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UMA PRESIDENTE PELA METADE

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Carlos Chagas
A presença do Lula em Brasília, esta semana, para demorados encontros com a presidente Dilma e com as bancadas do PT, indica terem sido restabelecidas as relações entre o antecessor e a sucessora. Claro que o ex-presidente deu mais do que palpites na formação do novo ministério. Indicou nomes e partidos, insistindo na preservação do modelo que impôs a Dilma nos últimos quatro anos: divisão do governo em condomínio com os partidos de sua base parlamentar, permitindo que à sombra do loteamento de cargos possa ser formada maioria no Congresso, capaz de garantir a aprovação de projetos de interesse do palácio do Planalto.
Em suma, nada de novo no limiar do segundo mandato, muito pelo contrário. Fica tudo como estava, com uma presidente da República prisioneira do fisiologismo de sua base.
Indaga-se da hipótese de, dispondo de vontade política, Dilma poderia virar o jogo. A resposta é não, mesmo se desejasse. Com todo o respeito, ela exerceu e mais exercerá a função de presidente pela metade. Despojada de ideologia própria, chorou ao lembrar episódios de sua vida pregressa, ao receber o relatório final da Comissão da Verdade. Demonstrou, com isso, seu despreparo em aplicar a promessa de “governo novo, pensamento novo”. A velha fórmula de contemporizar com a chantagem defendida pelo Lula vedou esperanças e promessas feitas nos palanques, em outubro.
REPETIR O PASSADO
Fica óbvia a estratégia adotada para o futuro: repetir o passado, até mesmo com concessões à direita, tendo como propósito a permanência do mesmo grupo no poder depois de 2018.
Apenas um obstáculo poderá atrapalhar o plano diretor dos companheiros: sua desmoralização diante dos sucessivos escândalos praticados à sombra dos poderes público e privado. As denúncias não param, iniciativas adotadas e por adotar no Poder Judiciário serão capazes de erodir a estrutura plena de corrupção no Executivo e no Legislativo.
Nessa hora, tudo poderá acontecer, até mesmo o rompimento entre Lula e Dilma, já ensaiado no período seguinte às passadas eleições. Quem sabe a presidente conquiste a outra metade de suas atribuições e de seus ideais? Pode não dar tempo, caso continuem ignoradas as lições do passado, aquele que geralmente não diz o que fazer, mas deixa claro o que evitar.

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