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POLíTICA » A outra mansão de Rollemberg

Em fevereiro, o atual chefe do Executivo usou a casa para uma reunião com os secretários do governo e também optou por despachar no local

O governador do DF mudou de ideia e, como os antecessores, resolveu usar a residência de Águas Claras para eventos oficiais. O local vai até ganhar uma horta de produtos orgânicos

A residência oficial de Águas Claras vai ganhar, em breve, uma grande horta de produtos orgânicos. A novidade é um dos primeiros toques pessoais do governador Rodrigo Rollemberg, que faz reuniões e despacha no local várias vezes por semana. Apesar de ter declarado que não usaria o espaço, o chefe do Executivo mudou de ideia e, agora, recebe secretários, administradores regionais e integrantes de conselhos no local. Em três meses, o GDF já liquidou uma fatura de R$ 192 milhões, com despesas de alimentação e manutenção da residência oficial. 

A casa foi erguida na época da construção de Brasília, juntamente de outras granjas idealizadas para abrigar autoridades, como a do Torto. Como não havia as cidades vizinhas, entre elas Vicente Pires e Águas Claras, a casa era um local ermo e isolado. Governadores indicados pelo Palácio do Planalto, como José Aparecido, e todos os eleitos após 1990 usaram o espaço.

Roriz usava o ambiente para reuniões e também aproveitava a sauna


Joaquim Roriz morou em Águas Claras somente no primeiro governo, mas usou a residência oficial em todas as outras gestões, para reuniões e despachos. Roriz praticamente não ia ao Buriti e recorria ao palácio somente para receber autoridades ou em solenidades oficiais. O ex-governador tinha o hábito de promover várias reuniões simultâneas em diferentes salas da residência oficial de Águas Claras e circulava entre elas. Em uma ocasião, o então chefe do Executivo chegou a comandar quatro reuniões ao mesmo tempo no local. No último governo, ele chegava por volta das 9h e, depois, almoçava com secretários e assessores. Quando morava na residência, o ex-governador gostava de fazer caminhadas e sauna nas horas vagas.

Roriz enfrentou uma grande tragédia pessoal na residência oficial de Águas Claras. Durante uma solenidade de reinauguração do espaço, em 1º de janeiro de 2000, a irmã mais nova do ex-governador, Iris Luzia Solano, saiu de helicóptero no meio da celebração para buscar a imagem de uma santa. Quando a aeronave pousou na casa de Roriz, no Park Way, Iris foi atingida pela hélice e morreu. Roriz estava na residência oficial quando recebeu a notícia.


Nas horas vagas, Rogério Rosso tocava o piano que levou para a residência


O atual senador Cristovam Buarque (PDT), que comandou o Buriti entre 1994 e 1998, se mudou para a residência oficial. Inicialmente, o então petista estava determinado a permanecer no apartamento dele, na Asa Norte. “Mas eu vi que seria inviável. Um governador nunca toma café, almoça ou janta sozinho, há sempre pelo menos 20 pessoas em volta. Percebi que seria impossível ficar na minha casa e, hoje, vejo que foi uma decisão acertada a mudança para a casa de Águas Claras”, relembra Cristovam. “Fiquei lá quatro anos, mas nunca usei a piscina ou a academia de ginástica. Para mim, era uma repartição pública, um escritório, e não uma casa”, acrescenta o senador, que recebia secretários, presidentes de partidos e líderes sindicais no espaço.

Hóspedes
A residência oficial tem 20 mil metros quadrados e fica ao lado do Parque de Águas Claras. O espaço conta com uma capela, heliponto, piscina, campo de futebol, quadra de tênis, salão de festa e estúdio musical. A área de hóspedes tem três quartos, sala para dois ambientes, dois banheiros e cozinha. A casa principal tem três quartos, sala ampla e seis banheiros. A residência também conta com uma grande cozinha industrial, de onde saem os banquetes servidos a autoridades.

O ex-governador José Roberto Arruda também não se mudou para Águas Claras, mas usava o espaço para a maioria das reuniões. No início de sua gestão, em 2008, Arruda transferiu boa parte da estrutura administrativa para um antigo quartel da Polícia Militar em Taguatinga, que foi reformado para receber o primeiro escalão. O local, batizado de Buritinga, fez sucesso nos primeiros meses de gestão, mas, logo depois, o governador transferiu o centro das decisões para a residência oficial e mandou construir um salão de festas no local.

Após a cassação de Arruda, Rogério Rosso assumiu o Executivo e também deu toques pessoais à casa de Águas Claras. Apesar de ter permanecido com a família na residência dele, no Lago Sul, onde também fazia reuniões, boa parte dos encontros oficiais ocorria na propriedade do GDF. Rosso chegou a levar para o local um piano, que usava nas horas vagas para espairecer.

Agnelo Queiroz (PT) morou na propriedade do GDF e foi o primeiro governador a se mudar oficialmente para Águas Claras em 16 anos. Apaixonado por corridas, o petista se exercitava na propriedade e na área do parque vizinho. Ele também personalizou o espaço com pinturas a óleo de sua autoria — um de seus hobbies. A passagem de Agnelo pela residência, entretanto, ficou marcada pelos altos gastos com manutenção: durante os quatro anos de governo, R$ 3,9 milhões saíram dos cofres públicos para arcar com o funcionamento da estrutura.

A meta do governo Rollemberg é reduzir de forma expressiva o custo de uso do espaço. O secretário-chefe da Casa Civil, Hélio Doyle, explica que o governador optou por despachar no local porque a residência dispõe de uma excelente infraestrutura. “A casa tem uma sala de reuniões com padrão ONU (Organização das Nações Unidas), quartos de hóspedes e, mesmo que o espaço ficasse sem uso, o governo teria um grande gasto de manutenção. Por isso, o governador decidiu usar a residência oficial para fazer algumas reuniões”, explica.

Segundo ele, o contrato firmado por Agnelo para a compra de produtos alimentícios no ano passado, no total de R$ 1,4 milhão, teve uma sobra de R$ 174 mil. “Pegamos o valor que sobrou do contrato e empenhamos. Esse valor deve ser suficiente para arcar com todos os custos de alimentação até o fim do ano”, garante o secretário. Rollemberg prefere despachar do Palácio do Buriti, mas já promoveu encontros importantes em Águas Claras, como a primeira reunião do Conselho de Planejamento Urbano. Ele dorme na casa oficial quando tem compromissos oficiais até muito tarde, especialmente às sextas-feiras.


Por: Helena Mader – Correio Braziliense – 16/04/2015

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