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#GDF: Cidade paralisada

CRISE NO GDF / Não bastasse a greve dos rodoviários, professores não deram aula ontem. Assim como motoristas, cobradores e funcionários da saúde, os docentes reivindicam salários atrasados. Governo diz que o dinheiro deverá entrar na conta hoje.


Com a pequena quantidade de ônibus em circulação na Epia, policiais militares tiveram que organizar o ingresso de passageiros em coletivos   (Breno Fortes/CB/D.A Press)
Com a pequena quantidade de ônibus em circulação na Epia, policiais militares tiveram que organizar o ingresso de passageiros em coletivos


A população do Distrito Federal sofre com a ausência de serviços básicos, como saúde, transporte público e educação. Há dois meses, os moradores enfrentam a inconstância dos ônibus. Sair de casa para esperar em uma parada não é sinônimo de chegar ao trabalho. Nos hospitais, a falta de dinheiro reflete no fornecimento das refeições a servidores e acompanhantes de pacientes internados. O estoque de alguns remédios está zerado, e o salário de 30 mil empregados não entrou na conta. Ontem, os alunos da rede pública de ensino foram pegos de surpresa. Ficaram sem aula em plena semana de provas enquanto os professores reivindicavam, em frente ao Palácio do Buriti, o pagamento da remuneração. 

Acostumados a receber até o quinto dia útil do mês, os empregados da saúde e da educação estão com as contas atrasadas. Eles reclamam não ter dinheiro para quitar financiamentos bancários, aluguéis, prestação de carro, entre outros. No entanto, de acordo com a Secretaria de Administração Pública do DF, o repasse da verba, cerca de R$ 700 milhões, foi feito na noite da última sexta-feira e deve estar na conta dos servidores hoje. Caso contrário, os trabalhadores prometem parar os serviços até que o dinheiro seja depositado. 

A pasta justificou, por meio de nota, que o atraso ocorreu porque “as operações de transferência dos recursos para a efetivação do crédito referente à folha de pagamento das respectivas áreas somente foram finalizadas no início da noite dessa sexta-feira (dia 5)”. A falta de receita do Executivo neste fim de ano também é uma das justificativas da pasta. Os moradores ouvidos pela reportagem do Correio definem como ‘caos’ e ‘desrespeito’ a situação vivida na capital da República desde o fim de outubro. “Hoje, fui deixar minha filha na escola e encontrei a porta fechada. Sofremos o ano todo com a falta de professores, o excesso de atestados, a falta de lanche. Agora, neste fim de mandato, a cidade está um caos. A gente paga imposto e para onde vai isso tudo?”, questiona Sinval Ferreira Gusmão, 51 anos, supervisor de obras da construção civil.

No transporte público, a situação é ainda pior. Cerca de 700 mil usuários sofrem com falta de ônibus desde a última sexta-feira. Os rodoviários de três empresas e duas cooperativas pararam de rodar porque não receberam os salários de novembro. Para reverter a situação, o Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) efetuou ontem o repasse de R$ 30 milhões para todas as empresas que ofertam o serviço. Somente depois disso, funcionários da Urbi e da Pioneira retiraram os veículos das garagens e voltaram a circular no fim da tarde. 

No entanto, hoje, os trabalhadores da Marechal permanecem com os braços cruzados. Moradores de Taguatinga, Park Way, Ceilândia, Guará e Águas Claras seguirão sem ônibus. Os rodoviários afirmam só retornar às ruas quando os vencimentos estiverem na conta. Ao todo, 17 regiões administrativas ficaram sem transporte público. Ontem, a auxiliar de copa Ivânia Português, 48 anos, ficou quase duas horas na parada do Centro de Taguatinga, à espera de um ônibus para a W3 Sul. Sob frio e chuva, ela contou que deixou o marido doente em casa para trabalhar, e que considera uma desfeita a falta de ônibus. “É muita falta de respeito. O governo não deveria fazer isso com a gente”, lamentou.
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Correio Braziliense
» Luiz Calcagno
» Isa Stacciarini
» Thiago Soares
Colaboraram Manoela Alcântara e Paloma Suertegaray
Publicação: 09/12/2014 

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Hospitais podem parar

» PALOMA SUERTEGARAY
Publicação: 09/12/2014 

Vencimentos atrasados, falta de remédios e condições precárias de trabalho levaram a saúde do Distrito Federal ao limite. Sem o pagamento do mês de novembro, do 13º salário e das horas extras, os servidores da categoria estão em indicativo de greve e se reúnem em assembleia, na manhã de hoje. Além disso, os trabalhadores da empresa responsável por fornecer as refeições a pacientes e acompanhantes nos hospitais anunciaram que cruzarão os braços por falta de remuneração. 

De acordo com a Secretaria de Administração Pública, o dinheiro dos funcionários da saúde foi transferido na última sexta-feira e deve entrar na conta hoje, com quatro dias de atraso. O impasse atinge 30 mil trabalhadores. “Se não recebermos, não há dúvidas: a saúde do DF vai parar. Os únicos serviços que continuarão funcionando serão os emergenciais”, afirmou a presidente do Sindicato de Empregados em Saúde do DF, Marly Rodrigues. Caso o pagamento seja feito, a assembleia, ainda assim, será mantida. “Precisamos discutir os outros problemas que o setor enfrenta, como condições laborais ruins, falta de remédios e equipamentos. Além disso, precisamos começar a pensar no salário do próximo mês”, acrescentou Rodrigues.

Os empregados da Sanoli Indústria e Comércio de Alimentação Ltda., encarregada das refeições de pacientes e acompanhantes nos centros públicos de saúde, também paralisarão as atividades hoje. Este é o terceiro mês em que o fornecimento de alimentos será suspenso devido a atrasos na folha de pagamento. O débito total chega aos R$ 23 milhões. A previsão é de que a dívida seja quitada nas próximas semanas.

“Um caos”

Com a mulher internada há dois meses no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), o mestre de obras Severino Pereira, 53 anos, teve que deixar a esposa sozinha para comprar comida. “É vergonhosa essa situação. Além dos funcionários, todos os acompanhantes estão ficando sem alimentação. Não tivemos café da manhã nem almoço”, comentou. No mês passado, ele já tinha presenciado a suspensão das refeições. “A preocupação é suspenderem para os pacientes também. A situação da saúde está um caos. Minha esposa está esperando a cirurgia há dois meses”, completa.

A falta de medicamentos na rede pública é outro problema. A vendedora autônoma Nádia Frazão, 33 anos, relata que, há uma semana, não consegue adquirir o remédio para diabetes da filha Dayana, 17, chamado insulina glargina. “Ela pode tomar um substituto, mas precisa de muitas outras doses para compensar. A insulina glargina custa mais de R$ 90 e dura apenas uma semana, fica caro.” De acordo com a Secretaria de Saúde do DF, há um processo de aquisição emergencial aberto, e o medicamento deve ser reposto em até 30 dias.

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