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ENTREVISTA: VASCO GONÇALVES (Banco BRB) » Crédito e patrimônio em alta


Novo presidente do BRB comemora o crescimento no valor patrimonial e na carteira de crédito em 2014. Instituição projeta investimentos cautelosos em 2015 e promete melhoria nos serviços e produtos disponíveis no home banking

O BRB divulgou ontem o balanço do exercício de 2014 com crescimento no valor patrimonial do banco nos últimos quatro anos — fechou 2014 em R$ 32,1 bilhões. A carteira de crédito, bem precioso de instituições financeiras, continua evoluindo em todos os segmentos, com destaque para o crédito imobiliário (+31,6%), o agronegócio (+15,1%) e a pessoa física (+11,8%).
 
Em contrapartida, o banco apresentou queda de 24,08% no lucro líquido — em 2014, o resultado foi de R$ 128,3 milhões e, em 2013, R$ 169 milhões. Em entrevista ao Correio, o presidente do BRB, Vasco Gonçalves, que assumiu o cargo no início deste ano, comenta os números do balanço, afirma que o BRB, assim como todo o sistema financeiro, sentiu a alta da taxa Selic, e que em 2015 os investimentos deverão ser cautelosos por conta da situação financeira vivida pelo país. Vasco acredita que o BRB vai recuperar a credibilidade e subir a nota com as agências de investimentos e descartou intenção de venda de ativos. O presidente prometeu ainda melhoria nos serviços e nos produtos para os clientes, em especial em relação à tecnologia.


A nova diretoria assumiu o BRB em 2015. Dessa forma, este balanço refere-se à gestão passada. Como o balanço vai ajudar os senhores a tomar decisões futuras?
O balanço tem vários aspectos positivos. Um deles é que estamos crescendo. As carteiras de crédito estão em crescimento, tanto em crédito comercial quanto industrial, rural, imobiliário. As captações do banco estão crescentes, então, são vários os aspectos positivos. O índice de Basileia, que é um referencial de mercado, também está em um nível bastante confortável.

Por que é importante considerar o índice de Basileia?
O índice de Basileia se resume em quanto o banco pode se alavancar. Essa é uma referência no mercado. A exigência hoje de índice de Basileia é 11%, o BRB fechou o seu balanço em 15,27%, ou seja, com folga para continuar fazendo as operações de crédito.
 
O balanço de 2014 mostrou que o BRB teve diminuição do lucro líquido em 24,08% — em 2013 foi de R$ 169 milhões e em 2014, R$ 128,3 milhões. O que levou a esse resultado?
Nós tivemos um maior resultado na receita de intermediação financeira, no entanto, as despesas também foram maiores, o que se traduz em um resultado líquido menor. Além disso, o BRB, assim como outros da indústria bancária, sentiram com o aumento na inadimplência. Não é significativo em termos do banco, mas a gente tem que dar atenção. Isso ocorreu em todos os bancos. O custo de captação também subiu. O que isso significa? O sistema bancário tem uma característica de captar e fazer empréstimo com juro pré-fixado, dessa forma, quando a taxa Selic sobe, os contratos antigos ficam com os juros mais baixos, firmados antes. 

As despesas também pesaram?
Nós tivemos outras provisões também. De alguns processos internos, que a contabilidade verificou que precisavam de ajustes operacionais. São efeitos não recorrentes, ou seja, eles estão neste balanço e, não necessariamente, eles estarão no balanço seguinte.

São ajustes, gastos que a instituição não previa e o banco precisou cobrir?
Isso. Por exemplo, tarifas não recebidas há mais de 180 dias foram cobradas, mas não foram recebidas, aí você teve que provisionar. Uma ação específica, cível ou trabalhista, que ocorreu e, naquele momento, você tem que separar o recurso contábil em caso de perda judicial. Algumas fraudes que ocorreram no decorrer do tempo também são não-recorrentes.

A que os senhores atribuem o crescimento na carteira de crédito?
Nós temos bastante capilaridade no DF e conseguimos atingir diversos públicos. O banco implementou, nos últimos tempos, o crescimento na área do agronegócio. Isso vem se consolidando e trouxe crescimento. A área imobiliária cresceu também, assim como na pessoa jurídica. Então, com essa capilaridade e esses produtos, o banco tem conseguido crescer. O BRB vem mostrando para as empresas que o banco tem capacidade de atender as necessidades das empresas com produtos e serviços bancários. Veja: o crédito à pessoa física cresceu 14,4%; pessoa jurídica, 10,4%. Índices superiores ao mercado, que teve crescimento no crédito à pessoa física em 13% e à jurídica, em 9,8%. Nós estamos ligeiramente acima do mercado, isso por causa das taxas bastante competitivas e sempre respeitando o nosso cliente.

O carro-chefe ainda é o crédito consignado…
Isso. Uma carteira muito importante que a gente tem e dá muita atenção. Ainda é um carro-chefe.

E é uma carteira boa, de servidores públicos, com estabilidade…
Uma carteira excelente, que tem bastante importância. Todas as instituições financeiras buscam muito essa carteira de crédito consignado para ente público. Não é diferente no BRB, que busca aperfeiçoar os seus produtos, como forma de concessão e atendimento, para ampliar ainda mais esse público.

A aposta feita pelo BRB no Entorno também ajudou no incremento da carteira de crédito do banco?
A gente avançou muito no agronegócio, notadamente na região do Entorno. O banco vem ocupando os seus espaços nessa Ride, que é a Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do DF e Entorno e todo o planejamento estratégico do banco já é focado nesse conjunto de cidades. Não é só Brasília, o foco também está nessa região de interesse econômico nosso. As estratégias do banco já vêm, há algum tempo, nesse sentido e a gente continua nessa expansão. Sempre com cuidado, mas ocupando, porque faz parte do DF. Toda política pública e o sistema bancário devem olhar essa região.

No mês passado, o BRB sofreu um rebaixamento de nota pela agência de investimentos Standard& Poor’s. No comunicado, a agência afirma que o rebaixamento se dá mais pela crise do principal acionista, o GDF, do que pelo desempenho do banco. Como vocês pretendem reverter essa situação? O balanço pode ajudar?

Nós temos, agora, uma conferência em que vamos apresentar o balanço, discorrendo sobre cada ponto. Estamos crescendo as receitas, as carteiras e as empresas de rede vão verificar bem isso. Nos últimos meses, nós fomos impactados não pelos nossos negócios, mas, sim, pela condição do acionista majoritário. E as empresas de rede têm duas formas de avaliação: um grupo que é a instituição e um outro que avalia as condições do sócio majoritário. Nós vimos o que ocorreu nos últimos dois meses no governo, tinha alguma dificuldade na transição. O momento em que o próprio GDF vai mostrando que está ajustando, isso vai repercutir positivamente para nós. É importante dizer que, embora a nossa nota tenha descido um grau, a nossa nota ainda é excelente para o mercado e para as empresas de rede. É um banco com a carteira consolidada, em uma região que tem PIB per capita excelente, não é uma região que pode sofrer grandes impactos pelas mudanças econômicas. A não ser esse detalhe dos problemas do governo local, que são momentâneos e logo vão ser resolvidos. O DF, como região econômica, é importante e boa.

O BRB pensa em vender ativos? Em abrir mais o capital?
Somos uma sociedade anônima, temos um pouco free float, 2,87%, que é a abertura no mercado. A abertura seria uma ampliação desse free float? Não estamos cogitando essa discussão no momento, mas é uma decisão do acionista majoritário, que é o GDF. A gente defende a instituição enquanto instituição pública. Se, como instituição pública, ela pode ter outro rearranjo acionário, cabe ao acionista majoritário, mas nós não estamos discutindo isso.

Uma questão muito demandada pelos clientes do BRB é a qualidade do serviço, em especial, os referentes à tecnologia. Há previsão de investimentos nessa área?
Está no balanço “despesas administrativas”. O banco começou o investimento em tecnologia no ano passado e vai continuar forte. Nós queremos atingir níveis de ponta. Queremos aumentar os nossos serviços no smartphone, no mobile banking, torná-lo mais completo. Queremos melhorar até o segundo semestre os serviços e produtos disponíveis no home banking. Vamos tornar a navegação mais amigável e mais confortável para o cliente. 

E no futuro? Pensam em prosseguir com a política de aumentar a carteira?
O sistema bancário, como um todo, e nós também. A nossa previsão de crescimento continua crescente, mas o crescimento será um pouco menor do que foi nos últimos três anos. Em 2014, houve crescimento e a níveis um pouco acima do mercado. 

Tem previsão para 2015?
Estamos revendo as projeções de crescimento, mas elas serão ligeiramente menores do que nos anos anteriores. Nós vamos continuar crescendo, próximo do que crescemos em 2014, o que, de uma maneira geral, tem sido acima do Sistema Financeiro. Nessa época de dificuldade econômica, que a gente acredita que vai ser momentânea, o crescimento tem que ocorrer com todo cuidado. Por isso, estamos revendo as carteiras e fazendo ajustes no modelo de concessão de créditos, para minimizar os riscos. 



Fonte: Correio Braziliense – 28/03/2015

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