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A civilidade pede passagem

Por: Ana Dubeux 

Apesar dos incríveis avanços em relação à segurança do trânsito em Brasília, com a redução das mortes no decorrer dos anos, o uso frequente do cinto de segurança e a apropriação da faixa de pedestres como um orgulho brasiliense, estamos correndo um risco exponencial de perder todas essas conquistas. E o motivo é o mais triste possível: a simples incapacidade de convivência entre motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres. Trata-se de uma falta de respeito recorrente.

A paz no trânsito depende hoje de uma série de ações governamentais, as quais cobramos insistentemente, mas não podemos deixar de admitir que a principal medida de segurança no trânsito é intrínseca ao ser humano que habita nossas ruas e estradas. A prudência, o respeito ao próximo e a noção de civilidade deveriam ser condições obrigatórias para que qualquer cidadão pudesse transitar livremente a bordo de seu veículo preferido. 

A ideia tão simplória de que os fortes devem ter cuidado com os fracos parece não ser tão óbvia quando se trata de trânsito. O que temos visto é uma lógica invertida, na qual o todo-poderoso motorista sente-se tão superior que é capaz de jogar um carro para cima de um ciclista ou um pedestre. Quantos quilômetros de ciclovias serão capazes de manter distante dos ciclistas a intolerância? Quantos policiais seriam necessários para barrar uma pessoa embriagada e impedi-la de esmagar um jovem contra um muro por causa de uma briga de trânsito? Sim, são casos reais. Sim, há motoristas bem loucos por aí... Existem também ciclistas e pedestres imprudentes, está certo, mas eles são em número muitíssimo menor, pode apostar.

Na semana passada, publicamos um emocionado depoimento da servidora pública e triatleta Juliana Larano Ribeiro, vítima de um ódio injustificável de um médico que provocou sua queda na bicicleta quando treinava no Parque da Cidade. “Esse homem foi capaz de tirar o meu maior prazer na vida, que é poder acordar de manhã e fazer a atividade que me dá ânimo, faz meu sangue correr na veia e me dá alegria”, disse. Ela teve de colocar oito pinos e duas placas de titânio para reconstruir os ossos da mandíbula. Mais de 300 ciclistas protestaram contra a intolerância. Na verdade, contra a ignorância.

O Correio Braziliense, como convém a um jornal que preza pela cidadania e pelo bem-estar dos brasilienses, estampou como manchete o grito contra a selvageria. Sabemos que só há um caminho a seguir para acabar com práticas absurdas, que tiram vidas e encerram os sonhos de famílias inteiras: a educação. Mas, enquanto uma nova geração, bem educada e formada, não chega para mudar nossa realidade, esperamos outra forma de reparar tanta violência: a justiça.



*Ana Dubeux - Editora-chefe do jornal Correio Braziliense 

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