Com medo de retaliação no
Congresso, Lula e aliados petistas querem que Dilma evite a debandada de
peemedebistas para o novo partido que o ministro das Cidades, Gilberto Kassab,
pretende fundar
Preocupados com o
crescimento dos ataques do PMDB ao governo por tentar viabilizar a criação do
PL, idealizado pelo ministro das Cidades, Gilberto Kassab, aliados palacianos e
até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendem que a presidente Dilma
Rousseff deixe claro que os peemedebistas serão blindados caso a nova legenda
saia, de fato, do papel. Lula mandou emissários avisarem Dilma que Kassab “não
entrega as mercadorias políticas que promete” e que, no atual momento de
instabilidade econômica e política, é suicídio comprar uma briga com o
principal aliado do governo no Congresso.
Lula sabe
com precisão o que é negociar acordos com Kassab. Em 2012, ele buscava o apoio
do então prefeito da cidade para a candidatura do petista Fernando Haddad. Até
que, de última hora, quando o tucano José Serra decidiu se candidatar ao
governo municipal, Kassab promoveu uma aliança com o candidato do PSDB.
Integrantes
da base aliada reclamam da demora na articulação política em responder ao PMDB.
“Eles precisam deixar claro que o Kassab tem todo o direito de fundar um novo
partido, mas que o governo deixará expressa a proibição de tirar parlamentares
do PMDB. Mas o que eles fazem? Estimulam a criação da legenda e ainda atrasam a
sanção da nova lei para que o Kassab consiga dar entrada no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE)”, irritou-se um petista.
O possível troco
O
temor refere-se ao tamanho da artilharia que o PMDB poderá promover em relação
ao governo. Na semana que vem, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, estará na
Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para explicar as medidas
fiscais. Renan e Eduardo Cunha já classificaram as ideias de pífias. O receio é
de que os peemedebistas coloquem novos empecilhos na tramitação das propostas
econômicas.
A outra
possibilidade seria que, animados com o desfecho positivo na batalha contra o
ex-ministro Cid Gomes, os peemedebistas apertassem o cerco até derrubar Kassab
da pasta das Cidades. Ontem, o presidente do Senado voltou a atacar o Planalto.
Renan Calheiros disse que o Palácio do Planalto patrocinou a criação do Partido
Liberal (PL). “Como pode, sob o Ministério da Educação, sob o Ministério das
Cidades, criar-se um partido com patrocínio do governo depois de uma lei clara
proibindo a fusão, aprovada no Congresso Nacional? Essa do ponto de vista
político é insuperável, realmente”, afirmou Renan.
Renan
acusou Cid Gomes e Gilberto Kassab de serem os articuladores da suposta
estratégia. O presidente do Senado faz coro com o da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), que, na quarta-feira, prometeu entrar na Justiça contra a criação do
partido. Eles acreditam que a tática do governo é atrair peemedebistas para a
legenda.
“Os
partidos têm o tamanho que têm porque conquistaram nas urnas. Como pode o
governo patrocinar uma coisa que objetiva diminuir o tamanho de um aliado? Isso
é péssimo exemplo da reforma política que nós vamos ter”, reclamou Renan.
Aliados de Kassab registraram o pedido de criação do partido no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) um dia antes de a presidente Dilma Rousseff sancionar
a lei que restringe a fusão de partidos.
Renan
disse ainda que a estratégia é mais uma falha da coordenação política do
governo. “Do ponto de vista da articulação política dos últimos meses, essa foi
a pior criação”, disparou. Ontem, Kassab negou que esteja patrocinando a
criação do PL para esvaziar o PMDB. “O PSD e o PMDB são partidos parceiros,
unidos em muitos estados”, disse. Ele disse que não tem nenhuma participação
“direta ou indireta” na criação da legenda.
Entenda o caso - Ideia é fundir com o PSD
O PL, caso saia realmente do papel, será a segunda legenda criada pelo ministro das Cidades, Gilberto Kassab, em um período de quatro anos. Em 2011, ele fundou o PSD, partido que obteve a autorização de funcionamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a tempo de concorrer nas eleições municipais de 2012. Patrocinado pelo PT e pelo Planalto, a legenda desidratou diversos partidos, especialmente o DEM, aumentando a base aliada do governo no Congresso.
Agora, Kassab retoma a manobra ao propor a ressuscitação do PL, mas para minguar o papel do PMDB como fiador da aliança governista. A ideia é que, em um primeiro momento, o PL abrigue parlamentares insatisfeitos com os atuais partidos e que poderiam trocar de legenda sem perder o mandato por infidelidade parlamentar.
Como o Congresso aprovou, em 2014, uma regra pela qual os novos partidos não têm direito ao tempo de televisão e ao fundo partidário — uma lei aprovada para prejudicar a criação da Rede pela ex-candidata a presidente Marina Silva —, Kassab pensou a outra parte da estratégia. O recém-criado PL se fundiria ao PSD, para ter direito às mesmas regalias dos políticos pessedistas.
O PL, que ainda não se sabe ao certo se será realmente ressuscitado, desapareceu do cenário político em 2006, após a fusão com o Prona, dando origem ao PR. Até então, a legenda era presidida pelo deputado Valdemar Costa (SP), que se tornou presidente do PR e, hoje, cumpre pena de prisão domiciliar por envolvimento no mensalão petista.
Análise da notícia - Resta a afobação
» Leonardo Cavalcanti
Quando um time está perdendo, a afobação impera. É o que ocorre neste momento com o governo da presidente Dilma Rousseff. Todos os movimentos desde a posse de janeiro mostram como o Palácio do Planalto joga mal na relação com os partidos da base. A tentativa de estimular o ministro Gilberto Kassab a criar mais um partido, e a reação mais do que esperada do PMDB, é o último exemplo das trapalhadas.
O protagonismo peemedebista no Congresso é evidente e aumenta a cada dia. É por isso que o contra-ataque governista deveria ser mais elaborado. A ação combinada com Kassab foi um risco desnecessário. Tal movimento, em outro momento e a partir de uma estratégia distinta, foi tentado para inviabilizar a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, que não emplacou a legenda por incapacidade própria.
A saída encontrada pela equipe para minar o poder de Eduardo Cunha e Renan Calheiros, oferecendo uma nova legenda no futuro para eventuais dissidentes, leva ao aumento imediato de tensão entre o Planalto e o Congresso. E fragiliza ainda mais a capacidade de negociação do governo. A afobação impera.
Troca em ministérios
A reforma ministerial, que pode ser anunciada hoje
pela presidente Dilma Rousseff, deve desapontar o PT. Embora os prováveis nomes
dos novos ministros da Educação, da Secretaria de Comunicação (Secom) e do
Turismo estejam guardados em sigilo pela presidente, a tendência é que o PT não
recupere a Educação e não emplaque mudanças significativas na Secom.
Para substituir Cid Gomes no MEC, o nome que aparece com mais força é o do
secretário municipal de Educação de São Paulo, Gabriel Chalita. Filiado ao
PMDB, pupilo do vice-presidente, Michel Temer, e com bom trânsito com o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, Chalita é visto por aliados palacianos
como o nome ideal. Tem bom conhecimento da área e trânsito político na
oposição, já que foi secretário de Educação do governador Geraldo Alckmin
(PSDB), entre 2003 e 2007.
O Correio apurou que Temer já sondou a possibilidade com Chalita, mas que este
teria dito que, a princípio, prefere continuar em São Paulo. A ida dele para a
gestão de Fernando Haddad faz parte de um acordo para que ele seja indicado
como vice na chapa à reeleição do petista para a prefeitura de São Paulo, no
ano que vem. Peemedebistas lembram que Chalita quase se tornou ministro de
Ciência e Tecnologia, mas que as negociações não prosperaram.
Na Secretaria de Comunicação, em substituição ao ministro Thomas Traumann, um
nome que surge com força é o do jornalista Américo Martins, atual número dois
da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) e ex-diretor da RedeTV! e da BBC. O
PT acompanha de perto a troca de comando na Secom.
O chefe da Casa Civil, ministro Aloizio Mercadante, defende a indicação de um
nome político, como o deputado Alessandro Molon (PT-RJ). Alguns petistas torcem
para que as verbas de publicidade, hoje concentradas na Secom, migrem para o
Ministério das Comunicações, comandado por Ricardo Berzoini (PT). Para um
aliado de Dilma, as duas saídas seriam perigosas, pois comprariam brigas
desnecessárias e um desgaste político gigantesco em um momento de fragilidade
do governo federal.
Para o Ministério do Turismo, o indicado será o ex-presidente da Câmara
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), derrotado nas eleições para o governo
potiguar em 2014. (PTL e JC)
Fonte: Paulo de Tarso Lyra – Amanda Almeida –
Correio Braziliense – 27-05-2015