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Barack Obama e Raúl Castro fazem história

O mundo se surpreendeu com cena inimaginável em dezembro de 2013. Barack Obama se dirigiu a Raúl Castro com a mão estendida. Enquanto os dois se cumprimentavam, trocaram palavras cordiais. Chefes de Estado dos cinco continentes estavam na África do Sul para prestar homenagem a Nelson Mandela. Como Raúl se encontrava ao lado de Dilma, pensou-se que o presidente americano o havia confundido com Lula — daí a efusão. A verdade, porém, era outra.

Estados Unidos e Cuba mantinham conversações secretas no Canadá havia seis meses. Com a mediação do papa Francisco, chegaram a acordo anunciado simultaneamente na quarta-feira. O primeiro passo será o restabelecimento das relações diplomáticas. Havana e Washington reabrirão as embaixadas em breve. Os americanos vão retirar a ilha da lista dos países que incentivam o terrorismo. Com isso, o país poderá obter ajuda do FMI e do Bird. Mais: Washington deixou de se opor à participação da ilha na próxima Cúpula das Américas, em abril, no Panamá.

Os dois líderes, sem dúvida, fizeram a leitura correta do tempo. Obama reconheceu o fracasso da política de isolamento da ilha. Manter Cuba fora do sistema beneficia dinossauros cubanos e latino-americanos. O lobby anti-Castro, formado sobretudo por velhos exilados na Flórida, perde força com a nova geração, que apoia a reaproximação das duas nações. A eles Obama deve, em parte, a vitória eleitoral de 2008 e a reeleição, em 2012. 

O ato histórico, que vira a página da obsoleta Guerra Fria, vem ao encontro do interesse de ambos os governos. Obama, na metade do segundo mandato, precisava mostrar a que veio. Com acirrada oposição do Congresso, pouco pôde fazer nos seis anos de poder. Decidiu, então, agir em espaços nos quais não precisa do Legislativo. Alterou a política da imigração, libertou prisioneiros de Guantámano e, agora, degela as relações com Cuba.

Raúl Castro, por seu lado, estava em via de repetir no século 21 restrições impostas aos cubanos no século 20 com o desmoramento da União Soviética. A tímida abertura econômica dos últimos anos não respondeu às urgências nacionais. Protetores do regime castrista enfrentam séria crise com a queda dos preços do petróleo. É o caso da Venezuela, que trocava óleo por médicos, necessários aos programas sociais de Caracas. Rússia e Irã, além da queda de receita, enfrentam sanções internacionais. Têm dificuldade de enfrentar as próprias carências.

Faltam medidas importantes. Entre elas, a garantia de que o povo cubano terá mais liberdade e melhor qualidade de vida. Também o levantamento do embargo, que depende de mudança da lei e, portanto, do Congresso. O caminho está aberto. Avanços virão. Se mais lentos ou mais acelerados, o tempo dirá. A aposta de ambos os lados é na aproximação em lugar do isolamento como agente para catalisar as mudanças.


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Fonte: Correio Braziliense - 19/12/2014

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