O empresário faz balanço dos
40 anos no comando da organização que leva o nome dele, da situação atual da
capital e dos problemas enfrentados pelo setor produtivo. Ele acredita que,
para continuar a crescer, Brasília precisa valorizar o empreendedor
Com 65 anos de vida, 53 deles
morando em Brasília e 40 dedicados à empresa que leva seu nome, Paulo Octávio
comemora as quatro décadas de vida empresarial com a inauguração do
empreendimento de número 700. O objetivo, segundo o próprio, é chegar aos mil
imóveis em, no máximo, 15 anos. Isso tudo sem investir R$ 1 fora do Distrito
Federal. “Não passa pela minha cabeça expandir os negócios para fora da cidade.
Nasci para me dedicar a Brasília”, afirma.
Em entrevista ao Correio, Paulo Octávio se lembra de quando chegou a capital, em 1962, conta histórias dos primeiros anos de vida da cidade, critica os obstáculos ao empresariado local e olha para o futuro. Mas destaca que a vontade maior é de fortalecer a filosofia da empresa: “Temos vários grandes empresários que começaram com a gente. São bem-sucedidos e levam à frente nossos conceitos, de seriedade, compromisso com o cliente e valorização do funcionário.”
Em entrevista ao Correio, Paulo Octávio se lembra de quando chegou a capital, em 1962, conta histórias dos primeiros anos de vida da cidade, critica os obstáculos ao empresariado local e olha para o futuro. Mas destaca que a vontade maior é de fortalecer a filosofia da empresa: “Temos vários grandes empresários que começaram com a gente. São bem-sucedidos e levam à frente nossos conceitos, de seriedade, compromisso com o cliente e valorização do funcionário.”
A empresa Paulo Octavio está completando 40 anos de vida. Como o senhor
avalia a atual situação da companhia?
Nós
iniciamos no setor imobiliário, mas ramificamos para outros segmentos. Hoje,
estamos na área de construção civil, hotelaria, automóveis, seguros,
comunicação e shopping center. Ao todo, geramos 5,2 mil empregos diretos e
outra grande quantidade de postos de trabalho indiretos. Sempre com foco
exclusivo em Brasília. Dá orgulho ver germinar pela cidade uma filosofia que
foi disseminada dentro da empresa. Mais de 30 grandes empresários do DF, dos
mais diversos segmentos, começaram trabalhando conosco. Isso nos enche de
alegria, pois prova que a nossa filosofia, de seriedade, compromisso com o
cliente e valorização do funcionário, está viva em muita gente.
Como o senhor, que chegou aqui no começo da capital, vê a atual situação
da cidade?
Vim de
Lavras, no interior de Minas Gerais, com 12 anos, em 1962. Estudei no Caseb, na
Asa Sul, e depois fui para a Universidade de Brasília (UnB). É surpreendente
ver como está hoje em dia. Lembro-me da época que a gente olhava para o Eixão e
passava um carro a cada 5 minutos. É óbvio que sinto uma alegria enorme em ver
a cidade se desenvolvendo, a vida da população melhorando. São 65 anos de
idade, 53 anos em Brasília, 40 anos de vida empresarial e a sensação de que
este é o lugar ideal para viver o resto da vida.
Muitos empresários reclamam da burocracia para instalar novos
empreendimentos em Brasília. O senhor compartilha dessa avaliação?
O que
aconteceu é que até 2010 todos os projetos eram aprovados pelas administrações
regionais. No último governo, porém, a burocracia aumentou muito e o GDF
resolveu fazer uma força-tarefa e uma central de aprovação de projeto. Não deu
certo. Agora, a gestão de Rodrigo Rollemberg (PSB) criou outra central. Mas,
nesses três meses de governo, não tenho notícia de nenhum projeto que tenha
sido aprovado. Logicamente, isso tem um impacto negativo para o setor. Ou se
coloca esse órgão do governo para funcionar, com grande número de técnicos
competentes, ou teremos um estrangulamento enorme. No nosso caso, por exemplo,
temos 32 empreendimentos esperando aprovação. Alguns deles tramitam há quatro
anos. Então, as frequentes mudanças de normas, de trâmites, fazem com que
Brasília viva uma grande paralisação nesse setor.
Qual é a visão dos demais integrantes do meio empresarial?
O que
tenho escutado é uma queixa generalizada, principalmente com este tipo de
problema, de liberação de alvarás e de documentos dessa natureza. Isso deveria
ser muito mais fácil, pois Brasília é toda regulamentada. Além do mais, o GDF
faz exigências que, ao meu ver, deveriam ser cumpridas pelo vendedor do terreno.
Que tipo de exigências?
Cabe ao
empreendedor viabilizar a aprovação do RIT (Relatório de Impacto de Trânsito) e
o EIZ (Estudo de Impacto de Vizinhança), coisas que deveriam ser obrigação do
vendedor do terreno. Como o Estado é o dono das terras aqui no DF, seria mais
fácil se o próprio GDF atendesse a essas exigências. Aí, muitas vezes, os
empreendedores têm de bater à porta do Detran, de outras entidades, que não têm
estrutura para anteder a demanda. Isso impacta terrivelmente na geração de
empregos e no desenvolvimento do DF. Só em Taguatinga, por exemplo, há 10 mil
apartamentos prontos para moradia sem o habite-se. São prédios que foram
aprovados e tiveram acompanhamento da fiscalização. Mas chega ao fim e surge
alguma dificuldade. Isso atrapalha a todos: o cliente que comprou o lar, o
empresário e o governo, que deixa de recolher impostos.
O que o senhor espera para o futuro de Brasília?
Entendo
que moramos em uma cidade vocacionada para ser o centro da América Latina. Uma
cidade que cresceu além do que Juscelino Kubitschek poderia imaginar. A
realidade hoje é muito maior que o sonho dos pioneiros. Somos cada vez mais
importantes, não só do ponto de vista político, mas também econômico e social.
Encontramos aqui, pela grande miscigenação, uma síntese muito rica do Brasil.
Aqui, germina um novo tipo de sociedade. Apesar das dificuldades, a gente não
para de crescer e acredito que isso vai continuar.
O que o Distrito Federal poderia fazer para atrair mais indústrias e
crescer ainda mais?
A
capacidade de crescimento do DF por meio do serviço público tende a diminuir. A
máquina pública brasileira não conseguirá absorver tanta gente como aconteceu
nos últimos 15 anos. Então, é momento de chamar as entidades de classe e manter
um diálogo permanente com o empresariado. É importante valorizar o
empreendedor, mas de maneira forte. Não só dar incentivos fiscais, mas vender
nossa imagem, mostrar nosso potencial e reduzir a burocracia. Hoje, tem muita
gente desestimulada a começar um novo negócio pelas dificuldades impostas. Já
passei por todo tipo de crise, da deflação à hiperinflação. O que aprendi é
que, nesses momentos, temos de trabalhar ainda mais. Assim, conseguiremos
superar qualquer empecilho.
Qual é o significado de inaugurar o empreendimento de número 700 e quais
os próximos objetivos?
Todos
somos passageiros. Ficarei muito feliz se meus sucessores no comando da empresa
mantiverem meus compromissos com Brasília, de concentrar todos os investimentos
aqui. Fomos a primeira companhia do Brasil a alfabetizar todos os
trabalhadores. Hoje, somos a única do país a fazer cursos de inclusão digital.
Entregamos kit escolar para os filhos dos nossos trabalhadores. Temos uma
afinidade muito grande com o corpo de funcionários. Em 40 anos, fizemos um nome
e temos o respeito de todos. Sentimos que, nesse tempo todo, só fizemos o bem,
estimulamos o desenvolvimento da cidade. Esse amor que temos pela própria
empresa que vai perdurar.
Qual o próximo empreendimento?
Vamos
lançar, em 21 de abril, aniversário da cidade, um empreendimento ousado, com a
arquitetura de Ruy Ohtake. Foi a primeira construção com o método inovador
Green Building, uma certificação internacional que comprova o design arrojado,
o bom uso da energia e o respeito ao meio ambiente. Fazemos parte de um setor
que ainda tem muito a aprender, que pode avançar muito tecnologicamente. Isso
nós buscamos diariamente.
"Cabe
ao empreendedor viabilizar a aprovação do RIT (Relatório de Impacto de
Trânsito) e o EIZ (Estudo de Impacto de Vizinhança), coisas que deveriam ser
obrigação do vendedor do terreno. Como o Estado é o dono das terras aqui no DF,
seria mais fácil se o próprio GDF atendesse a essas exigências"
Fonte: Matheus Teixeira –
Correio Braziliense