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#DF: EXECUTIVO » Salários pressionam o caixa

Equipe de transição diz que o rombo nas contas da administração local é 81% superior aos R$ 2,1 bilhões estimados antes. Rollemberg fala em %u201Capagão de gestão%u201D, mas o Buriti não confirma os números e nega o risco de interrupção de serviços.

Por: Bernardo Bittar - Matheus Teixeira - Correio Braziliense 
Publicação: 14/12/2014 

Servidores de diferentes áreas protestaram em frente ao Palácio do Buriti na semana passada por causa de problemas com pagamentos (Bruno Peres/CB/D.A Press)
Servidores de diferentes áreas protestaram em frente ao Palácio do Buriti na semana passada por causa de problemas com pagamentos

O cenário das finanças do Governo do Distrito Federal (GDF) é o pior possível, diz o governador eleito, Rodrigo Rollemberg (PSB). Ele identificou, com o trabalho da equipe de transição, a existência de um rombo de até R$ 3,8 bilhões no orçamento do Executivo local, considerando as contas de 2014 que serão pagas em 2015. Trata-se de um montante 81% maior que o deficit de R$ 2,1 bilhões previsto inicialmente. Para Rollemberg, os motivos do sufoco no caixa são o aumento na folha de pagamento dos funcionários e o que ele chamou de “apagão de gestão”.

No entanto, de acordo com o secretário de Comunicação do governo Agnelo Queiroz, o deficit em questão não existe. André Duda argumenta que o aumento na folha citado por Rollemberg ocorreu porque o GDF contratou cerca de 35 mil servidores nos últimos quatro anos. “O Distrito Federal cresceu. Fizemos milhares de contratações. Foram 14 mil pessoas para a saúde, 4 mil policiais militares e 2 mil bombeiros. É claro que as despesas vão aumentar. Mas nada foi feito sem necessidade”, sustenta o secretário.

Embora o governo negue a desordem financeira, as contas atrasaram. Funcionários públicos e empresas subsidiadas pelo GDF ficaram meses sem receber. O pessoal da saúde resolveu paralisar as atividades, os transportes deixaram de funcionar, gastos de fim de ano, como a decoração de Natal, foram cancelados. Manifestantes chegaram a protestar durante dias seguidos em frente ao Palácio do Buriti, no Eixo Monumental.

A pressão deu certo. Em uma ação emergencial — e controversa — para pagar os professores e funcionários da saúde, o GDF pegou emprestados R$ 86,3 milhões dos cofres da Agência de Desenvolvimento do DF (Terracap). O dinheiro saiu da distribuição de juros sobre capital próprio, recurso que deveria ser repassado à União e ao governo local. No entanto, o segundo foi o único beneficiado, contrariando o estatuto da própria empresa.

Em 2014, o Executivo empenhou R$ 10,5 bilhões no pagamento dos servidores e dos terceirizados, totalizando 54% da arrecadação local. Em 2010, utilizou R$ 5,3 bilhões para o mesmo fim. De acordo com a coordenadora executiva da transição, Leany Lemos, os gastos nunca foram tão ostensivos. “No gráfico, vemos facilmente os gastos abundantes do atual governo. O normal é ver linhas gráficas de receita e despesa serem próximas. No entanto, desde 2012, a linha referente aos gastos de pessoal se descola e ganha proporções muito maiores”, afirma.

Desequilíbrio

Embora as contas estejam atrasadas, a arrecadação do DF permanece semelhante à dos últimos anos, sempre na casa dos R$ 20 bilhões. Na visão do governador eleito, Rodrigo Rollemberg (PSB), a desordem foi o maior problema da administração atual. “O apagão de gestão foi muito forte. O problema nunca foi dinheiro. Agora, o rombo é enorme e causa grande desequilíbrio”, sustenta, dizendo, em outras palavras, que a má administração — e não a falta de verba — afundou o Distrito Federal.

O professor de administração pública da Universidade de Brasília José Mathias-Pereira defende a mesma tese. “O governo atual fez a escolha dos assessores politicamente. Portanto, houve uma coalisão distrital. Quando o governador ou o presidente escolhe mal seus secretários e gestores de agência, é previsível que ele fracasse. O que estamos vendo é isso. Um governo que gastou mais do que deveria, e a equipe não consegue reverter a situação”, avalia.

Para o expecialista, o novo governador tem até um ano para colocar a casa em ordem. Caso contrário, poderá perder o apoio do povo. “O Rollemberg sabia como estava a situação quando decidiu se candidatar. A lua de mel entre eleitores e gestores dura um período entre oito meses e um ano. Se ele não fizer a máquina pública voltar a funcionar adequadamente, poderá ter muita dificuldade para avançar no governo”, conclui José Mathias-Pereira.

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