Foram 90 dias de
manifestações, cortes de benefícios, derrotas na Câmara Legislativa, recuos
políticos e cancelamentos de eventos. O próprio Rodrigo Rollemberg afirma que,
até agora, só tratou do caos administrativo. Especialistas cobram ações
positivas
Os primeiros 90 dias de
gestão de Rodrigo Rollemberg (PSB) mostram que o esforço do GDF em organizar
prioridades para iniciar o governo ainda vai durar alguns meses. Desde o início
do ano, o socialista sofre pressão de credores, de servidores públicos e de uma
parcela de aliados sem espaço na máquina. Na Câmara Legislativa, a articulação
é fraca: não há um interlocutor de peso e ele lida com a bancada mais
conservadora da história da Casa — bem diferente do perfil político esquerdista
dele. Com um quebra-cabeça burocrático para resolver e um jogo de interesses
para administrar, Rollemberg tem o desafio de mover uma máquina administrativa
imobilizada e ineficiente.
O ex-senador iniciou o
governo olhando para trás, criticando um “caos administrativo” deixado por
Agnelo Queiroz (PT). Já nos primeiros dias, anunciou que não pagaria salários e
benefícios atrasados de servidores, o que abriu caminho à paralisação de
professores, merendeiras, profissionais da saúde e de uma série de
terceirizados. Também tomou medidas drásticas, como o cancelamento da
Universíade 2019, da etapa da Fórmula Indy, dos repasses às escolas de samba
para o carnaval e da maior parte dos repasses da via-sacra, uma das mais
tradicionais do país.
O
calvário de Rollemberg piorou quando o limite com gastos com pessoal foi
ultrapassado, e as nomeações dos comissionados indicados por aliados políticos
tiveram de ser interrompidas. Diante da opinião pública, Rollemberg perdeu
pontos ao sugerir o Pacto por Brasília, conjunto de medidas que inclui os
aumentos de IPTU, IPVA, ITBI, TLP, e do ICMS sobre gasolina, diesel e telefonia.
Recuos
O
socialista também sofreu baixas. Antônio Fúcio, indicado pelo PSB para assumir
o Detran, deixou o cargo em 4 de janeiro após o Correio denunciar que ele havia
cometido 50 infrações ao volante em um mesmo ano. Já o então subsecretário de
Microcrédito da Secretaria de Trabalho, Alexandre Donikian Gouveia, foi
exonerado em 7 de janeiro após vir à tona um mandado de prisão contra ele,
expedido pela Justiça de Curitiba. Um mês depois, Fábio Rolim deixou uma
diretoria da Terracap responsável pelas licitações e concessões de terras
públicas — ele havia se envolvido em dois escândalos de corrupção: a CPI dos
Bingos, de 2004, e das ONGs, em 2007. Dois administradores — do Guará/SIA e de
Vicente Pires — também deixaram os cargos após divergências com o GDF.
Em outras
oportunidades, Rollemberg se viu obrigado a recuar. Uma das primeiras
demonstrações disso foi sobre a divisão da Administração de Ceilândia, berço da
maior favela da América Latina, o Sol Nascente e o Pôr do Sol. A intenção era
repartir o comando da cidade entre aliados, mas a repercussão foi negativa. Em
janeiro, o governador extinguiu a Secretaria para Assuntos de Pessoas LGBT
depois de pressão da bancada religiosa da Câmara, mas a medida desagradou a
militantes da causa. Em troca, o GDF criou a Coordenadoria de Promoção de
Direitos da Diversidade. Em fevereiro, após o Correio informar o impacto do
aumento do IPTU no bolso dos contribuintes, o GDF também foi obrigado a voltar
atrás na intenção de elevar o imposto, em média, em 80%. Em março, sem
discussão com os distritais, encaminhou um projeto para diminuir de 31 para 24
o número de administrações regionais. Os parlamentares se recusaram a votar o
texto.
Na Câmara, Rollemberg ainda
não conseguiu reunir uma base sólida. Seu partido não elegeu nenhum
representante. Nas matérias polêmicas, como os aumentos de impostos, apenas 12
distritais votam com o GDF. Na propositura de projetos, aliás, o governo
caminha devagar. Ao todo, foram nove leis, incluídas duas suplementações
orçamentárias. Para Joe Valle (PDT), o GDF precisa ser mais transparente. “O
Rodrigo foi eleito para fazer diferente, mas esse processo de transição ainda
não começou”, cobra.
Sem
Raimundo Ribeiro — que deixou a liderança de governo por defender o impeachment
da presidente da República —, quem assumiu o cargo foi o deputado de primeira
viagem Júlio César (PRB), ex-empresário de São Paulo trazido a Brasília para
compor o governo de Agnelo Queiroz. “Estaria mentindo se dissesse que conheço
tudo da política do DF, mas, de 2012 para cá, conheci bem as diferenças e os
pontos críticos da cidade”, aponta.
Comunicação
Na
análise do professor de administração pública da Universidade de Brasília José
Matias-Pereira, a gestão de Rollemberg ainda não tem uma marca. “Muitos dizem
que trocamos seis por meia dúzia. A população quer saber se os problemas do dia
a dia serão superados. Se ele não criar as condições para alavancar o DF,
ficaremos sem governo por mais quatro anos”, aponta.
Para o
economista da UnB Roberto Piscitelli, a equipe do novo governo parece
desconhecer a realidade do DF. “Não sei se por ingenuidade ou forma de fazer
política, o fato é que o discurso da herança maldita tem caracterizado o
processo sucessório no Brasil. Os novos dirigentes se isentam de
responsabilidades por alegarem que o caixa está zerado”, diz. Cientista
político e professor da UnB, João Paulo Peixoto classifica como frustrante os
três primeiros meses do governo de Rollemberg. “Não deu para sentir aquele
ímpeto de uma gestão nova, aquelas medidas de impacto. É hora de parar com esse
discurso de crise e colocar algo novo”, sugere.
Para o Buriti, tudo bem
Transparência e trabalho
são, segundo Rollemberg, as marcas do seu governo até agora. “Por enquanto,
estivemos envolvidos em reduzir despesas e aumentar receita, mas tenho certeza
de que, passo a passo, vamos implementar os projetos que vão melhorar a vida da
população”, projeta Rollemberg.
Secretária
de Planejamento, Leany Lemos destaca a mudança na governança como um dos pontos
favoráveis. Ela também cita a compilação de um documento com as medidas
prioritárias de cada secretaria. “Isso nos mostrará os indicadores de cada
pasta e as metas a serem alcançadas.”
Na saúde,
o secretário João Batista comemora a suplementação de R$ 450 milhões no
orçamento da pasta, mas enumera um deficit de 4,5 mil profissionais na rede. Na
Segurança Pública, Arthur Trindade cita a redução da criminalidade nos dois
primeiros meses do ano graças a uma mudança de gestão. “Articulamos melhor os
órgãos e modificamos as rotinas das forças policiais.”
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no Facebook, seis tuítes e oito fotos no Instragram
18 almoços
Encontros
formais realizados durante o dia
49 eventos
Jantares,
encontros diversos e reuniões feitos à noite
4 reuniões
Com todo
o secretariado, além de 96 conversas individuais
Fonte: Thaís
Paranhos , Arthur Paganini - Correio Braziliense – 31/03/2015