Por: Sérgio Donato e Natália Moraes
Governador do Df, Rodrigo Rollemberg, deu uma entrevista
exclusiva para a Revista Pepper. Tudo o que você queria saber está aqui.
O Governador do Distrito Federal, Rodrigo
Rollemberg deu uma entrevista exclusiva para a Revista Pepper, e falou do
futuro da cidade, no que diz repeito a cultura, turismo e outros temas
polêmicos. Confira.
Revista
Pepper: Como o senhor pretende aumentar o nível cultural em Brasília
(exposições, shows, eventos), mesmo com o rombo do antigo governo?
Governador Rodrigo Rollemberg: Brasília tem um
altíssimo nível cultural. O que falta é fortalecer políticas públicas e criar
novas estruturas para ativar a produção, o fomento e a circulação do que já é
gerado pela produção cultural das cidades. Isso é o papel do Estado. Temos de
trabalhar com criatividade e cooperação. Se a limitação orçamentária nos impede
de realizar grandes projetos ou construir espaços culturais,
podemos dinamizar a potencialidade das ações de quem cria. Ativar
circuitos e estimular o fluxo da cidadania cultural como, por exemplo, os
processos vivos dos Pontos de Cultura. O mais importante, neste primeiro
momento, será pactuar com a sociedade e comunidade cultural a formulação de
políticas públicas estruturantes para operar com diretrizes programáticas de
cultura e não com políticas voltadas apenas para eventos pontuais e
onerosos.
RP:
O seu plano de governo fala sobre a cultura digital, onde é destacado o
investimento em uma infraestrutura de rede de alta capacidade (internet
avançada) em todo Distrito Federal. Como este projeto vai entrar em prática?
RR: Pretendemos criar um Grupo de Trabalho, liderado pela
Casa Civil, para discutir e articular parcerias para ampliar a infraestrutura
de rede e trabalhar pelo acesso pleno à internet banda larga de qualidade em
todo o DF. Também vamos discutir, no âmbito da Câmara de Governança, a
implantação de um Gabinete Digital, que será uma grande plataforma para a
democracia digital, em permitirá maior participação do cidadão. Vamos realizar,
assim que possível, um seminário envolvendo instituições e especialistas que
estão na ponta desse processo, com o estudo de experiências exitosas de
Gabinete Digital, que será o primeiro passo para implantarmos uma plataforma
que seja modelo no País.
RP: Como
o GDF vai estimular e investir na arte e cultura na cidade?
RR: Antes de tudo, continuar com o que já vem
funcionando, como o Fundo de Apoio à Cultura e a recém-criada Lei de Incentivo
à Cultura. Também vamos estabelecer uma cooperação com o Governo Federal,
empresas e instituições do terceiro setor para potencializar a dinâmica
cultural em todas as regiões do DF, de forma articulada com as políticas
públicas. Nós acreditamos que seja possível avançar em parcerias e na
valorização das iniciativas da própria comunidade cultural. Vamos
trabalhar pela cultura do protagonismo – e não só pela cultura dos consumidores
de arte. É a cultura também vista como processo, e não apenas como produto.
RP:
Já existem planos de circuitos, shows, e eventos gratuitos na cidade, neste
primeiro ano de mandato?
RR: Este será um ano atípico, pois os recursos serão
escassos. Por isso, mais importante que realizar eventos gratuitos neste
primeiro ano, será podermos nos aproximar de quem já vem realizando inúmeros
projetos que têm ocupado os espaços públicos de forma criativa e inteligente,
mobilizando a comunidade. Se pudermos oferecer algum apoio para que estes
projetos tenham continuidade, já será uma vitória.
RP: O Estádio
Nacional de Brasília foi o maior e mais caro estádio construído para a Copa do
Mundo de 2014. Os shows no local continuarão? Como o espaço será aproveitado no
seu mandato?
RR: Primeiro, há um sentimento de que houve uma inversão
de prioridades ao serem destinados quase R$ 2 bilhões para a construção do
estádio. Poderíamos ter um espaço que cumpriria os mesmos objetivos custando
bem menos. Agora que já está pronto, precisamos otimizar o uso do local. Vamos
incorporar o estádio a uma política de turismo e de cultura. E também vamos
usar as salas disponíveis pra redução de custos com alugueis de imóveis. Até
março deste ano, as secretarias de Economia e Desenvolvimento Sustentável,
de Desenvolvimento Humano e Social e do Esporte e Lazer deixarão o prédio
alugado na 509 Norte para ocupar as instalações do Mané Garrincha. A medida vai
gerar uma redução de R$10,7 milhões por ano ao GDF.
RP: Brasília
iria receber as Olimpíadas Universitárias de Verão em 2018. Por que o evento
foi cancelado?
RR: A decisão foi tomada devido à situação financeira na
qual recebemos o GDF. Seria um evento positivo para Brasília, mas a prioridade
é garantir serviços essenciais à população, como educação, saúde e segurança.
RP: Como
o senhor pretende incentivar o turismo na capital federal?
RR: Nossa proposta é consolidar Brasília como líder no
turismo de negócios e eventos. A cidade tem benefícios que proporcionam
comodidade ao turista, como a posição geográfica. Paralelo a isso, temos o
desafio de valorizar Brasília e mudar a visão do brasileiro sobre sua capital,
que é o terceiro polo gastronômico do país, com museu a céu aberto e enorme
potencial para o turismo de negócios. Vamos estender a experiência dos grandes
eventos, além de incentivar projetos e revitalizar a cidade. Quando fui
secretário de Turismo, iniciei o Projeto Orla, que não teve continuidade.
Queremos trazer o Projeto Orla para discussão, modernizá-lo e dar à população e
ao turista a oportunidade de conhecer e se divertir às margens do Lago Paranoá.
Vamos valorizar e divulgar os atrativos da cidade.
RP: Existe
algum plano para melhorar a mobilidade urbana na cidade? Muitas ciclovias foram
construídas no antigo governo, mas os brasilienses ainda pedem mais. O que o
senhor pretende fazer em relação a isso?
RR: O Plano de Mobilidade do DF está sendo construído. A
Secretaria de Mobilidade está elaborando um plano cicloviário para o
Distrito Federal. Técnicos vão identificar e
mapear todas ciclovias para promover as mudanças necessárias e
melhorar a segurança e a mobilidade. Estão previstas a implantação de
mais ciclovias, de ciclofaixas e de ciclorrotas. No DF temos ciclovias e
ciclofaixas planejadas apenas para atender o lazer dos moradores. A meta é
integrar a bicicleta com outros transportes, como ônibus e metrô.
RP: O
Rodrigo Rollemberg foi menino, adolescente e jovem em Brasília. É identificado
com a cidade, sua cultura e sua gente. Em sua posse, convidou: "vamos
ajudar uma cidade que nos deu muito". Parecia falar de sua própria casa,
da casa de todos os brasilienses. Propôs uma parceria dos que amam e cidade. O
que os brasilienses da sua geração, e os filhos dessa geração, podem esperar do
governador?
RR: O que me move é o meu amor e a minha gratidão por
Brasília. Quando assumo a missão de governar a capital do País, celebro
especialmente este vínculo amoroso com a cidade e sua gente. Quero poder cuidar
de Brasília, dialogar com seus moradores, quero servir à nossa cidade e fazer
de Brasília referência em políticas públicas inovadoras, que de fato melhorem a
qualidade de vida de nossa gente.
RP: A
Brasília que o jovem Rodrigo Rollemberg conheceu era um caldeirão cultural,
referência nacional em muitos aspectos, como a música e as artes cênicas. Quais
os planos para devolver à cidade esta vitalidade perdida nos anos recentes?
RR: Importante lembrar que esse protagonismo da sociedade
sempre ocorreu na cidade sem a intervenção do Estado, na maioria das vezes até
como manifestação de rebeldia. O que muda hoje é o sentimento de urgência na
criação de estruturas com políticas públicas continuadas, não só “patrocínios”
de eventos que se esgotam em si. Brasília é um celeiro de cultura, de
talentos em todas as linguagens e expressões da arte e cultura. Esta é uma
vocação da cidade, que inova justamente por ser este ponto de encontro, este
caldeirão cultural, este lugar genuíno da diversidade. Aqui temos gente de todo
o país e de todo o mundo. Esta abertura generosa para a diferença faz de
Brasília um lugar de experimentação e de vanguarda. Não temos que devolver isto
à cidade, pois esses processos já estão aí, mesmo sem o apoio de governos. O
que temos de fazer, como Estado, é oferecer as condições para potencializar,
dinamizar, irradiar e projetar esses processos culturais.
RP: Brasília tem
uma vocação para o verde, para o turismo de aventura, para o ar livre. Como
explorar esta vocação natural para alavancar a economia local e, ao mesmo
tempo, melhorar a qualidade de vida da população?
RR: Brasília precisa de alternativas socioeconômicas
sustentáveis, com foco no turismo histórico, ecológico e cultural. Deve-se
contemplar geração de renda e empregos locais, com produção orgânica,
capacitação de jovens para o turismo, aproveitando o enorme potencial turístico
da cidade que abriga a diversidade do Brasil. Temos aqui a beleza dos
maracatus, dos sambas, do rock, do choro, dos bois, das catiras, dos reisados,
das folias, da música clássica e instrumental, dentre outros tantos gêneros,
unidos sob a estética generosa do Cerrado, que nos oferta importantes circuitos
do ecoturismo. Turismo cultural e natural são eixos centrais dentro de uma
política estruturante para o turismo no DF. Temos de pensar na dinamização
desses circuitos envolvendo, de forma integrada, as várias regiões do DF – e
não apenas ações isoladas no Plano Piloto. Apresentar ao turista a Brasília
modernista e, também, a ancestral, presentes nas escalas monumental e bucólica
propostas por Lúcio Costa, que fazem da cidade um cenário da moderna
arquitetura, bem como um museu a céu aberto. Essa nova vista da cidade será trilhada
por diversos meios de mobilidade, com circuitos de pedestres, bicicleta e, até
mesmo, a cavalo nas áreas rurais.
RP:
Existe na população um sentimento de rejeição forte à Câmara Legislativa. Sem
ela, hoje, não é possível governar. Como equilibrar os interesses de toda a
cidade com a costura de acordos políticos com os deputados distritais? Em que
este governo vai ser diferente dos anteriores?
RR: Nossa diferença começa pelo fato de não termos
loteado o governo. O nosso secretariado tem um perfil técnico. Buscamos pessoas
ligadas às respectivas áreas, que fossem competentes, qualificados e com fichas
limpas. Vamos construir uma relação com a Câmara Legislativa baseada no diálogo
e no respeito. Queremos valorizar a atuação dos deputados distritais e
estabelecer com cada um deles uma relação respeitosa, sempre em defesa dos
interesses da população do DF. Neste processo, trabalharemos com muita
transparência, eficiência e participação popular, fazendo do interesse público
a maior prioridade.