Por: Maria Clara Prates - Correio Braziliense
Na onda do combate à corrupção e do sucesso
da Operação Lava-Jato, delegados da Polícia Federal se mobilizam para tentar
aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 412, que prevê a autonomia
administrativa e financeira da corporação, hoje vinculada ao Ministério da
Justiça. E os federais já puseram o bloco na rua, iniciando um corpo a corpo
com os deputados para aprovar o texto, que tramita na Casa desde 2009, sem
despertar interesse até agora. Para chamar a atenção, está marcada para terça e
quarta-feira uma mobilização da categoria em Brasília, além de visita ao
Congresso e ainda uma campanha na internet, rádio e televisão. Além disso,
disponibilizaram uma petição pública na internet para colher assinatura dos
cidadãos.
Desde
que a Polícia Federal deu início à Operação Lava-Jato, para apurar desvio
bilionário de recursos da Petrobras, a presidente Dilma Rousseff — que teve sua
popularidade atingida em cheio pelo resultado das investigações — diz que
concedeu total liberdade à corporação para apurar a corrupção na estatal.
No
entanto, sob a batuta do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, responsável
pela indicação do diretor-geral da corporação, a PF já enfrentou pelo menos uma
saia justa. Em fevereiro, Cardozo recebeu em audiência advogados de
empreiteiras investigadas na Lava-Jato. O episódio constrangeu os policiais
envolvidos diretamente na operação e ainda foi reprovado pelo juiz Sérgio Moro,
presidente do processo.
AUTONOMIA
Dentro
desse cenário, favorável à independência, é que a PF está se organizando. Em
setembro, os delegados federais fizeram sua primeira investida pela autonomia
ao apresentar uma lista tríplice com indicação de nomes mais votados pela
categoria para ocupar o cargo de diretor-geral da Polícia Federal, depois de um
longo processo de eleição.
A
proposta naufragou com a reeleição de Dilma e a manutenção de José Eduardo
Cardozo no Ministério da Justiça, que, por sua vez, manteve o diretor Leandro
Daiello Coimbra na condução da corporação.
De
acordo com o presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF),
Marcos Leôncio Ribeiro, o processo de autonomia da PF não somente dá maior
independência ao órgão, como acaba com eventuais suspeitas sobre o processo de
investigação da PF. “É uma pauta interessante até para o governo acabar com
qualquer dúvida sobre o trabalho da Polícia Federal”, disse Marcos Leôncio.