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Cristovam Buarque : Nova chance

*Cristovam Buarque 
Um desafio da escola no mundo atual é ensinar novos conhecimentos sem cortar a criatividade do aluno; usar os mais modernos métodos da informação sem impedir a formação plena do aluno; envolver Google e Wikipedia sem deixar de lado a leitura dos clássicos; usar o ensino a distância sem afastar o aluno da convivência com os colegas; ensinar a aprender com outros e a aprender a aprender sozinho; desenvolver no aluno a capacidade para deslumbrar-se com a beleza e entender a lógica do mundo, indignar-se com as injustiças, comunicar-se em diferentes idiomas, obter um ofício que lhe assegure um emprego. O outro desafio é oferecer a mesma chance a cada criança, independentemente da renda dos pais e da cidade em que vive.

O mundo atual exige mudar a pedagogia, contar com novos educadores, novas metodologias nas salas de aulas. Mas, no caso do Brasil, antes mesmo de revolucionar a sala de aula será preciso revolucionar todo o sistema educacional. Além de educadores, precisamos de educacionistas. Os primeiros cuidam de como deve funcionar cada sala de aula, os outros tratam de como deve funcionar o sistema de todas as escolas.

Estamos tão atrasados que, tanto quanto reformar a maneira como ensinar, precisamos ter escolas compatíveis com as novas necessidades. A lenta melhora do sistema atual não permite oferecer as condições para uma educação de qualidade nos moldes que o mundo atual exige. Não será possível utilizar um novo método dentro de cada sala de aula sem construir um novo sistema educacional ao longo do território do país, nas suas cerca de 200 mil escolas.

No seu conjunto, as atuais escolas brasileiras não têm condições de saltar de seu atraso do século 19 para a modernidade do século 21. A atualização do sistema escolar brasileiro exige uma estratégia de substituição do atual e degradado para um novo sistema. Ao longo de algumas décadas, o Brasil teria o sistema ideal para uma economia eficiente, sociedade harmônica, pessoas livres e criativas.

Brasília pode ser o ponto de partida para a implantação de um novo sistema educacional no Brasil. Isso exigirá a contratação de professores sintonizados com a nova escola ideal, com dedicação exclusiva, submetidos a avaliações; substituindo os degradados prédios atuais, por edificações bonitas e bem equipadas, com os mais modernos meios pedagógicos; todas em horário integral. Esse novo sistema irá se implantando no Brasil a partir de cidades.

O próximo governo do Distrito Federal tem a chance de escolher entre apenas organizar e melhorar o atual sistema ou também implantar um ambicioso novo sistema de educação ideal, por cidade. Isso não pode ser feito em todo o DF no prazo de um mandato de governador, mas, se quiser escolher mostrar ao Brasil como seria o sistema ideal, o novo governo poderia implantá-lo em todas as escolas de algumas cidades.

No prazo de poucos anos, seria possível construir novas escolas com os melhores padrões que a modernidade permite, com beleza e conforto; equipá-las com o que há de melhor na tecnologia da informação e da comunicação, substituindo os velhos e arcaicos quadros-negros por modernas lousas inteligentes; fazer uma seleção interna dos professores preparados para o novo sistema, com um salário especial e um contrato especial, pelo qual o modelo atual seria substituído por um sistema de reconhecimento e comprometimento com a qualidade e o mérito.

Para todos os cerca de 17,7 mil alunos de uma cidade, como Brazlândia, seriam necessários cerca de apenas R$ 120 milhões adicionais ao que se gasta atualmente, um valor que corresponde a apenas a aproximadamente 4,1% e dos gastos totais do GDF com o setor de educação em 2014, estimados em R$ 4,08 bilhões. O Distrito Federal seria o primeiro exemplo do novo sistema ideal de educação que o Brasil precisa implantar em todo o território nacional, por cidade, ao longo das próximas décadas.

A grande dificuldade, além dos aspectos legais e gerenciais, será o apoio dos pais e dos professores e da população de cada cidade do DF. O início de um novo governo é o momento oportuno para isso. Há uma expectativa no ar de que podemos ter uma nova chance, depois das chances perdidas no passado. Basta saber se o novo governo vai definir a educação como a sua prioridade, uma das mais diversas prioridades ou apenas mais uma de suas obrigações.

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*CRISTOVAM BUARQUE
Professor emérito da UnB e senador pelo PDT-DF

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