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À QUEIMA-ROUPA: Osório Adriano, Pioneiro, empresário e ex-deputado federal

Qual a sua avaliação, na condição de pioneiro que chegou a Brasília em 1957 sobre a ideia de construir aqui um memorial em homenagem ao ex-presidente João Goulart?
É muito difícil para nós que vivemos na época de Jango aceitar qualquer monumento em favor de quem tentou acabar com Brasília. Esse monumento é do agrado somente da família dele. Ele pretendia fazer aqui uma república sindicalista e provocou, com isso, 21 anos de uma ditadura militar.

Jango não tem ligação com a cidade?
Lucio Costa e Oscar Niemeyer idealizaram um monumento em Brasília apenas para JK, que é o criador e fundador da cidade. Com um monumento para Jango, daqui a pouco, aqueles que saíram pela porta da cozinha vão querer também uma homenagem. Por que não fazer um projeto para Jango em São Borja, no Rio Grande do Sul, a terra dele?

Acha que os moradores de Brasíla rejeitam o monumento?

Quem viveu aqui no período em que Jango Goulart foi presidente pensa assim. Mas há quem leve o debate para o lado ideológico. Cheguei a Brasília como engenheiro e trabalhei na montagem das estruturas metálicas dos 11 ministérios que havia na época e dos 28 andares do Congresso. Logo em seguida, entrou o Jango. Foi um período difícil, que não merece ser lembrado num monumento que prestigia o ano de 1964, como está previsto no projeto de Oscar Niemeyer. Esse é um ano para não ser lembrado. Vamos recordar de 21 de abril de 1960, o ano da inauguração da nossa capital. Digo isso porque tenho muito amor por nossa cidade.

Como o senhor está se recuperando da perda de seu filho Fernando no ano passado?
Fiquei muito triste quando vi aquele helicóptero que caiu com o filho do governador Alckmin, a quem conheço. Pensei no sofrimento que ele estaria passando ao perder um filho com 31 anos, daquela forma. Eu perdi o meu com 48 anos, uma pessoa com toda a força, com experiência e muita disposição para trabalhar. Ele era dedicado e acabara de se formar em engenharia porque decidimos apostar nesse setor. Nem precisava, mas ele era muito determinado. Foi o primeiro da turma. 

Conseguiu retomar o trabalho?
Estou trabalhando. Mas a vida perde muito o sabor. Eu tinha três filhos e em tudo o que faço agora penso que está faltando um. O Fernando era sempre a solução de nossos problemas. Ele sempre tinha uma ideia para o dia a dia. Era também especial. Na hora que chegava, pronto, era a alegria em qualquer lugar.

O atendimento médico foi correto?

Acredito que ele poderia ter sido salvo aqui mesmo em Brasília. Houve uma demora no atendimento, e pode ter sido a causa da morte. Ele nunca tinha fumado nem consumia bebida alcoólica. Jogava tênis. Era muito forte. Outro dia, morreu uma moça muito amiga da minha filha, de parto. São coisas que não deveriam acontecer com pessoas tão jovens.



Fonte: Ana Maria Campos – Coluna “Eixo Capital – Correio Braziliense 

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