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LAVA-JATO » Mais pressão em Foster

Lideranças petistas mandam recado para Dilma: manutenção da atual diretoria da Petrobras é inaceitável e tira a legitimidade do segundo mandato. Oposição quer indiciamento de auxiliar de Youssef.


Por: Paulo de Tarso Lyra - Amanda Almeida - Grasielle Castro Publicação: 14/12/2014



A manutenção da presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, e da atual diretoria da estatal pode deslegitimar o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff e fazê-la queimar um capital político que não tem. Esse foi o recado dado, na noite de sexta-feira, ao chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e ao ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, pelas principais lideranças petistas em Brasília. A avaliação é endossada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“O recado já foi dado à presidente. Ela tem de tomar uma decisão sob pena de trazer, para si, uma crise que até o momento atrapalhava o governo, mas tangenciava o gabinete presidencial”, disse um aliado de Dilma. A presidente, que comemora hoje, em Porto Alegre, 67 anos de idade, foi avisada de que a base governista está “debatendo-se no Congresso para imputar à oposição a pecha de querer deslegitimar uma vitória nas urnas”. E que, por isso, ela não pode dar combustível aos oposicionistas para aumentarem a fogueira na qual o governo arde há tempos.

A demora para um desfecho da situação, na opinião de petistas e aliados, é que todos sabem — inclusive a presidente — que não basta uma simples troca de nomes na diretoria. “A empresa precisa passar por um processo de refundação interna e externa, pois está com a imagem completamente destruída perante os investidores”, declarou um petista, preocupado com os passos erráticos de Dilma no episódio. A presidente esbarraria ainda na dúvida sobre quem colocar caso Graça Foster seja de fato destituída.

De acordo com reportagem da Globonews, na última quarta-feira — dois dias antes de o Valor Econômico divulgar as acusações feitas pela ex-gerente executiva Venina Velosa da Fonseca — Graça Foster conversou com a presidente e colocou o cargo à disposição, mas Dilma teria dito que não havia nada contra a comandante da estatal e manteve o voto de confiança na executiva e amiga pessoal. Mas as novas denúncias feitas por Venina mudam a crise de patamar.

Primeiro porque, pela primeira vez, as acusações partem de alguém “limpo” no processo, e não de pessoas que participavam do esquema e resolveram contar o que sabiam em busca do benefício da delação premiada. Segundo porque derruba-se o pilar de sustentação de Foster de que ela está investigando as acusações de corrupção na empresa. Ela teria sido avisada pela primeira vez por Venina em 2009. Até pode alegar, que, naquele instante, não tinha nada a fazer. “Mas ela assumiu como presidente da estatal em 2012 e nada foi feito. Venina continuou em Cingapura, apesar de ter avisado a Graça sobre as ameaças pessoais que teria sofrido para não contar o que sabia”, lembra um parlamentar.

“Por muito menos, Dilma exigiu do PMDB o afastamento de Sérgio Machado da presidência da Transpetro. Paulo Roberto Costa disse que entregou R$ 5 milhões de propina a ele, mas não tinha provas. No caso de Venina, há documentos e cópias de e-mails comprovando que ela avisou Foster e o próprio Paulo Roberto”, preocupa-se o correligionário. “É ingenuidade achar que o PMDB não colocará essa fatura na mesa nesse momento.”

“Equipe nova”


Uma saída para não se passar o recibo direto da queda por causa das denúncias seria a presidente aproveitar o bojo da reforma ministerial que deve ser realizada ao longo da semana para substituir a atual diretoria da Petrobras. “Ela é a presidente, pode fazer o que quiser. Governo novo, ideias novas, equipe nova”, defendeu o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP). 

A oposição anunciou que incluirá Graça Foster no relatório paralelo que prepara para apresentar à CPMI da Petrobras na próxima quarta-feira. Além da presidente da petrolífera, ontem o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), informou que pedirá o indiciamento de Rafael Ângulo Lopez, auxiliar do doleiro Alberto Youssef, de acordo com as investigações. Segundo a revista Veja, ele negocia acordo de delação premiada com a Polícia Federal.

A publicação diz que, na lista de políticos que receberam dinheiro em espécie das mãos de Lopez, estão o ex-presidente e senador Fernando Collor (PTB-AL), a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PMDB) e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Citados por delatores da Operação Lava-Jato em outros momentos, os três negam envolvimento com o esquema de corrupção. “É nossa obrigação para com a sociedade brasileira pedir o indiciamento dessas pessoas que debocharam da lei, roubando e recebendo a propina delivery”, afirma Bueno.


Um mês nada fácil

Nos últimos 30 dias, a presidente recebeu praticamente uma má notícia por dia. Confira os principais eventos que abalaram o humor da petista:

14/11 

O ex-diretor de serviços da Petrobras Renato Duque e chefes de empreiteiras são presos. No mesmo dia, Julio Camargo, da Toyo Setal, diz que os pagamentos eram feitos na conta de uma empresa de Duque. Aliados pedem a saída de Graça Foster.

17/11 

O Banco Central tenta controlar, mas o dólar bate R$ 2,60.

19/11 

Advogado do lobista Fernando Baiano, Mário Oliveira Filho diz que não se põe um paralelepípedo no Brasil sem fazer acerto. A oposição acusa Foster de mentir na CPMI.

20/11 

Presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco recusa convite para Fazenda e a oposição pede afastamento de Graça Foster.

21/11 
Procurador pede que empreiteiras sejam declaradas inidôneas.

22/11 
Revista publica que o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa avisou à presidente, então ministra da Casa Civil, em 2009, por e-mail, sobre duas obras que teriam sido usadas como fonte para desvio de recursos e pagamento de propina.

24/11

Petrobras admite que é alvo de investigação nos Estados Unidos.

28/11 
Ministro da Agricultura, Neri Geller é citado em depoimentos colhidos pela Polícia Federal, em suposto esquema de fraude com terras da reforma agrária.

3/12

O empresário Augusto Ribeiro de Mendonça Neto e o executivo do grupo Toyo Setal Julio Camargo afirmam ter pagado suborno em obras da Petrobras e que parte do dinheiro foi repassada em doação eleitoral ao PT.

5/12 
PIB é revisado, e previsão de crescimento passa de 2% para 0,8% em 2015.

8/12

Técnicos do Tribunal Superior Eleitoral recomendam a rejeição das contas de campanha de Dilma.

9/12 

Procurador-geral da República, Rodrigo Janot critica a administração da Petrobras e sugere a demissão da direção da estatal.

12/12 

Dólar fecha em R$ 2,67. Maior valor desde 2005.

13/12
Jornal publica que a ex-gerente executiva da área de Abastecimento da Petrobras, Venina Velosa da Fonseca, alertou a atual direção da estatal sobre ilegalidades em contratos da empresa.

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