Como explicar a um usuário do transporte público que sofre com as repetidas greves dos rodoviários a utilidade dos caminhões papa-cones?
Mais complicado ainda seria convencer um doente de câncer, há meses sem remédio gratuito para o tratamento, que os R$ 2,6 milhões usados na compra dos veículos não podem ser transferido para a saúde, diminuindo o drama nas filas dos hospitais e das farmácias do GDF.
Os equipamentos licitados e adquiridos pela PMDF, pelo Detran e pelo DER, mostrados pelo Correio na sexta-feira, talvez não sejam relevantes nem mesmo para as áreas a que se destinam, no caso, a segurança e o trânsito.
Durante a Copa do Mundo, os brasilienses se espantaram com a invasão de milhares de cones na zona central da cidade. O Eixo Monumental e as vias do Parque da Cidade foram tomados pelas torres coloridas, demarcando os caminhos e impedindo o estacionamento ao longo das calçadas. Confesso nunca ter visto nada igual. Até hoje, não sei quais eram as funções de tantas peças. Uma utilidade, no entanto, ficou evidente: justificar a compra de veículos para instalá-las e recolhê-las. Bingo!
O trânsito de Brasília chegou a um momento crítico. Os engarrafamentos se multiplicam e algumas áreas estão saturadas. Já não há pistas livres nem nos horários de menor fluxo. A moderna capital do país não tem um sistema moderno de controle dos semáforos — alguns dos sinais funcionam há mais de 20 anos e são itens de museu. A passos lentos (muito lentos), o GDF implementa o sistema de câmeras de vigilância. A intervenção dos órgãos de trânsito, no entanto, ainda é lenta e desarticulada, o que agrava os congestionamentos a cada incidente nas ruas.
Os caminhões que instalam e recolhem os cones não vão solucionar nenhum desses problemas. Alguém pode até argumentar que os esquipamentos são o que o há de mais moderno na Europa e nos EUA… Mas é evidente que a compra dos veículos não deveria constar entre os gastos urgentes do governo de Brasília. Custaram caro num momento em que as contas públicas estão na penúria. Seria importante que o Ministério Público e o Tribunal de Contas evitassem mais desperdício neste momento — lá na frente, se forem realmente importantes, nada impede que os papa-cones sejam adquiridos. Hoje, esse dinheiro pode ser mais bem aplicado. As prioridades precisam ser mais bem discutidas. É para isso que a população paga os impostos e sustenta seus governantes e representantes na Câmara Legislativa.
******
Fonte: Marcelo Agner - Correio Braziliense - 08/12/2014
Mais complicado ainda seria convencer um doente de câncer, há meses sem remédio gratuito para o tratamento, que os R$ 2,6 milhões usados na compra dos veículos não podem ser transferido para a saúde, diminuindo o drama nas filas dos hospitais e das farmácias do GDF.
Os equipamentos licitados e adquiridos pela PMDF, pelo Detran e pelo DER, mostrados pelo Correio na sexta-feira, talvez não sejam relevantes nem mesmo para as áreas a que se destinam, no caso, a segurança e o trânsito.
Durante a Copa do Mundo, os brasilienses se espantaram com a invasão de milhares de cones na zona central da cidade. O Eixo Monumental e as vias do Parque da Cidade foram tomados pelas torres coloridas, demarcando os caminhos e impedindo o estacionamento ao longo das calçadas. Confesso nunca ter visto nada igual. Até hoje, não sei quais eram as funções de tantas peças. Uma utilidade, no entanto, ficou evidente: justificar a compra de veículos para instalá-las e recolhê-las. Bingo!
O trânsito de Brasília chegou a um momento crítico. Os engarrafamentos se multiplicam e algumas áreas estão saturadas. Já não há pistas livres nem nos horários de menor fluxo. A moderna capital do país não tem um sistema moderno de controle dos semáforos — alguns dos sinais funcionam há mais de 20 anos e são itens de museu. A passos lentos (muito lentos), o GDF implementa o sistema de câmeras de vigilância. A intervenção dos órgãos de trânsito, no entanto, ainda é lenta e desarticulada, o que agrava os congestionamentos a cada incidente nas ruas.
Os caminhões que instalam e recolhem os cones não vão solucionar nenhum desses problemas. Alguém pode até argumentar que os esquipamentos são o que o há de mais moderno na Europa e nos EUA… Mas é evidente que a compra dos veículos não deveria constar entre os gastos urgentes do governo de Brasília. Custaram caro num momento em que as contas públicas estão na penúria. Seria importante que o Ministério Público e o Tribunal de Contas evitassem mais desperdício neste momento — lá na frente, se forem realmente importantes, nada impede que os papa-cones sejam adquiridos. Hoje, esse dinheiro pode ser mais bem aplicado. As prioridades precisam ser mais bem discutidas. É para isso que a população paga os impostos e sustenta seus governantes e representantes na Câmara Legislativa.
******
Fonte: Marcelo Agner - Correio Braziliense - 08/12/2014