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"Me escuta, eu tô num orelhão!"

Sim, ainda existem telefones públicos espalhados em todas as cidades do Distrito Federal. Está certo que de 1997 até este ano, o número caiu em cerca de 8 mil unidades, mas ele ainda quebra o galho quando a bateria do celular acaba ou o aparelho é esquecido em casa

Ailim Cabral - Correio Braziliense 
Publicação: 07/12/2014 

Edilson não pode levar o aparelho móvel para o serviço, então, o jeito é falar à moda antiga (Paula Rafiza/Esp. CB/D.A Press)
Edilson não pode levar o aparelho móvel para o serviço, então, o jeito é falar à moda antiga

Avenil até tem smartphone, mas sempre esquece em casa: questão de costume e prática (Paula Rafiza/Esp. CB/D.A Press)
Avenil até tem smartphone, mas sempre esquece em casa: questão de costume e prática


Em meio à multidão da Rodoviária do Plano Piloto, uma mulher, em pé, olha compenetrada para a tela do celular. A cena seria extremamente comum se não fosse por um detalhe inusitado: ela está em frente a um telefone público, o famoso orelhão, se preparando para iniciar uma ligação no aparelho que se vê cada vez menos no Distrito Federal. A auxiliar de tesouraria, Luciana Cristina de Oliveira, 26 anos, conta que, mesmo tendo o aparelho celular, optou por usar o orelhão para fazer ligações interurbanas.

“Eu cheguei da Bahia tem mais ou menos um mês e fica caro para ligar do celular”, explica. Luciana usa o aparelho público entre duas e três vezes por dia para falar com a família. Ela, de acordo com o vendedor de uma loja de artigos telefônicos, Roni Reis, 23 anos, faz parte de um público que sobrevive sem problemas. Ele comercializa cartões telefônicos para orelhão e afirma que, por dia, saem mais de 30 unidades. “As pessoas ainda compram muito, por várias razões: algumas ficam sem bateria, outras esquecem o celular. Mas a maioria usa para fazer interurbano. Fica mais barato”, explica.

Roni Reis tem razão: Enquanto para o celular, o preço corresponde ao valor dos créditos, no orelhão, um cartão de 20 minutos custa, em média, R$ 4. A assessora da gerência de universalização e ampliação do acesso da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Karla do Valle, explica que a importância do aparelho público vai além do término da bateria ou do esquecimento do telefone móvel. De acordo com a especialista, a rede de celulares está mais propícia a quedas em casos de calamidades públicas ou tragédias naturais. Os sistemas também podem ficar congestionados e parar de funcionar, o que ocorre com menos facilidade com os orelhões. “Ele (telefone público) tem, tecnicamente falando, uma estrutura mais simples de comunicação e é muito importante nesses casos extremos”, completa. Além disso, ainda existem pelo país pequenas localidades que não possuem serviço móvel habilitado, sendo o orelhão a única alternativa mais barata.

Queda normal


No entanto, mesmo ressaltando a importância do aparelho, ela aponta que o número de aparelhos no Distrito Federal — que em sete anos caiu de aproximadamente 19 mil para 11 mil — está acima do necessário. Karla esclarece que a quantia de telefones públicos por localidade depende do Decreto Presidencial nº 7.512, no qual existe uma meta que define quantos orelhões vão existir em cada cidade do país. O número é baseado em distâncias e em quantidade de habitantes. Ele é revisto a cada cinco anos, avaliando a necessidade da população.

Karla acrescenta que a revisão é necessária, uma vez que, nos últimos 10 anos, houve uma queda de quase 90% na receita dos orelhões. A diminuição ocorre, em maior parte, em decorrência do aumento no número de celulares. Enquanto existem cada vez menos aparelhos públicos fixos, o número de linhas móveis segue em constante aumento. Hoje, em Brasília, existem 1.648 estações de torres de celular e mais de 6 milhões de linhas telefônicas móveis.


MÚSICA

Mesmo em tempos de celulares, smartphones e tablets, o antigo telefone público ainda inspira compositores e músicos atuais, como o sertanejo Michel Teló e Eduardo Costa. Confira:

Orelhão

(Compositores: Alcebias Flausino/
Nando Marx/Flavinho Tinto/Douglas Melo)


Tô do outro lado da cidade querendo te ver
Mas tudo aqui é tão distante de você
É madrugada e a saudade não quer dormir

Tentei até pedir carona, mas ninguém parou
O celular aqui não pega eu acho que cortou
Bolso vazio e o coração lotado de amor

Eu tô ligando a cobrar para o seu coração
Mas não desliga, me escuta, eu tô num orelhão
Se eu pudesse, meu dinheiro desse, eu tava aí.

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