Para Blanchard, o governo precisa promover reformas que aumentem a produtividade e melhorar o ensino
Falta de confiança empresarial, risco de racionamento de
energia e escândalo na Petrobras fazem os técnicos do Fundo mudarem as
projeções para o Brasil. Em vez de crescer 0,3%, o PIB do país deve recuar 1%
em 2015. Foi a maior queda entre as economias analisadas
Além das dificuldades macroeconômicas, o Brasil tem um sério
problema de corrupção a travar o desenvolvimento do país, disse ontem o
economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard, ao
comentar as mais recentes projeções do organismo para a economia global. O
Fundo reconsiderou a estimativa feita em janeiro, que apontava alta de 0,3% do
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano e passou a apostar numa
retração de 1%. Foi o maior corte nas previsões entre as principais nações
avaliadas no relatório “Panorama Econômico Mundial”, divulgado trimestralmente
pela instituição.
A baixa
confiança do setor privado, o risco de racionamento de energia e a queda dos
investimentos em consequência do escândalo na Petrobras estão entre os motivos
do mau desempenho brasileiro, de acordo com a análise dos técnicos do FMI. Além
disso, o ajuste fiscal colocado em prática pelo governo e a elevação das taxas
de juros, embora sejam providências necessárias para restaurar o equilíbrio
econômico e permitir a volta do crescimento, têm, a curto prazo, efeitos recessivos
no nível de atividade.
Ao
comentar as avaliações do Fundo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, enfatizou
o única menção positiva ao país contida no relatório — o elogio das medidas que
estão sendo implementadas para corrigir as distorções do primeiro mandato da
presidente Dilma Rousseff. “Acho que chama a atenção a importância de a gente
concluir o mais rápido possível toda a programação de ajuste fiscal, exatamente
pela confiança necessária que trará para que possamos voltar a crescer”,
afirmou.
Para
Blanchard, fatores puramente econômicos não explicam totalmente o desempenho
negativo do país. “Claramente, o Brasil tem um problema além da questão
macroeconômica. Tem um problema de corrupção que esperamos seja resolvido. E há
várias reformas estruturais que são também necessárias”, disse. No estudo, o
FMI observa que o país precisa promover mudanças para aumentar a
competitividade e a produtividade das empresas, bem como melhorar o sistema de
educação.
O Fundo
também piorou sensivelmente a estimativa para a inflação brasileira em 2015. Em
janeiro, os técnicos da instituição acreditavam que o Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) teria alta de 5,9%, mas, agora, a previsão é bem mais
pessimista: 7,8%, bem acima do limite de tolerância, de 6,5%, estabelecido pelo
próprio governo.
Na lanterna
O
desempenho econômico ruim do Brasil, segundo o relatório, destoa do que é
observado no resto do mundo. Mesmo considerando que o PIB poderá voltar ao
terreno positivo em 2016, quando deverá crescer 1%, as previsões são bem piores
do que as do conjunto dos países emergentes. A Índia, por exemplo, deverá
avançar 7,5% neste ano, enquanto a China, que está em desaceleração, terá,
mesmo assim, um avanço de 6,8%. Somente a Rússia, que sofre com a queda do
petróleo no mercado mundial e enfrenta um bloqueio internacional por causa do
conflito com a Ucrânia, terá desempenho pior, uma forte recessão de 3,8%.
Na
América Latina, o Brasil só ficará à frente da Venezuela, que sofrerá um tombo
monumental, de 7%. Além do impacto da queda do petróleo, o país vive uma crise
política grave e a progressiva desorganização econômica provocada pelo
chavismo. A maioria das nações latino-americanas terá desempenho positivo, como
o México, que deve avançar 3%. Com o peso que tem na região, contudo, a
economia brasileira ajudará a conter o PIB da América Latina e do Caribe, que
crescerá apenas 0,9%.
Fonte: Correio Braziliense