Vamos fazer uma aposta?
Com a equipe que montou no Palácio do Planalto e com o círculo íntimo que tem
para conversar, tomar decisões e tourear o
Congresso, a presidente Dilma Rousseff vai acabar caindo nas mãos de gente
muito mais experiente e esperta. Tipo Gilberto Kassab.
Como corintianos,
palmeirenses e santistas estão carecas de saber, Dilma não gosta de política e
gosta menos ainda de políticos. No primeiro mandato, essa
fragilidade virou força, a deficiência transformou-se em trunfo muito bem
trabalhado pelos marqueteiros e pela marquetagem da
"faxina".
Se ela não gosta,
deveria se cercar de quem sabe fazer e faz com gosto. Não é exatamente isso que
está acontecendo ou, pelo menos, não é assim que os próprios
políticos sobretudo os aliados e os "aliados" estão vendo e
sentindo.
Vamos lá. A Casa Civil
é o coração da administração federal, o coração das articulações políticas, ou
ambas. Bem, quem der um passeio na Câmara, no Senado e
na Esplanada dos Ministérios inclusive, talvez principalmente, pelos
gabinetes do PT vai encontrar um manancial de críticas
ao atual chefe da Casa Civil e virtual presidenciável Mercadante.
Homem sério? Sim. Um
tanto aloprado? Quando julgou necessário. Mas articulador político?! Ok, mas
Dilma tem um articulador político oficial, o ministro de
Relações Institucionais... Como é mesmo o nome dele? Ah, sim! Pepe Vargas,
médico e petista de quatro costados que nunca se destacou
como líder na Câmara, nem líder no Senado, nem interlocutor de ponta de
ninguém. Aliás, com todo respeito, nem mesmo como
deputado.
Tudo bem que Dilma já
se deu ao luxo de ter as também neófitas Gleisi Hoffmann na Casa Civil e Ideli
Salvatti nas Relações Institucionais. Mas,
convenhamos, os tempos eram outros. Ela acabava de ser eleita, tinha a aura de
primeira mulher presidente da República e exalava o
frescor e despertava a esperança dos governantes recémempossados. Ainda podia
fazer o que bem entendesse.
Não é o que ocorre
agora, com a economia como está, o eleitorado dividido ao meio e já escaldado,
políticos insatisfeitos, a Petrobrás jorrando denúncias
sobre o PT, os aliados e o próprio governo. O jogo está muito mais complexo,
muito mais difícil. Aliás, o jogo ou a guerra?
Voltamos aí a Gilberto
Kassab, aquele que pode estar à esquerda, ao centro ou à direita, pode tentar
ser vice do tucano Geraldo Alckmin e ministro da petista
Dilma simultaneamente! e tem como hobby criar partidos. O de ocasião é um
tal PL, que visa recolher os náufragos e enjoados dos navios
tanto governistas quanto oposicionistas.
Significa que Dilma
conta com um aliado que não só lhe foi leal durante a campanha, apesar de uma
pressão infernal para apoiar Aécio Neves, que poderá ser
de enorme utilidade ao cobrir as lacunas, apagar incêndios, abrir portas.
Mercadante, segundo
Marta Suplicy, é um "arrogante e autoritário", capaz de muitas
"trapalhadas". Pepe Vargas é o oposto: não tem poderes, armas, estofo
e personalidade para confrontar ou, ao contrário, acalmar os nervosinhos do
Congresso. A postos, para eventualidades, lá está
ele, Kassab.
Quando Eduardo Campos
estava vai não vai, seu afilhado Fernando Bezerra era ministro e estava doido
para ficar no cargo e convencer Campos a desistir da
candidatura à Presidência e manter a aliança com Lula e o PT. Sabe como Bezerra
desistiu? Ele telefonou para Mercadante, esperando
uma palavra de apoio, um gesto qualquer. Como Mercadante reagiu? Chutou o pau
da barraca:
"Olha, se quiser sair, saia logo. Senão,
nós é que vamos tirá-lo".
Bezerra saiu do
governo, Campos virou candidato, Marina Silva ganhou um partido, Dilma quase
perdeu a eleição. E, reeleita, ganhou o PSB contra ela.
Ah, se fosse Kassab a
atender aquele telefonema...
Estadão - 16/01/2015