Muito tem se falado e especulado sobre os entraves seculares
ao desenvolvimento do país, reunidos num conjunto que passou a ser conhecido
como Custo Brasil. Educação, saúde, segurança nas estradas, portos, aeroportos,
ferrovias, burocracia, logística, energia e uma infinidade de setores mal
resolvidos têm adiado, sine die, o verdadeiro dia da independência dos
brasileiros. As raízes dessas mazelas, perdidas nas brumas do tempo, têm
ramificação comum, bem identificável e sempre presente ao longo de nossa história.
Mesmo reconhecendo a inutilidade na busca de culpados por nosso compromisso com
o futuro, não deixa de ser sintomático que, na origem de nossos males, figuram
em primeiro plano e isoladamente, as lideranças políticas. Não todas elas, mas
a grande e significativa maioria. Desse modo, não é exagero afirmar que à baixa
qualidade de nossos representantes políticos devemos todo o subdesenvolvimento.
A razão dessa tragédia nacional situa-se muito além das características pessoais de cada um deles, totalmente alheios ao que se entende por espírito público. Ao reuni-los em núcleos maiores, denominados partidos políticos, que nada mais são do que espécie de clube fechado, multiplicam-se as forças, ao mesmo tempo em que se tornam impermeáveis às influências das ruas e de qualquer fiscalização externa.
Excetuando os períodos monocráticos experimentados pela sociedade, não seria demais conjeturar que as urnas eleitorais, muito mais do que portais de entrada para o mundo da democracia, têm representado verdadeira caixa de Pandora, que, uma vez aberta, libertam o que há de pior para os brasileiros.
Ao Custo Brasil se agrega como fundamental o Custo Político. Essa sensação ficou ainda mais evidenciada para a população em geral com a eleição e posses da nova legislatura e com a eleição e posse dos membros do Executivo. Em ambos os casos, houve o tradicional festejo dos eleitos, com familiares e apoiadores. Muita comida, muita bebida, tapinhas nas costas aos novos membros do clube que chegam. Tudo muito animado e distante, anos-luz, da população, convidada apenas para bancar os festejos, cada vez mais caros, na forma de impostos crescentes.
Fonte: Coluna "Visto, lido e ouvido" Ari Cunha com Circe Cunha - Correio Braziliense


