Carlos Chagas
Surpresa não foi a decisão do PT de incorporar-se
à CUT, ao MST e à UNE para protestar, entre outras iniciativas, contra a
regulamentação de terceirizações em contratos de trabalho, mais o aumento de
impostos, do custo de vida e a redução de direitos trabalhistas. Já se esperava
que a natureza seguisse o seu curso. Afinal, mesmo silenciar diante da prática
de políticas neoliberais já vinha sendo uma confissão de culpa. Ainda que sem
jeito, os companheiros demonstrarão hoje nas ruas das principais capitais, inclusive
Brasília, seu desconforto diante da política de Joaquim Levy, ou seja, da
presidente Dilma.
O próprio Lula recomendou a participação nas
manifestações de rua, por sentir a impossibilidade ideológica do partido que
fundou deixar de insurgir-se contra a supressão de certos direitos
trabalhistas, como o salário-desemprego e as pensões das viúvas. Por certo que
seus conselhos também incluem sua candidatura presidencial em 2018, mesmo
contrariando a sucessora.
Também, porque Madame não convenceu o ministro da
Fazenda a buscar outros caminhos para tirar o país do buraco? Deu de ombros a
sugestões, inclusive do PT, para estabelecer o imposto sobre grandes fortunas e
o imposto sobre heranças. Mas aceitou, sem discutir, a criação de obstáculos
para os desempregados receberem uma ridícula meia-sola, ou as viúvas mais
jovens ficarem sem pensão para criar os filhos.
PARALELAS
As passeatas de hoje poderão não empolgar tanto
quanto a da próxima semana, de protesto diante da corrupção no governo, mas
constituem-se em paralelas capazes de se encontrar bem antes do infinito. Os
petistas sentem a falta de chão e preocupam-se com o futuro. Vem aí, no próximo
ano, as eleições para as prefeituras e câmaras de vereador em todo o país. Não
poderão saltar de banda, fingindo a inexistência da rejeição popular às medidas
recessivas e ao festival de corrupção encenado por muitos de seus
representantes.
Do mensalão ao petrolão, agora estendido para
outros setores de obras e serviços públicos, não há quem deixe de notar que a
roubalheira intensificou-se nos mandatos de Lula e Dilma. Haverá troco por
parte do eleitorado, fazendo prever, se não houver reação, a derrocada das
expectativas para 2018. Por tudo isso o PT estará incorporado a outras forças
adversárias do neoliberalismo. Realinham-se os companheiros.
MENSAGEM A GARCIA
Marco Aurélio Garcia foi o primeiro dos grandes
cardeais do PT a manifestar-se de público sobre a conveniência de João Vaccari
Neto deixar a função de tesoureiro do partido. Aliás, já devia ter deixado,
conforme o assessor especial da presidente Dilma. A dúvida é saber por que o
amargo conselho foi dado a poucos dias do depoimento de Vaccari na CPI da
Petrobras. Pelo jeito, como sugestão do Lula.