milhão de recursos de 2012 para este ano. O valor seria suficiente para comprar, por exemplo, 13 kits de materiais básicos para cirurgia em pacientes da Rede Pública. O último repasse feito pelo governo para o Hospital de Base para a compra desses itens foi de R$ 100 mil, na aquisição de medicamentos e materiais médico-hospitalares.

A falta de profissionais também faz parte da dura realidade da saúde pública do DF. A aposentada Ana Antônia Gomes, 60 anos, acompanhava o filho Luís Miguel Antônio Gomes, 25, que machucou o olho jogando futebol. Os dois foram para o Hospital do Paranoá, cidade onde moram, mas não conseguiram atendimento. A unidade estava sem oftalmologista. Mãe e filho dirigiram-se ao Hospital de Base e esperararam cerca de três horas. “A triagem demora muito. São poucos atendentes e não adianta reclamar, pois nada muda”, conta.

Demora 
Já a vendedora Elizângela Teixeira, 35, ficou apavorada quando o filho Hugo, 15, quebrou o nariz andando de bicicleta. Moradora de Pedregal, Elizângela levou o garoto ao Hospital do Gama, porém, se decepcionou com o atendimento. Segundo ela, a demora para fazer um raio-x de foi de duas horas, e as enfermeiras atendiam os pacientes com celular na mão. “Como não podemos pagar um hospital particular, parece que estamos pedindo um favor pelo atendimento”.
Por meio de nota, a Secretaria de Saúde do DF afirma que os repasses realizados às regionais de saúde nos anos anteriores, incluindo Taguatinga e Ceilândia, foram sistematicamente reduzidos, mas que a rede foi abastecida de forma generalizada. A secretaria admite que passa por dificuldades, mas garantiu que “as regionais não ficaram desassistidas.”



Retrato das unidades hospitalares


Hospital Regional de Ceilândia: 
menos R$ 1,3 milhão* 

Ano    Investimento2012    R$ 2 milhões
2013    R$ 1,6 milhões
2014    R$ 700 mil

Hospital Regional de Taguatinga: 
menos R$ 1,015 milhão*

Ano    Investimento2012    R$ 1,94 milhão
2013    R$ 2 milhões
2014    R$ 925 mil

Hospital de Base do DF: 
menos R$ 1,75 milhão*

Ano    Investimento
2012    R$ 2,97 milhões
2013    R$ 2,69 milhões
2014    R$ 1,22 milhões

* Dinheiro que o GDF deixou de transferir entre 2012 e 2014, 
de acordo com o sistema de acompanhamento de gastos do Executivo

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