Na ausência de litoral, Brasília conta com a orla do reservatório para oferecer à população as mais diversas atividades de lazer, esporte, entretenimento e cultura
Por: Isa Stacciarini - Correio Braziliense
Publicação: 07/12/2014
Venho com a prancha para praticar a remada. Sou triatleta profissional e gosto do esporte no lago, principalmente em locais amplos e menos movimentados. Aqui, é o nosso refúgio para a prática de esportes. O lago está limpo e agradável. Muitas pessoas chegam para fazer stand-up paddle, windsurfe e a remada" Rafael Holsbach, 28 anos, educador físico |
"Esta aqui é a minha praia de todos os dias. Venho caminhar com os cachorros e, nos fins de semana, e eu pratico o stand-up paddle e a asa-delta e faço outras atividades. Quem vive próximo à orla sempre frequenta, mas percebo que é o local é pouco democratizado. Mesmo assim, não tem nada melhor do que isso daqui" Luciano Danni, 47 anos, servidor público |
Em meio ao Planalto Central, distante mais de mil quilômetros das cidades litorâneas, Brasília oferece um ponto de refúgio singular. É no epicentro do poder que está o refresco dos brasilienses. A orla do Lago Paranoá, embora artificial, se tornou a praia de quem vive no Distrito Federal. Enquanto em épocas do ano o clima seco castiga a cidade, as margens proporcionam alívio. Desde 1959, antes mesmo da fundação da cidade, a beira do reservatório é contemplada por visitantes e moradores.
O clima praiano, no entanto, é um evento moderno e cresce a cada fim de semana. Palco de diversão, esporte, lazer, entretenimento e atividades culturais, o Lago Paranoá figura como o principal ponto de encontro de pessoas ao ar livre (leia Explore). Diferentemente dos primeiros anos, quando houve muita invasão de terra pública e poluição, o espelho d’água, hoje, é sinônimo de recreação e alvo direto de políticas públicas. Aos sábados e domingos, famílias e amigos se reúnem ao redor do lago.
De norte a sul, as opções oferecidas variam bastante. Alguns pontos se tornaram cartões-postais, com bons ângulos para os amantes da fotografia. Outros servem para banho de sol, mergulhos e corridas. O servidor público Luciano Danni, 47 anos, frequenta a orla na QL 12 do Lago Sul todos os dias. “Esta aqui é a minha praia de todos os dias. Venho caminhar com os cachorros e, nos fins de semana, e eu pratico o stand-up paddle e a asa-delta e faço outras atividades”, conta. Para ele, morador da região, o espaço é a melhor opção de diversão na capital federal. “Quem vive próximo à orla sempre frequenta, mas percebo que o local é pouco democratizado. Mesmo assim, não tem nada melhor do que isso daqui”, afirma.
Amante da água, o educador físico Rafael Holsbach, 28 anos, pratica o surfe quase diariamente no espelho d’água. Ele costuma frequentar os espaços abertos, como o Parque Asa Delta, conhecido como Morro Asa Delta, e a Península dos Ministros. “Venho com a prancha para praticar a remada. Sou triatleta profissional e gosto do esporte no lago, principalmente em locais amplos e menos movimentados. Aqui, é o nosso refúgio para a prática de esportes”, explica. Segundo ele, a qualidade do espaço atrai cada vez mais gente. “O lago está limpo e agradável. Muitas pessoas chegam para fazer stand-up paddle, windsurfe e a remada”, destaca.
Multiúso
O coordenador do Movimento Amigos do Lago Paranoá, Guilherme Scartezini, considera o planejamento do espaço como multiúso. Desde a melhoria das condições ambientais do Plano Piloto, com o aumento da umidade, o lago também é utilizado para geração de energia, tratamento de esgoto e lazer. No entanto, o sociólogo e técnico em meio ambiente argumenta que faltam estruturas nas áreas públicas da orla. “Ainda há pouco investimento nos locais às margens do lago para que o uso seja efetivamente público. Hoje, basicamente, 90% dos clubes estão ao redor da orla, e o governo precisa ter atenção nisso. É necessária a colocação de estrutura nos pontos, com gramado, bancos, banheiros e quiosques”, ressalta.
Segundo Scartezini, a água tem 60% de balneabilidade, ou seja, a qualidade é considerada boa. “Hoje, o grande apelo é a implantação de estruturas para acesso público. A água é excelente, e o espaço proporciona uma qualidade de vida”, considera. A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) informou que 90% da superfície do reservatório é adequada para recreação e contato primário. Apenas as áreas próximas às estações de tratamento de esgoto são consideradas impróprias.
Um grupo da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa) acompanha os níveis de água do lago para o desenvolvimento de atividades como geração de energia, tratamento de esgoto e diversão. Até o fim de dezembro, está programada uma publicação de resolução no Diário Oficial do Distrito Federal que estabelece o grau de elevação do espelho d’água para 2015. Os valores foram estipulados em reunião com representantes da Companhia Energética de Brasília (CEB), da Caesb, do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), da Vigilância Sanitária e da Federação Náutica.
Segundo a coordenadora de Informações Hidrológicas da Adasa, Camila Campos, o nível máximo da água no próximo ano ficará em torno de 1,80 mil metros e o mínimo, de 999,80 metros. “Se a água ficar abaixo do estipulado, pode haver dificuldades na prática de esportes aquáticos, na diluição do esgoto e no fornecimento de energia elétrica. Porém, caso o nível aumente, pode gerar refluxo dentro das estações de esgoto e provocar alagamento em píeres”, esclarece.
Números
37,5 km²
Superfície do Lago Paranoá
12,4 m
Profundidade média
40m
Profundidade máxima, na Barragem do Paranoá
111,8km
Perímetro do reservatório