Na próxima visita que a senhora Dilma Rousseff
fará aos EUA, quem estará pisando em solo americano será uma presidente da
República do Brasil enfraquecida internamente, não só perante os antigos
aliados políticos, mas, sobretudo, diante do povo nas ruas que perdeu o medo de
pedir sua destituição. Ainda assim, ante os claros infortúnios que batem à
porta, a presidente não parece ter se reconciliado com a razão e a modéstia. Ao
contrário, já mandou avisar que a visita ao irmão do Norte será apenas de
trabalho e não de Estado.
A
diferença, nos meios diplomáticos, é significativa. Visita de Estado pressupõe
que existe relação amistosa e cordial entre dois países. Na visita de trabalho,
são tratados assuntos obrigatoriamente da agenda entre dois países que, no máximo,
se respeitam. Persiste assim a confusão entre os interesses de Estado e os de
partido. A velha arenga de seu partido contra os EUA, além de tolice ideológica
que não se sustenta, deveria ser deixada lá atrás, nos anos 1960, quando o
mundo vivia o clima da Guerra Fria e da bipolaridade entre capitalismo e
comunismo.
Não
houvesse o governo, nos últimos 12 anos, levado a cabo desmonte sistemático do
Itamaraty, nossos diplomatas poderiam orientar corretamente a presidente,
fazendo-a enxergar a oportunidade para o Brasil de reaproximação com a América
do Norte. Lembrando ainda que a maior estatal do país (Petrobras) está sendo
alvo de ação conjunta na Justiça americana, justamente pelos repetidos casos de
corrupção que varrem o governo. A presidente Dilma poderia aproveitar o
encontro com o colega para, em nome da nação, rever os empedernidos conceitos
e, quem sabe, se afastar das más companhias que têm feito do governo o mais mal
avaliado da história.
(*adjetivo
dado à presidente Dilma pelo editorial do NYT)
Fonte: Coluna "Visto, lido e ouvido" Ari Cunha com Circe Cunha - Correio Braziliense - 07/04/2015