A ida
de um extesoureiro do PT para a Secretaria de Comunicação da Presidência é um
exemplo estridente do isolamento de Dilma Rousseff, enclausurada no PT, sem
saída. É duplamente dramático, porque Dilma está fraca, o PT está fraco e um
puxa o outro ainda mais para baixo. Típico abraço de afogados, com uma amarga
ironia: a única boia à vista é a receita Joaquim Levy que significa o oposto
do que Dilma e o PT pregavam. Essa nomeação significa que Dilma não está
entendendo nada e/ou não dá a menor bola para a opinião pública, cada vez mais
irritada com escândalos sem fim.
Nada contra a pessoa do afável Edinho Silva,
mas a expressão "tesoureiro do PT" remete a Delúbio Soares, preso no
mensalão, e a João Vaccari Neto, ainda no cargo e réu na Lava Jato.
E o que se
projeta para a Secom? O temor é de manipulação das verbas oficiais de
publicidade, que deveriam ser de governo, mas tendem a ser cada vez mais de um
partido. Lula, Dilma e o PT sempre culpam a mídia pelas próprias desgraças e,
tomara que não, mas podem querer dar uma de Nicolás Maduro na Venezuela e de
Cristina Kirchner na Argentina, usando dinheiro público para chantagear
empresas de comunicação.
Com estagnação em 2014 (PIB de 0,1%), previsão de
recessão em 2015, indústria encolhendo, demissões começando, inflação
disparando e falta de perspectiva asfixiando investimentos, cortar publicidade
tem ares de vingança cruel. Parece, porém, encontrar simpatia na cúpula
petista.
Em recente reunião da bancada do PT na Câmara, presenciada pelo
repórter Pedro Venceslau, do Estado, o líder José Guimarães disse que o governo
"vive uma sangria" e é preciso "radicalizar, ir para a
ofensiva". Para o presidente do partido, Rui Falcão que é jornalista o
governo tem de restringir a publicidade aos meios de comunicação mais aliados.
Ou seja: aos amigos (como os blogueiros sujos, ops!,
"independentes"), tudo; à mídia livre, pão e água.
Aliás, que
jornalista realmente independente assumiria o cargo neste "caos
político", como admitiu a própria Secom? Só um jornalista engajado ou um
militante, um soldado, assumiria a comunicação de governo neste momento. É uma
missão, é ir para o sacrifício, porque a realidade desmente, dia após dia, a
versão de que o derretimento da imagem de Dilma e do partido é "culpa da
imprensa".
Milhões de pessoas foram às ruas em 15 de março, e prometem
voltar em 12 de abril, não por causa da chamada grande mídia, mas por impulso
das redes sociais e pela irritação generalizada com os escândalos bilionários e
institucionalizados no governo Lula, com a incompetência do governo Dilma na
economia, na política e na gestão e com as mentiras de campanha sobre vacas
tossindo.
"Não adianta falar que a inflação está sob controle quando o
eleitor vê o preço da gasolina subir 20% ou a sua conta de luz saltar em 33%.
Assim como um senador tucano na lista da Lava Jato não altera o fato de que o
grosso do escândalo ocorreu na gestão do PT." Quem disse isso não foi a
imprensa malvada, foi aquele documento da própria Secom publicado com
exclusividade pelo portal Estadão.com.br.
Logo... trocar um jornalista por um
tesoureiro do PT e chantagear com verbas publicitárias não vai resolver nada.
Não há marketing que faça o PIB crescer, o emprego aparecer, a inflação cair, a
conta de luz baixar. Nem que apague o mensalão, o petrolão, os títulos que o
Postalis comprou da Venezuela e os bilhões de reais sonegados à Receita a
golpes de propina.
Além de
paciência, como diria o ministro Jacques Wagner, o extesoureiro Edinho Silva
vai precisar muito de... Ah, sei lá. Educação. Depois de tantos erros crassos,
Dilma acertou com Janine Ribeiro no MEC. Um salto e tanto depois de Cid Gomes
na tal "pátria educadora".
Fonte: Estadão - 29/03/2015