A prisão do ex-deputado
André Vargas (ex-PT) na sexta-feira, na 11ª fase da Operação Lava-Jato da
Polícia Federal, batizada de A Origem (em razão do envolvimento de pessoas
investigadas desde o início da operação), gerou na cúpula do PT o temor de que
o petista aceite a proposta de “delação premiada” do Ministério Público Federal
e amplie ainda mais o rol de denúncias contra o partido. Vargas teve a prisão
decretada pelo juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba.
A nova
ação da Polícia Federal vai além do escândalo de corrupção na Petrobras e
investiga o pagamento de propinas em contratos publicitários da Caixa Econômica
Federal e do Ministério da Saúde, esquema no qual Vargas estaria supostamente
envolvido. O ex-deputado foi vice-presidente da Câmara e notabilizou-se ao
posar de punho cerrado ao lado do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF) Joaquim Barbosa, durante solenidade oficial na Casa. Foi um protesto
contra o julgamento do mensalão.
Sua
prisão abriu uma segunda frente de investigações sobre o envolvimento do PT no
esquema de lavagem de dinheiro montado pelo doleiro Alberto Yousseff. A outra
frente é a denúncia do ex-gerente da Petrobras e ex-presidente da Sete Brasil
Pedro Barusco, que acusa, em delação premiada, o tesoureiro do PT, João Vaccari
Neto, de ter recebido propina desviada da Petrobras e supostamente destinada às
campanhas eleitorais da legenda.
Segundo o
juiz Sérgio Moro, Vargas se envolveu em quatro esquemas de lavagem de dinheiro
e corrupção. Além do ex-deputado André Vargas e seu irmão Leon Vargas, também
está preso o publicitário Ricardo Hoffmann, ex-diretor da agência Borghi/Lowe.
Vargas teria indicado Clauir dos Santos para a gerência de Marketing da Caixa.
Com o aliado no cargo, supostamente teria emplacado a Borghi/Lowe na
instituição. O mesmo procedimento teria ocorrido no Ministério da Saúde, onde a
agência fechou contratos de R$ 113 milhões.
Vargas é
suspeito de ter recebido propina de outra empresa registrada em nome de Leon, a
IT7 Sistemas. Em 2013, ela recebeu cerca de R$ 50 milhões da Caixa em contratos
ligados à área de tecnologia. No total, são R$ 163 milhões em contratos
suspeitos com a Caixa e o Ministério da Saúde investigados nessa fase.
A IT7
também recebeu, entre 2010 e 2013, outros R$ 44,9 milhões de contratos com
outros órgãos, como o Ministério de Ciência e Tecnologia, o Exército, a Marinha
e o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Pelo menos duas grande
empresas doadoras de campanha também depositaram recursos nessas empresas: o
frigorífico JBS e a Ecovias Imigrantes.
Segundo a
Polícia Federal, Hoffmann supostamente repassava os chamados “bônus de volume”,
que correspondem a 10% dos contratos assinados, para a LSI Solução em Serviços
Empresariais e a Limiar Consultoria, ou seja, o bônus não voltava para
Borghi/Lowe, ia para as empresas do André e do Leon. Cinco produtoras também
pagaram a empresas dos irmãos Vargas: a Conspiração Filmes, a e-Noise, a Atakk
(cuja razão social é Luis Portela Produções Ltda.), a Sagaz e a Zulu Filmes.
O juiz
Sérgio Moro determinou a ampliação das investigações e autorizou a quebra de
seus sigilos fiscais e bancários das empresas diretamente envolvidas nos
repasses da agenda sem comprovação de execução de serviços.
Fragilidade
O
ex-deputado é o fraco na blindagem do PT, em razão do seu descontentamento com
o fato de ter o mandato cassado pela Câmara, por 359 votos, em dezembro
passado, com apoio maciço da bancada petista. Com isso, ele não poderá disputar
eleições até 2022, como determina a Lei da Ficha Limpa, mesmo que não seja
condenado pela Lava-Jato. O deputado José Airton (PT-CE) foi o único a votar
contra a cassação. Dalva Figueiredo (PT-AP), Beto Faro (PT-PA) e Sibá Machado
(PT-AC) se abstiveram.
Fonte: » Luiz Carlos Azedo
– Correio Braziliense – 13/04/2015