Jean
Wyllys, Feliciano, Bolsonaro, Reguffe... Na mídia, especialmente social, esses
congressistas dominam discussões e preferências. Mas como é o desempenho deles
na Câmara e no Senado?
Eles aparecem todos os dias nos sites de notícias e nas redes
sociais — para o bem ou para o mal. Você e seus amigos são capazes de discutir
por horas para defender ou atacar um deles. Mas, afinal, como é o desempenho
dos parlamentares pop no Congresso? Quantos projetos e propostas apresentaram?
Eles têm comparecido às sessões? O que fazem Marco Feliciano, Jair Bolsonaro,
Jean Wyllys, Paulo Maluf, Danrlei, Tiririca, Russomano, Romário e Reguffe
quando não estão na tela do seu computador?
Esse
grupo de deputados e senadores pop se mostra heterogêneo ao extremo. Alguns já
eram conhecidos antes da vida política, como o tetracampeão Romário, outros
emplacaram a fama pelas polêmicas acumuladas depois de eleitos, como Jair
Bolsonaro. Há ainda quem seja famoso nas duas situações, como o brother Jean
Wyllys, que ganhou o BBB há 10 anos, e na última terça, protocolou sua mais
recente proposta de lei: a legalização do aborto para todas as mulheres até a
12ª semana de gestação.
Candidato que amealhou mais de 1 milhão de votos de
“protesto”, Tiririca — quem diria? — alinhou para um segundo mandato. Na
primeira passagem pela Câmara, o palhaço que cantava Florentina de Jesus
apresentou 13 propostas — nenhuma foi aprovada. Muitas tentavam dar uma força à
própria turma, como a que pedia isenção de IPI sobre “veículos de utilização
nas atividades circenses”.
Quem
também jogou para a torcida — ainda que sem muito sucesso — foi o ex-goleiro do
Grêmio Danrlei de Deus. No “primeiro tempo”, Danrlei apresentou 18 propostas,
entre elas o PL nº 4.680/2012, que diminui para 9 anos a idade mínima para
obtenção de bolsa-atleta. Mas nem só de futebol viveu o goleirão, que
apresentou um projeto para o motociclista e seu acompanhante a “usar capacete
contendo a placa da motocicleta”. Seja nos gramados, seja no trânsito, Danrlei
ainda não sabe o que é ver um projeto aprovado.
Um dos
alvos preferidos nas redes sociais, Marco Feliciano não pode ser acusado de, ao
menos, não tentar. Entre 2011 e 2015, foram 41 projetos de sua autoria. O
pastor, no entanto, não conseguiu emplacar nenhuma proposta. Quando Feliciano
não apresenta propostas religiosas ou conservadoras, se refugia em temas mais
prosaicos, como quando propôs a proibição da “utilização do ‘cerol’ no
brinquedo desportivo chamado pipa” (PL nº 4.205/2012).
Nos
últimos dois anos, ele se uniu a Bolsonaro em torno de ideias, no mínimo,
polêmicas, como a “castração química” de estupradores (PL nº 5.398/2013 e PL nº
4.333/2012). Cada um apresentou um projeto separado, mas tramitam em conjunto
pelo conteúdo ser o mesmo: tratamento químico para inibir sexualmente os
agressores sexuais. Mais recentemente, Bolsonaro conseguiu novos 15 cliques de
fama ao tentar nomear o mar brasileiro em homenagem ao militar Emílio
Garrastazu Médici, que presidiu o Brasil durante os “anos de chumbo” da
ditadura, entre 1969 e 1974.
Curtir e
votar
Romário
divide com Marco Feliciano o pódio de popularidade nas redes sociais. O perfil
do pastor no Facebook tem 2.080.467 curtidas, enquanto o do jogador conta com
1.732.013 curtidas. Já no Twitter, o Romário vence disparado: 1,97 milhão
contra 344 mil do pastor.
Transexuais,
autoescola e 220 volts
“Rival”
de Feliciano e de Bolsonaro na atual Comissão de Direitos Humanos e Minorias,
Jean Wyllys é outro que domina a timeline das redes sociais do eleitorado,
especialmente o mais jovem. O deputado do PSol tem dois projetos aprovados: a
criação do Dia Nacional do Teatro Acessível e do Dia Internacional do Direito à
Verdade, no calendário nacional. No primeiro mandato, o ex-BBB surgiu com 30
projetos, entre eles o que propôs a Lei da Identidade de Gênero Brasileira,
mais conhecida como Lei João Nery (PL nº 5.002), que garante o direito aos
transexuais de terem a identidade reconhecida conforme se declaram.
Nas
eleições de 2014, Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo, foi reeleito para seu
quarto mandato na Câmara. Apesar de ser o mais experiente da lista, é o que tem
o maior número de faltas (mesmo que todas tenham sido justificadas): 12. Em seu
último mandato, o companheiro de partido de Bolsonaro apresentou 19 propostas —
perdendo, em quantidade, apenas para Tiririca. Entre essas, o PL nº 243/2007,
que está tramitando em conjunto, e propõe o aumento de pena para quem comete
homicídio contra policiais, agentes penitenciários, seguranças, e membros do MP.
O
apresentador de televisão Celso Russomano encerrou o último mandato em 2011 e é
o campeão de projetos apresentados e aprovados na turma pop: 87 e 3,
respectivamente. Russomano foi relator do projeto que alterou o Código de Trânsito,
em 2010, ao tornar aulas noturnas de direção obrigatórias. Ele foi também o que
mais apresentou propostas de emenda à Constituição, dentre elas a PEC que
pretende diminuir de 14 para 12 anos a idade do jovem aprendiz.
Bom de
“internet” e bom de voto, José Antônio Reguffe, assim como Romário, chegou ao
Senado após um mandato como deputado — foi eleito em 2014 com quase um milhão
de votos. Tanto como distrital quanto como federal, fez fama com uma plataforma
política de corte de gastos. Na prática, porém, seu desempenho no último
mandato não difere muito do obtido pelos demais colegas: 30 projetos, mas
nenhum deles tornou-se lei. O PL nº 3.536/2012, por exemplo, propõe que todos
os aparelhos eletrônicos tenham voltagem automática. Há uma explicação para a
proposta: a passagem de Reguffe na Câmara acabou focada no consumidor — até
porque a Comissão de Defesa do Consumidor foi a única da qual ele participou.
O que o
levantamento considera
Como
método de comparação, apenas Projetos de Lei (PL), Projetos de Lei Complementar
(PLP) e Propostas de Emenda à Constituição (PEC) das quais os parlamentares
foram autores em seu último mandato e no que começou este ano foram levados em
consideração. Um projeto de lei deve ser aprovado na Câmara para depois ser
votado no Senado, ou vice-versa. Projetos aprovados em uma casa e em tramitação
na outra já podem contar como aprovados. Quanto à presença, o dado é somente
relativo às sessões de 2015 (até 24 de março, foram 18) e, se há faltas,
algumas podem ter sido justificadas, mas não foram discriminadas do total. No
caso de Reguffe e Romário, não constam as presenças de 2015, porque eles foram
eleitos senadores e a Casa não fornece a informação. Em relação às redes
sociais, alguns parlamentares têm contas, mas não o certificado comprovando
serem eles mesmos — Bolsonaro e Tiririca, por exemplo. Esses casos não foram
levados em consideração. A página do Facebook de Russomano é, na verdade, do
seu programa na televisão, mas foi computada.
Fonte: Correio Braziliense – 31/03/2015