Advogado descarta qualquer possibilidade de o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras fechar acordo com a Justiça para contar tudo o que sabe sobre o esquema de corrupção na estatal
Por: João Valadares - Correio Braziliense
Publicação: 17/01/2015
Cerveró: Coaf registrou movimentação financeira de R$ 500 mil em dezembro |
Em dezembro do ano passado, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos referentes à Operação Lava-Jato, aceitou denúncia contra Nestor Cerveró por corrupção e lavagem de dinheiro. De acordo com o Ministério Público Federal, o lobista Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano, e Cerveró receberam US$ 40 milhões de propina entre 2006 e 2007 para intermediar a contratação de navios-sonda destinados à perfuração de águas profundas na África e no México. No depoimento prestado à Polícia Federal na quinta-feira, Cerveró negou ter recebido qualquer suborno de Baiano e também que valores tivessem sido oferecidos.
Ontem, o advogado Edson Ribeiro explicou que o ex-diretor está tranquilo, porém indignado com a prisão. “A decisão sobre o habeas corpus impetrado só deve sair na terça ou na quarta-feir”, alegou. Nesta sexta-feira, a Justiça Federal recusou no fim da tarde o pedido de habeas corpus, mas a tendência é que o advogado recorra ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
"Não há a menor chance disso prosperar. No caso dele, não cabe. Chance zero. A gente nem sequer trata deste assunto. O meu cliente está inconformado com a prisão", Edson Ribeiro, advogado de Nestor Cerveró |
O criminalista ressaltou que anexou aos autos depoimentos que o ex-diretor prestou no ano passado na comissão interna da Petrobras, no Congresso Nacional e todas as cartas em que se colocou à disposição dos órgãos de investigação para falar do caso Pasadena. O advogado salientou que já pediu à Justiça que seu cliente seja ouvido de maneira detalhada sobre todo o processo de negociação de Pasadena. No depoimento que prestou à Polícia Federal, na quinta-feira, o tema não foi abordado.
“Amizade”
Ontem, a Polícia Federal afirmou que a carceragem no Paraná possui duas alas com celas destinadas a presos provisórios. Em uma dessas alas, estão abrigados o doleiro Alberto Youssef, Fernando Baiano e Nestor Cerveró, todos em celas separadas. “Cada um deles compartilha cela com um preso comum, sem ligação com a Operação Lava-Jato.”
Em depoimento, o ex-diretor declarou que “mantinha certa relação de amizade” com o lobista Fernando Soares. De acordo com delatores da Operação Lava-Jato, Baiano era o operador do PMDB no esquema de pagamento de propina por empreiteiras a políticos para obterem contratos com a Petrobras.
À frente da Diretoria Internacional até 2008, ele afirmou que todas as aquisições de equipamentos, construção de refinarias e de gasoduto passavam pela aprovação de toda a Diretoria Executiva, formada por seis diretores e pelo presidente da estatal, que à época era Sérgio Gabrielli, apadrinhado político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A prisão preventiva do ex-diretor foi pedida pelo Ministério Público Federal (MPF). No entendimento da instituição, “Cerveró continua a praticar crimes, como ocultação do produto e proveito do crime no exterior, e pela transferência de bens para familiares. Além disso, há evidências de que ele buscará frustrar o cumprimento de penalidades futuras”.
Conforme informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda, encaminhadas à Polícia Federal, o ex-diretor solicitou, em dezembro, resgate de uma aplicação no valor de R$ 500 mil. Para sacar o dinheiro, Cerveró teria um prejuízo de R$ 200 mil. Os recursos, segundo o MPF, seriam transferidos para a filha de Cerveró, mesmo com as perdas detectadas.
Ontem, a defesa do ex-diretor alegou que ele fez apenas uma consulta. “Ele foi ao banco e fez uma pergunta à gerente. Questionou qual seria o ônus de sacar o dinheiro para sua filha. Foi informado que teria que pagar imposto da ordem de R$ 100 mil. Por isso, ele não fez a transferência”, justificou.
Cronologia
Confira a trajetória de Nestor Cerveró na Petrobras
Assumiu a Diretoria Internacional da Petrobras no início do governo Lula, em 2003. Chegou ao comando da diretoria por indicação do PMDB e do senador Delcídio Amaral (PT). O partido e o senador negam
Em 2006, foi o responsável pelo projeto executivo que embasou a compra da Refinaria de Passadena, no Texas (EUA)
Dois anos depois, Cerveró deixou a Diretoria Internacional da petroleira e recebeu elogios em ata de reunião. No mesmo dia, tornou-se diretor Financeiro da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras.
Após polêmica em torno da negociação de Pasadena, que veio à tona no início do ano passado, acabou sendo exonerado em março.
Um pouco antes da demissão, a presidente Dilma Rousseff afirmou em nota que avalizou o negócio em razão de ter recebido um “resumo técnico e juridicamente falho, pois omitia qualquer referência às cláusulas marlim e put option que integravam o contrato”.
Em abril de 2014, durante depoimento na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, Cerveró rebateu afirmando que “as cláusulas não têm representatividade no negócio e não eram importantes do ponto de vista negocial”.
Em dezembro do ano passado, o ex-diretor passou a responder processo por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava-Jato.
Na madrugada da última terça-feira, Cerveró foi surpreendido por agentes da Polícia Federal, no momento em que desembarcava no Rio de Janeiro. Ele vinha de Londres, onde passou o Natal e o ano-novo.