A Câmara Legislativa nasceu
com destino sonhado. Seria um poder de vanguarda para uma cidade de vanguarda. A
expectativa tinha procedência. Câmaras e assembleias espalhadas pelas cinco
regiões apresentavam histórico que indignava o eleitor. Vereadores e deputados
se empenhavam não em buscar o bem comum, mas o próprio bem, o de parentes,
cabos eleitorais e financiadores de campanha.
Ao
conquistar o direito de eleger os representantes, o Distrito Federal ganhou a
cidadania por que ambicionavam os moradores que vieram dos quatro cantos do
Brasil. A Constituição de 1988 deu aos distritais duplo papel — o de vereador e
deputado estadual. Mas, longe de corresponder aos anseios dos brasilienses, em
pouco tempo a decepção lhes bateu à porta.
As urnas
deram mandato a quem não soube corresponder à confiança do eleitor. Nos 26 anos
de existência, os desvios registrados na casa do povo rivalizaram com os da
Gaiola de Ouro do Rio de Janeiro. Nepotismo, negociatas, farra com o dinheiro
público, projetos contrários ao interesse da cidade imperaram na pauta. Não
faltaram deputados envolvidos em homicídios e abuso de menores.
Série de
reportagens publicadas pelo Correio Braziliense nesta semana traz à tona
assunto que revoltou as consciências civilizadas da capital da República.
Distritais gastam combustível suficiente para dar 41 voltas na Terra. Em
português claro: cada parlamentar esbanja, em média, R$ 1.500 por dia. Vale
lembrar que o Estado não planta dinheiro nem dinheiro nasce em árvore.
É o povo
que sustenta a orgia com os pesados impostos que deveriam ser destinados ao
bem-estar da população. Há muito a saúde está na UTI, a educação pede socorro,
a mobilidade não avança, a insegurança assusta. Diante de tantas carências,
nada mais revoltante do que tomar conhecimento da gastança irresponsável dos
distritais. Pior: nada mais sem sintonia com a realidade.
As
manifestações que tomaram as ruas em junho de 2013 e abril de 2015 deixaram
recado claro aos políticos — disseram não aos desmandos e à corrupção. A
expectativa é que o sangue novo que tomou assento na CLDF em janeiro deste ano
entenda a mensagem. Doze parlamentares assumiram o mandato pela primeira vez.
Eles têm
dois compromissos. De um lado, trilhar caminho oposto ao escolhido pelos
antecedentes. De outro, contagiar os demais membros para que os sigam. Impõe-se
fazer a leitura correta do tempo e recolocar a Câmara Legislativa nos trilhos
que lhe deram origem. No século 21, honestidade e transparência são
mandamentos. A alternativa é curvar-se a eles. Ou curvar-se a eles.
Fonte: Visão do Correio
Braziliense – 27/03/2015