A ex-senadora terá uma série de desafios em 2015. Ela aposta na interação com internautas e na popularidade
A ex-senadora retoma a batalha para registrar a Rede
Sustentabilidade até outubro e ter espaço nas eleições municipais de 2016. Além
disso, terá de lidar com uma base rachada e os entraves da legislação para
novas legendas
O ano de 2015 será de desafios para Marina Silva. A primeira
missão é correr atrás de 100 mil assinaturas para registrar a Rede
Sustentabilidade como partido político, atrair parlamentares e retomar as
disputas eleitorais. Depois, a ex-senadora terá de acalmar a base de apoio, já
que parte ficou insatisfeita com a adesão dela à candidatura presidencial de
Aécio Neves (PSDB-MG). Além disso, a ambientalista terá de lidar com o processo
de saída do PSB, que a acolheu quando não conseguiu registrar a própria legenda
em 2013.
O
principal objetivo da ex-ministra é conseguir o registro da Rede
Sustentabilidade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A militância fez um
mutirão de verão e montou postos de recolhimento de assinaturas durante o
carnaval para conseguir as adesões que restam. A expectativa da legenda é de
que sejam recolhidas 100 mil novas rubricas, número que superaria com sobra as
cerca de 50 mil que faltaram para o registro da sigla em 2013.
De
acordo com a assessoria do partido, não é possível contabilizar a quantidade de
assinaturas obtidas porque muitas das fichas ainda estão nas mãos dos
militantes. A Executiva Nacional da Rede trabalha com a previsão de que o
partido seja reconhecido pelo TSE entre o fim de março e o começo de abril,
muito antes de outubro, prazo final para disputar as eleições municipais de
2016. Entretanto, mesmo com o registro concedido, ainda caberá a Marina lidar
com as dificuldades de uma legenda iniciante e as consequências das decisões
tomadas na campanha eleitoral de 2014.
Um dos
principais articuladores da criação da Rede, o ex-deputado Alfredo Sirkis disse
que não pretende sair do PSB, para onde foi com Marina em 2013. Apesar de
afirmar não ter pretensões políticas no momento, Sirkis acredita ser difícil
que partidos novos tenham sucesso no Brasil com a atual legislação. “A Rede
perdeu o timing político quando não conseguiu se regularizar. Com a nova
legislação, em que os parlamentares que migram não levam ao partido o fundo
partidário e o tempo de tevê, fica muito difícil atuar.” Para ele, será
complicado atrair nomes para a Rede. “Para participar da política de hoje, é
preciso estar pelo menos em um partido de médio porte”, comentou. Membros da
Executiva Nacional da sigla confirmam que já há conversa com parlamentares, mas
preferem não adiantar nomes para “não atrapalhar as negociações”.
Aliados
também estão ressentidos com a atuação durante as eleições presidenciais de
2014. Célio Torino, que era porta-voz da Rede e membro da Executiva Nacional,
fez duras críticas à postura tomada pela ambientalista durante a campanha. “As
propostas dela são iguais às dos outros partidos, que representam a casta
dominante no país. Marina faria, por exemplo, os mesmos ajustes que Levy está
fazendo”, analisa Torino, que pretende organizar uma nova legenda, cujo nome
provisório é Avante, com parte da dissidência da Rede.
Divórcio
Além
de todos os problemas que cercam o destino político de Marina, ela terá de
lidar com a separação do partido que a abrigou. Os laços com o PSB serão
definitivamente rompidos após o registro da Rede. Pelo menos é o que afirma o
presidente do PSB, Carlos Siqueira, para quem, a partir de então, a relação
entre os dois partidos se dará como acontece com qualquer legenda. “Não temos
expectativa de que Marina fique depois da criação da Rede. Ela tem um projeto
próprio, e, apesar da afinidade entre os grupos, nosso apoio ou não à legenda
dependerá das propostas dela e dos nossos interesses”, declarou.
Marina
não deve disputar cargo eletivo nas eleições municipais de 2016. O foco,
novamente, parece ser a Presidência, em 2018. Enquanto isso, ela se manterá
ativa nas redes sociais. Para arrumar a própria casa e superar as dificuldades
da criação do partido, ela conta com a popularidade que tem e lhe rendeu 22
milhões de votos na concorrência do ano passado.
“A Rede perdeu o timing político quando não conseguiu se regularizar. Com a nova legislação, em que os parlamentares que migram não levam ao partido o fundo partidário e o tempo de tevê, fica muito difícil atuar”
Alfredo Sirkis, articulador da Rede
A caminhada da
Rede
» 16 de fevereiro: a Rede
Sustentabilidade é lançada oficialmente, já com Marina Silva como possível
candidata à Presidência nas eleições de 2014.
» 3 de outubro: o colegiado do
Tribunal Superior Eleitoral decide, por 6 votos a 1, não registrar a Rede por
não conseguir validar o número mínimo de 492 mil assinaturas de apoio.
» 5 de outubro: Marina anuncia a
filiação ao PSB e volta à disputa eleitoral.
» 30 de outubro: a presidente
Dilma Rousseff sanciona lei que dificulta o acesso de novos partidos ao fundo
partidário e ao tempo gratuito de rádio e televisão para partidos recém-criados.
2014
» 14 abril: PSB anuncia
chapa com Eduardo Campos como candidato a presidente e Marina como vice.
» 13 de agosto: o então
candidato à Presidência Eduardo Campos morre em acidente aéreo em Santos. Uma
semana depois, Marina é anunciada candidata pelo PSB e aparece como favorita
nas pesquisas eleitorais.
» 5 de outubro: Marina fica em
terceiro lugar no primeiro turno da disputa pela Presidência, com 22 milhões de
votos.
» 12 de outubro: a ambientalista
anuncia apoio à candidatura de Aécio Neves no segundo turno das eleições.
Decisão causa racha no grupo de apoio, inclusive com a debandada de 32 membros
do partido.
2015
Com a
derrota de Aécio, Marina tenta o registro da Rede no TSE. Militância organiza
mutirões para recolher 100 mil assinaturas e conseguir a filiação até outubro,
a tempo de o partido disputar as eleições municipais de 2016.
Fonte: João Bosco Lacerda - Correio Braziliense