Paulo Octávio é realmente moldado com o desenho de grande parte dos políticos brasileiros. E com todas as características que esse cargo imputa. Não que elas sejam sinônimos, em sua totalidade, de coisas boas. É um empresário milionário. E muito. Consta dos dados na justiça eleitoral, um mega patrimônio de 323,5 milhões de reais. Esses valores, entretanto, referem-se a 2006, oito anos atrás.
Mas hoje Paulo Octávio definha politicamente. Vive o ocaso como sinônimo de decadência. A ruína e a morte espreitam sedentas. É como se o tempo dele como mandante de um jogo, tivesse passado. E o poder que antes massageava seu ego vive sepulto, sem condições sequer de influir na composição da próxima Mesa Diretora da Câmara Legislativa.
Isso tudo parece ser fruto de uma constante migração de partido, como quem percorre plagas áridas em busca de sagas perigosas.
Migrando de uma a outra legenda, Paulo Octávio chegou a ter poder de decisão no PP, presidido regionalmente pelo distrital Benedito Domingos. Ainda que agora não tenha supremacia de voto. E até por ele ser um dos quatro vice-presidentes da sigla no Distrito Federal.
Antes do PP, Paulo Octávio passou pelo PRN de Fernando Collor e pelo Democratas de José Roberto Arruda e Demóstenes Torres. Os três foram tirados da política de forma vergonhosa. O primeiro conseguiu retornar, mas com as máculas de ser o único (ao menos até agora) presidente a sofrer impeachment.
Dentro da possibilidade de se elencar as atribuições na construção de um político no Brasil, Paulo Octávio conseguiu outro, que vem sendo obrigatório aos agentes das catacumbas legislativas e executivas Brasil afora. Foi preso.
No dia 2 de junho de 2014, às 21 horas, Paulo Octávio foi levado à Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco), no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Ficou quatro dias encarcerado. E hoje, na condição de empresário, é tratado como suspeito de integrar uma quadrilha que corrompia servidores públicos que liberavam documentos para construções de empreendimentos irregulares.
O caso foi desbaratado pela Operação Átrio, desencadeada pela Polícia Civil. Nela, Paulo Octávio foi acusado de falsidade ideológica, organização criminosa e corrupção ativa e passiva. Em um das interceptações telefônicas, ele teria recorrido ao deputado Chico Vigilante para questionar a demora do governo Agnelo Queiroz de liberar o Relatório de Impacto de Trânsito (RIT) para a região onde se ergue um dos seus milionários projetos imobiliários.
De lá para cá, Paulo Octávio vem perdendo o brilho, o ânimo e o vigor político. Nas eleições de outubro tentou se lançar inutilmente a deputado distrital. Adversários avaliam que foi de fato o prelúdio da sua morte. Um gesto que se repetiu. Faz lembrar o começo da derrocada, o caminho para o precipício. Foi em m 2010, quando, de Nova Iorque, anunciou que abria mão da candidatura ao Palácio do Buriti.
Após a ressaca do Mensalão do DEM, Paulo Octávio foi para o PP. Mas sua filiação sofreu resistência de uma ala da sigla. Não importou. Recebeu o aval de Benedito Domingos, que comanda a legenda ao seu bel prazer, sabe-se lá a que preço político. E Benedito, que se despede da cadeira que ocupou por vários anos na Câmara Legislativa enfrentando um delicado processo de cassação soprando que sopra diuturnamente em seu cangote, não viu como constrangedora a filiação de Paulo Octávio.
Benedito tem sempre panos quentes à mão. E questionado se Paulo Octávio seria expulso do partido na hipótese de ser condenado pelos crimes que é investigado, o presidente regional do PP prefere se esquivar “Não se pode fazer pré-julgamento de nada”, justifica.
Como desgraça pouca é bobagem, Paulo Octávio teve parte de seus bens bloqueados pela Justiça. Na quinta-feira, 4, O TJDFT acatou as ações cautelares impetradas pelo Ministério Público e tornou indisponíveis 195 milhões de reais dos acusados na Caixa de Pandora, incluindo P.O., antes conhecido como empresário e político. Agora, também como integrante de uma quadrilha.
Desde que deixou a cela da Deco, Paulo Octávio se fechou em copas. Notibras tentou ouvir dele os planos futuros, mas não obteve resposta. O bloqueio dos bens terá alguma influência nos rumos a tomar pelo político? Ele se acha injustiçado, perseguido politicamente? Teve, realmente, envolvimento com a Máfia dos Alvarás?
Há quem diga que quem cala consente. E quando um ex-deputado, ex-senador, ex-vice-governador e ex-governador de mandato tampão silencia, é porque, no entendimento de observadores políticos, a derrocada é inevitável. E o PP, que sobrevive aos trancos e barrancos no cenário político brasiliense, se insistir em querer associar sua imagem e seu nome ao de P.O., corre o risco de apostar em um empreendimento fracassado.
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Elton Santos
Publicado originalmente em naredecomjoseseabra.com.br - Por: José Seabra