Agência de publicidade e
companhia de tecnologia - suspeitas de serem usadas para lavar dinheiro de
André Vargas - obtiveram maiores contratos com Caixa, Ministério da Saúde,
Serpro e BR Distribuidora
Exame no IML
Seis
presos na 11ª etapa da Operação Lava-Jato fizeram ontem exame de corpo de
delito no Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba. O procedimento é praxe em
caso de prisão. Passaram pelo exame André Vargas; e seu irmão Leon Vargas; o
ex-deputado Luiz Argôlo; e sua funcionária Elia Santos da Hora; Ivan Torres,
apontado como “laranja” do ex-deputado Pedro Corrêa; e Ricardo Hoffmann, ex-diretor
da Borghi/Lowe. Corrêa não passou pelo procedimento porque ainda será
transferido para a sede da Polícia Federal em Curitiba.
Empresas
relacionadas pelo Ministério Público ao ex-deputado federal André Vargas
(ex-PT-PR) obtiveram pelo menos R$ 218 milhões em contratos com órgãos federais
nos últimos cinco anos, segundo levantamento do Correio. Nesse período, a Caixa
Econômica Federal e o Serviço Federal de Processamentos de Dados (Serpro)
fizeram os maiores repasses. Vargas, ex-secretário de comunicação do PT, foi
preso na sexta-feira, na 11ª fase da Operação Lava-Jato.
A empresa
de tecnologia da informação IT7 Sistemas e a agência de publicidade Borghi/Lowe
foram usadas, de acordo com a Polícia Federal e o MP, para injetar dinheiro em
contas bancárias ligadas a André Vargas. As investigações apontam que a
Borghi/Lowe repassou 10% de valores recebidos em contratos com a Caixa e o
Ministério da Saúde para empresas de fachada controladas por Vargas e seu irmão
Leon Vargas, também preso na sexta-feira.
No caso
da IT7, R$ 2,3 milhões em notas frias foram emitidos para a contadora Meire
Poza. Ela disse que o dinheiro chegou às mãos dos irmãos Vargas. De acordo com
relatório da Receita Federal, os principais clientes da IT7 incluem órgãos
públicos e estatais, “destacando a Caixa Econômica Federal e o Serviço Federal
de Processamento de Dados, além de Celepar, CCEE, TJ-DF, Sefaz/PR e Companhia
de Eletricidade do Acre”. Em 2013, a receita da empresa foi de R$ 77 milhões,
sendo R$ 50 milhões apenas da Caixa. No Serpro, ela obteve praticamente o mesmo
valor, R$ 52 milhões, mas entre 2010 e 2015.
Já a
Borghi recebeu R$ 112,8 milhões do Ministério da Saúde. Também fechou em 2013
um contrato de R$ 80 milhões da BR Distribuidora, da Petrobras. Esse valor não
entrou no cálculo do levantamento do Correio porque a verba é dividida entre a
Borghi e outra agência de publicidade.
Ligações
À frente
da diretoria de marketing da Caixa, responsável por contratos de publicidade,
está Clauir dos Santos. A reportagem apurou que, do seu gabinete na Câmara,
Vargas fazia ligações frequentes para Clauir, na Caixa. O Ministério Público
destacou notícias sobre a indicação do diretor ao cargo feita pelo ex-deputado.
“Nesse caso, haveria indícios do crime antecedente contra a administração
pública, tendo em conta a própria atuação de André Vargas como deputado
federal, cassado por quebra de decoro parlamentar pela suspeita de
favorecimento pessoal na sua ligação com Alberto Youssef”, escreveram os nove
procuradores da força-tarefa do MPF em parecer à Justiça.
Já o
Serpro tem o petista Marcos Mazoni como diretor-presidente desde 2007. A
empresa, vinculada ao Ministério da Fazenda, já desembolsou R$ 52,6 milhões à
IT7 Sistemas. Um dos contratos é investigado pelo MP por indícios de irregularidades
na aquisição de produtos da multinacional Oracle, ausência de publicidade das
atas de reunião e, ainda, perseguição a servidor da casa.
O
diretor-presidente do Serpro comandou, entre 2003 e 2007, a empresa estadual de
informática do estado (Celepar), que também pagou R$ 2,3 milhões à IT7 entre
2006 e 2010. Em nota, o Serpro afirma que Mazoni não tem nenhum relacionamento
com Vargas e foi convidado para trabalhar na empresa pelo então secretário
executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Machado.
Sobre o
contrato investigado pelo MPF, a empresa diz que comissão interna e a
Controladoria-Geral da União (CGU) não encontraram irregularidades. O
diretor-presidente diz que só tem relações profissionais com a empresa. “Marcos
Mazoni já se reuniu com dirigentes da IT7 na função de presidente da Celepar,
no Paraná, e do Serpro, em Brasília, apenas para tratar da relação comercial e
somente após o contrato ter sido formalmente estabelecido”, diz a nota.
Procurada,
a assessoria da Caixa não esclareceu ao jornal os valores totais dos contratos
com a IT7 e a Borghi. A reportagem enviou mensagem de correio eletrônico para a
empresa, mas não obteve resposta. Os telefones da firma não atenderam ontem. A
Borghi disse que colabora com as investigação sobre o “ex-funcionário” Hoffman.
O advogado do ex-deputado preso, João Gomes Santos Filho, disse que trabalhava
no habeas corpus para soltar seu cliente e não poderia atender à reportagem.
R$ 2,3 milhões
Em
notas frias foram emitidos pela IT7 para a contadora Meire Poza, que trabalhou
com o doleiro Alberto Youssef
Fonte: Eduardo Militão –
Amanda Almeida – Correio Braziliense – 12/05/2015