A presidente Dilma
Rousseff está remoendo duas grandes e perturbadoras derrotas nesta semana. Não
bastasse ter se aventurado numa batalha inglória para impedir a eleição do
deputado Eduardo Cunha (PMDBRJ) para a presidência da Câmara, Dilma agora foi
obrigada a fazer o que teimosamente evitava: demitir Graça Foster da
presidência da Petrobrás.
Eduardo Cunha, o que chega, é considerado com toda
razão um "aliado inimigo" do Palácio do Planalto. Já Graça Foster, a
que sai, é não apenas uma aliada, mas a amiga pessoal que foi uma aposta de
Dilma para tentar tirar a Petrobrás do buraco. Dilma perdeu mais essa aposta.
Agora, é uma questão de tempo.
Se a economia saiu do primeiro mandato aos
frangalhos, a política entra no segundo um caos. Para remendar a economia,
Dilma deu uma guinada na política e na equipe. Mas o que fazer na política?
Sobram voluntarismo e teimosia e faltam prudência e canja de galinha à mesa de
decisões da presidente da República, que se expôs mais do que devia tanto ao
bater de frente com o PMDB para tentar derrotar Cunha quanto ao insistir na
permanência de Graça Foster na Petrobrás muito além do que o mercado, os
aliados e o próprio padrinho Lula recomendavam.
No caso de Cunha, Dilma e seu
time peladeiro do Planalto trabalharam a favor do peemedebista Renan Calheiros
para a presidência do Senado e contra o também peemedebista Eduardo Cunha à da
Câmara. Não foi por uma diferenciação ética, moral, porque não podem dizer que
Cunha não é flor que se cheire e Renan, um santo. Então, foi por levarem em
conta o fator "confiança". Renan é mais palatável ao Planalto porque
é previsível. Cunha não.
No caso de Graça Foster, ela é a última peça que cai,
junto com os diretores e o Conselho de Administração. Não sobra pedra sobre
pedra. Dilma vai ter que reconstruir não só as refinarias superfaturadas, mas
principalmente a credibilidade da Petrobrás. Não é uma tarefa fácil e o
sucessor de Graça tem de vir de fora, com a disciplina da iniciativa privada,
despojado de ideologias e distante de partidos.
Terá de ser um Joaquim Levy da
Petrobrás, capaz de articular o que o Estado anunciou ontem (pág. B4) como
"forçatarefa" para salvar a empresa, enquanto o governo, em
Brasília, quebra a cabeça para criar o que já foi chamado aqui, nesta coluna,
de "Proer" para salvar as empresas parceiras e igualmente
encalacradas. O que está em jogo é o efeito devastador sobre toda a economia do
País.
Por falar em jogo, o ministro Pepe Vargas tentou imitar, sem o mesmo
talento, o estilo Lula de se vangloriar pelas vitórias e de driblar as
derrotas. Segundo ele, o empenho do Planalto para derrotar Eduardo Cunha foi
como uma pelada, com "carrinho, puxão de camiseta, de vez em quando uma
canelada". Depois, continuou, "todo mundo senta e toma uma
cervejinha".
A hora é de cervejinhas, mas, entre um gole e outro, Cunha já
põe no centro do debate da Câmara o Orçamento Impositivo, já aprovado em
primeiro turno. Hoje, as emendas parlamentares são aprovadas no Congresso e
engavetadas no governo. Com a mudança, o governo só terá uma alternativa:
liberar ou liberar as verbas.
Ou seja: Cunha não é mesmo confiável. E num
momento em que a Petrobrás esfarela, pedidos de CPI rondam o Congresso e a
discussão sobre impeachment consome a energia diletante de grandes juristas.
Essas coisas tendem a dar em nada, mas são de grande valia em jogos que têm
"carrinho, puxão de camiseta e, de vez em quando, até canelada". O campeonato está só começando.
Fonte: Estadão


